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O Sofá do Treinador - Liderança e Influências


          Os Treinadores italianos estão na moda e de que maneira! Conte lidera a Premier League revitalizando um Chelsea que o ano passado terminou a meio da tabela, Allegri domina em Itália e está a dois jogos de levar a Vecchia Signora a nova final da Liga dos Campeões, Ancelotti lidera a equipa mais poderosa da Liga Alemã…ousei dizer lidera, porque quem lidera é o Treinador, certo? Mas será necessário ter ousadia, coragem para aplicar tal terminologia aquando da Liderança de um grupo de trabalho? Aparentemente é.
         Foi com um elevado grau de curiosidade, alimentado por um certo espanto (cada vez menos) que li as declarações de Carlo Ancelotti no seu novo livro “ Liderazgo tranquila: ganando corazones, mentes y partidos”, onde explica a sua saída do Real Madrid, apontando duas razões como factores motivadores para que tal acontecesse: a primeira, uma tal estatística lançada pela UEFA que referenciava o Real Madrid como a equipa que menos treinava, em termos de horas de treino e não a eficiência dessas mesmas horas, quando comparado com outros clubes europeus. Todo o planeamento, quer da semana, como do mês ou do ano de treinos, usualmente intitulados como microciclos, mesociclos e macrociclos deverão ser delineados pelo Treinador e sua Equipa Técnica e nunca susceptíveis a mudanças pela Direcção ou Estrutura. Requisitar uma mudança no Planeamento de Treinos de um Treinador tricampeão europeu baseado numa estatística é surreal. Mas foi bem real.
         A segunda razão prendeu-se com uma substituição de Gareth Bale, que motivou uma ligação do seu empresário a Florentino Pérez, que provocou uma conversa com o Treinador Ancelotti com vista a uma reacção… que não aconteceu. Treinador que não cede a pressão de terceiros na hora de escolher, fantástico! Mas, segundo Ancelotti, o clima nunca mais foi o mesmo.
           Este tipo de contrariedades impostas por terceiros só prejudica o trabalho dos Treinadores. E aconteceu com um dos melhores Treinadores do mundo, no maior clube do mundo. Imagine-se nos meandros do Futebol Distrital e semi-profissional. Estes terceiros, para lá de não terem a mesma informação do Treinador (estado anímico dos atletas, observação da equipa adversária, rendimento grupal e individual nos treinos, sistemas e dinâmicas trabalhadas ao longo da semana) tão pouco conhecem ao pormenor o grupo. É trabalho do Treinador. Depois há sempre aquela velha máxima: uma Direcção escolhe um Treinador para depois se meter no trabalho dele? Haja paciência…
           De resto, podemos atentar no poder dos empresários nas escolhas dos Treinadores. Basta olhar para a nossa Primeira Liga. Os Treinadores que estão constantemente no activo em Portugal, sempre com os mesmos resultados e os clubes por onde passam, havendo quase porta fechada para Treinadores com novas mentalidades e novas ideias. Não esquecer que o mundo do Futebol movimenta muito dinheiro. Nós é que somos os tolinhos que olhamos para ele como um espetáculo. Prefiro ser tolinho.
           Ainda assim, e tal como o titulo do artigo indica, “ O sofá do Treinador “ terá de ser dos mais confortáveis de todos. E aqui sofá como metáfora do tal ombro para chorar, porque se Ancelotti aponta a substituição de um dos seus 25/26 jogadores do plantel e uma estatística da UEFA como grandes factores da destruição do bom ambiente entre Treinador e Estrutura imagine-se o que para aí não vai.
       Treinador é líder, estratega, pai, psicólogo e muitas vezes guerreiro. Psicólogo dos seus jogadores, mas também de si. Guerreiro porque tem de enfrentar batalhas que em nada facilitam o seu trabalho, quando o seu trabalho deveria ser meramente técnico… a procura da solução certa para tal problema. Num mundo perfeito teria sido para isto que foi escolhido.
         “ É preciso um verdadeiro líder para ter êxito no futebol “ (José Mourinho)

                                                                                     Pedro Cardoso




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