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Agressões na Arbitragem – Credibilidade e Qualidade?


Ponto prévio: - Qualquer tipo de agressão, seja a um árbitro ou a qualquer outro elemento de um jogo, é simplesmente condenável e nem é nem será esse o objeto de escrita do presente artigo. Serve o mesmo para alertar o lado “b” desta infeliz realidade que é o Mundo Distrital que muitos dos leitores vivem e presenciam.
          Tem sido por de mais evidente e com maior expressão no decorrer desta época, a quantidade de casos associados a tentativas de agressão e, efectivamente, agressões a equipas de arbitragem. Actos de facto condenáveis e que em nada simbolizam as normas de Fair-Play da FIFA, nem que dignificam aquilo que se pretende para o futebol português e para uma País actualmente Campeão da Europa em título.
         Mas, e mais do que olhar para os factos conhecidos e fáceis de condenar, existem factores que são difíceis de negar e que possivelmente levam a que, caso não sejam melhorados, assistamos a casos de agressões com cada vez maior frequência.
         “Futebol Por Todos – Futebol Para Todos”? Dizem eles… Servem as regras do Fair-Play para criar harmonia e bom ambiente entre todos os intervenientes do jogo. Será então possível de imaginar, um treinador sem sentimentos e que não defenda a sua equipa ao máximo? Todos erramos, é certo, mas será fácil de lidar com expulsões ou faltas de educação por equipas de arbitragem, pelo simples facto de uma maneira educada reclamar uma falta ou dialogar com o árbitro no final sobre questões do jogo? Bem, como já ouvi por parte de um árbitro esta época “Vocês vêem demasiada televisão. Pensam que são o Jorge Jesus e que podem falar o que querem”. Bem, na prática gesticular em demasia como esse conceituado treinador, eu ainda poderia aceitar como falta de Fair-Play. Agora, ser educado e respeitar um interveniente do jogo e ser constantemente mandado calar, pois na próxima o treinador será expulso por não concordar com uma decisão e tentar perceber a decisão do árbitro?
           Por ventura, a grande maioria dos nossos leitores não terão noção, mas imaginam a quantidade de jogos que não são supervisionados por observadores de árbitros? O treinador e o jogador são constantemente observados por elementos afectos ao clube, então e a equipa de arbitragem? De facto, torna-se então previsível o número de situações em que o árbitro erra e farta-se de errar e em que não terá, pelo menos, correcção por parte da entidade empregadora. Não terá sequer qualquer reprimenda quando falta à educação aos outros intervenientes do jogo com demasiadas palavras que não poderão ser aqui transcritas. Onde ficará a Credibilidade no meio disto? É esta a harmonia que querem criar entre equipas?
          Será então normal que na realidade amadora, um árbitro que ainda está em formação apite jogos de equipas que estão a lutar por um apuramento para uma realidade nacional? Qual o sentido disto? Não poderei defender uma entidade que coloca pessoas que pretendem ser árbitros e que nem nas provas físicas conseguem passar com distinção e conseguem trabalho na mesma. Existe falta de árbitros? Sim. E a solução passa por formá-los de qualquer maneira? Não! Se não há critério como poderá existir Qualidade? Como podem esses formandos ser lançados às feras sem qualquer tipo de observação? Vão aprender com o próprio erro ou vão errar cada vez mais? Então um treinador tem de se submeter a um ano de estágio para obter com distinção o curso e depois é só fazer uns quantos testes e está-se pronto para arbitrar? Qual vai ser o critério de subida para os nacionais por parte dos árbitros? Qualidade? Como poderão saber se não há um observador a acompanhar os erros sucessivos que um árbitro conhece? Imaginem o que não chegará ao futebol nacional…


              Como pode uma entidade reguladora permitir que um jogo de futebol com a regra de fora-de-jogo já permitida em determinado escalão, se realize com apenas um árbitro? É desleal para qualquer árbitro e depois claro que surgem aquelas respostas: “Sou só um, achas que consigo ver?”, claro que não consegue ver! Mas as regras estão lá para ser cumpridas com o máximo de rigor. Credibilidade? Não é uma decisão destas, passível de fomentar a frustração entre os jovens atletas e que a longo prazo irá trazer graves consequências no convívio entre atletas/treinadores/dirigentes/adeptos e as equipas de arbitragem?
            Pior que tudo isto é que além de ter de se lidar com este tipo de situações, o treinador ou dirigente que queira consultar um relatório sobre a sua expulsão, daquele árbitro que não é supervisionado (salvo raras excepções), terá de pagar 200€ ou mais. Credibilidade? É fácil de imaginar que em grande parte, os treinadores ou dirigentes dos clubes pagarão a multa e cumprirão um castigo, pois fica mais barato para a realidade em que estão inseridos.
          É fácil pensar que a solução passará por mais policiamento nos jogos, mas será que já pensaram que com situações de policiamento com preços de 300/400€ num jogo de séniores se torna incomportável para uma realidade tão amadora quanto a que temos pelo País fora? Os preços praticados não se ajustam à realidade e só irão contribuir para o desaparecimento de ainda mais equipas.
  Será que é essa a medida mais urgente que se urge em praticar? Não seria necessário contribuir com critérios bem definidos na selecção de elementos para os quadros da arbitragem? Não será urgente tomar medidas que ajudem os formandos a construir a sua formação de forma leal, com todos os apoios que necessitem? Não iria isso melhorar a qualidade nas arbitragens? Não seriam necessárias mudanças nestes e noutros pontos que eventualmente não estão aqui focados neste artigo, para poder contribuir para uma maior credibilidade junto dos agentes do futebol e de todo o adepto?
             É de condenar qualquer acto violento contra uma equipa técnica, mas deveríamos olhar mais para o próprio umbigo e perceber onde estão os erros. Não se pode assobiar para o lado, saber da vergonha que se vai passando pela distrital fora e nada se fazer. Quando quiserem apanhar o comboio já a viagem vai a meio… 

Ricardo Carvalho

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