Todos nós,
enquanto adeptos de Futebol, já ouvimos alguém dizer que há Treinadores que
adaptam o seu Modelo de Jogo aos jogadores que têm à sua disposição e que há
Treinadores que procuram os jogadores certos para o seu Modelo de Jogo. Se os
primeiros parecem revelar alguma adaptabilidade aos meios que podem (ou não)
vir a encontrar nas mais diversas realidades futebolísticas (amadoras ou
profissionais), os segundos parecem crer convictamente e de forma inabalável
nas suas Ideias, nos seus Princípios, enfim, no seu Modelo de Jogo.
Tendo em conta
este binómio “Flexibilidade – Convicções Fortes”, existem pelo menos cinco
questões que, de forma amiúde e pelo que me é dado a conhecer, surgem no
pensamento de muitos Treinadores:
1 – Qual
destas opções permite um melhor aproveitamento dos jogadores que compõem um
plantel?
2 – Qual
destas opções oferece mais e melhores condições de Sucesso?
3 – Estará o
factor “Liderança” relacionado com estas formas de gestão do plantel?
4 – Até que
ponto pode a “Liderança” ser condicionada pelo binómio “Flexibilidade –
Convicções Fortes?”
5 – O Modelo
de Jogo resume-se apenas às Ideias e Princípios idealizadas pelo Treinador?
Antes de
tentar responder a estas questões, julgo ser importante olharmos para alguns
exemplos de Treinadores que podem ser “classificados” como sendo “Flexíveis” ou
“Convictamente Fortes” quanto ao Modelo de Jogo.
Jorge Jesus,
“O Cérebro”. O cognome é, por si só, revelador do perfil do actual Treinador do
SCP. Estamos perante um Treinador cujas convicções fortes o levam a afirmar,
sem qualquer tipo de constrangimento, que a ele interessam apenas jogadores que
possam desempenhar funções e tarefas técnico-tácticas dentro do seu Modelo de
Jogo. Ou seja, Jorge Jesus procura apenas jogadores que, no seu entender,
possuem características que lhes permitam aprender/assimilar as Ideias e os
Princípios preconizados na sua forma de jogar.
Inflexível no
que diz respeito às suas ideias, ao ponto de dizer que Francisco Geraldes está
mais próximo de ser um Ala ou um Segundo Avançado do que um médio centro puro
(vulgo “8”, em linguagem futebolística), inflexível ao ponto de querer
“transformar” Bruno César num Lateral Esquerdo quando dispõe de duas opções de
origem para aquela posição (para não falar das opções que possam vir da Equipa
B), inflexível ao ponto de ter experimentado inúmeras soluções para o flanco
esquerdo defensivo da anterior equipa por si orientada (Coentrão, Melgarejo,
Capdevilla, Emerson, Bruno Cortez, Siqueira, etc), Jorge Jesus não parece ser
um Treinador capaz de redefinir os seus caminhos. Tem um Modelo de Jogo extremamente
bem definido, tem um Sistema Táctico preferencial (1x4x1x3x2) para o desempenho
desse mesmo Modelo de Jogo (para não dizer um único Sistema Táctico) e não muda
nem altera nada.
Neste lote de
Treinadores “Convictamente Fortes”, podemos ainda elencar mais um ou dois
exemplos que passaram por Portugal ou ainda se encontram ao serviço do Futebol
Português. Quem não se lembra de Julen Lopetegui e o seu reinado de ano e meio
ao serviço do FCP? Modelo de Jogo extremamente vincado, com Ideias e Princípios
extremamente bem definidos, um Sistema Táctico único (1x4x3x3) e raros foram os
desvios técnico-tácticos comportamentais verificados na equipa ao longo dos
cerca de 18 meses de comando técnico do actual Seleccionador Espanhol. Num
plano mais actual, temos Jorge Simão, actual Treinador bracarense, que
transitou de Chaves para a Cidade dos Arcebispos e trouxe de Trás-os-Montes não
só jogadores, como também o mesmo Modelo de Jogo. Com os resultados que todos
conhecemos…
Julian
Nagelsmann. Provavelmente o “Treinador-Sensação” na Alemanha, na Europa e em
todo o Mundo. São 29 anos de uma inteligência emocional acima da média, de um
conhecimento humano apurado e de uma flexibilidade táctica assinalável. Tão
assinalável que, nos primeiros 11 jogos da Bundesliga 2016/2017, o Hoffenheim
utilizou três sistemas tácticos diferentes: 1x4x3x3, 1x4x4x2 e 1x3x5x2. Isso
significa que existe um Modelo de Jogo para cada uma destas opções tácticas?
