“Pensar o Treino”
é uma crónica dentro da temática dos Guarda-Redes idealizada e focada
essencialmente em debater questões relativas ao treino de Guarda-Redes.
Neste primeiro
texto quero começar por uma questão que surgiu de uma simples conversa de
balneário entre a Equipa Técnica. Uma conversa que me fez pensar e reflectir,
transportando essa situação para o caso específico do treino de Guarda-Redes (a
reflexão faz parte da constante evolução do Treinador).
A questão que
se colocava tinha a ver essencialmente com o uso de exercícios rotineiros
(dentro da mesma base) ou do uso de exercícios novos (num contexto de equipa).
A primeira coisa que me veio à mente foi um equilíbrio entre ambos. Mas acho
que estava errado. Principalmente em contextos inferiores, o uso de exercícios
novos, semana após semana, pode originar uma perda de identidade relativa ao
trabalho desenvolvido. Além disso, estar constantemente a introduzir um nível
elevado de complexidade no treino, semana após semana, obrigará a uma constante
(re)adaptação a novos exercícios, originando constantemente novos
comportamentos, o que nem sempre vai ao encontro do rendimento do treino e dos
atletas, ou seja, mais acaba por ser menos.
O treino não é
o exercício, mas sim o transfer que isso tem para o jogo. Treinar o jogo em vez
de treinar o exercício. Colocam-se aqui questões de adaptação ao exercício e
consequentemente mudança de comportamentos (que possam não ser os inicialmente
pretendidos), o que, a longo prazo, leva à questão acima enunciada.
No caso
específico do treino de Guarda-Redes, e a meu ver, é importante nunca esquecer
que trabalhamos para o jogo e devemos ao máximo trazer situações do jogo para o
treino (criar soluções, corrigir erros, dar reportório de situações, etc.). Mas
convém não esquecer que a complexidade e a imprevisibilidade do jogo são
enormes, nem tudo pode ser trabalhado em treino. Chegando ao cerne da questão,
a medida que devemos ter em conta é o jogo e o Guarda-Redes, é perceber quando
devemos complexificar ou quando devemos simplificar e dar confiança ao Guarda-Redes.
A riqueza do
treino está na maior diversidade de estímulos que possamos dar aos nossos
Guarda-Redes, e aqui, sou totalmente apologista da existência de exercícios
dentro da mesma base metodológica, mas tentando sempre criar novos estímulos.
Tomemos por exemplo o aquecimento: porque ser sempre a mobilização articular só
por si e não articular isso de outras formas, com bola, intercalado com algum
jogo, etc.
Concluindo, a
repetição de exercícios pode ser benéfica, mas no caso específico dos Guarda-Redes
facilmente se cria adaptação ao exercício, deixando de existir um estímulo
diversificado, mais ainda quando falamos de exercícios mais fechados e
analíticos. Inovar é importante na diversificação dos estímulos e até mesmo na
diversificação de abordagem que possamos dar ao nosso Guarda-Redes sobre
determinado contexto.
As questões
essenciais são o jogo e o Guarda-Redes, é neles que tem de estar todo o nosso
foco. Este equilíbrio entre repetir exercícios e inovar tem de ser alvo de uma avaliação
constante, percebendo-se quando devemos diversificar ou quando nos devemos
cingir ao básico.
Miguel Menezes
0 Comentários