Não. O Modelo de Jogo é o mesmo. As mesmas Ideias, os mesmos Princípios, os
mesmos objectivos. Admito que alguns comportamentos técnico-tácticos tenham
sido diferentes, mas isso terá mais a ver com as tarefas inerentes aos
posicionamentos técnico-tácticos do que com uma qualquer alteração no Modelo de
Jogo.
Ainda pela
Alemanha encontramos um dos mentores de Nagelsmann: Thomas Tuchel, o mago
táctico de Dortmund. Depois de uma época de estreia em que tacticamente variou
entre o 1x4x3x3, o 1x4x2x3x1 e até mesmo o 1x3x2x4x1, este ano já foi possível
ver o Borussia Dortmund a jogar em 1x4x3x3, 1x4x1x4x1, 1x4x4x2 e 1x3x4x3.
Modelo de Jogo distinto para cada um destes sistemas tácticos? Claro que não.
Apenas diferente disposição táctica em campo. Tal como no caso do Hoffenheim,
as Ideias, os Princípios e os objectivos não variam nem se alteram consoante a
opção táctica.
Para concluir
o lote de Treinadores “Flexíveis” quanto ao Modelo de Jogo, um exemplo vindo do
Calcio – Maximiliano Allegri. O antigo técnico do AC Milan e actual líder da
Juventus herdou uma equipa habituada ao 1x3x5x2 de Antonio Conte, mas isso não o
inibiu. De todo. Manteve a aposta nesse mesmo sistema, mas adoptou-o ao seu
Modelo de Jogo. E desde então tem variado entre o 1x3x5x2, o 1x4x4x2 e o
1x4x2x3x1, tanto em Itália, como em jogos da Liga dos Campeões. O mesmo Modelo de
Jogo, diferentes opções tácticas para a sua operacionalização.
E as questões
colocadas no início deste artigo? Não, não foram esquecidas. Mas gostaria de
saber a vossa opinião em relação às mesmas. Por uma questão de interactividade
com os leitores e porque julgo ser importante promover o diálogo e a troca de
ideias entre todos. Aceitam o desafio? Aqui ficam as perguntas:
1 – Qual
destas opções permite um melhor aproveitamento dos jogadores que compõem um
plantel?
2 – Qual
destas opções oferece mais e melhores condições de Sucesso?
3 – Estará o
factor “Liderança” relacionado com estas formas de gestão do plantel?
4 – Até que
ponto pode a “Liderança” ser condicionada pelo binómio “Flexibilidade –
Convicções Fortes?”
5 – O Modelo
de Jogo resume-se apenas às Ideias e Princípios idealizadas pelo Treinador?
(PS – Convém,
entretanto, dizer que estes Treinadores “Flexíveis” quanto ao Modelo de Jogo
são tão ou mais convictos do que os “Convictamente Fortes” quanto ao Modelo de
Jogo. Não existem Treinadores Profissionais sem convicção. Todos eles estão
certos e seguros dos passos que dão e das opções que tomam. Este binómio “Flexibilidade
– Convicção Forte” surgiu apenas como forma de distinção entre dois tipos de
postura existente quanto à operacionalização daquilo que é o Modelo de Jogo de
cada Treinador.)
Laurindo Filho
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