Desde cedo que
somos levados a ter uma mentalidade vencedora perante a vida. Traçar objectivos
e trabalhar para os atingir. Não dar nada como adquirido porque a vida é de
quem luta por ela, de quem a agarra. Como é que esta mentalidade se pode
transportar para o Futebol, mais concretamente, para a temática introduzida
pelo título do artigo, que será aqui abordada? Vejamos…
Como todos
sabemos, o jogo de futebol inicia-se com um 0-0 no marcador. Não pretendia dar
nenhuma novidade em relação a este facto. Podemos é concluir que o 0-0 não é
fruto de nenhum triunfo ou conquista, nem ninguém tem de suar para o atingir.
Digamos que o nulo é uma condição inerente e irrevogável do jogo. Partindo para
outra constatação do óbvio, o 0-0 atribui, às equipas que estão em confronto,
um ponto na classificação. Entendo todo e qualquer ponto atribuído a uma equipa
como o prémio dado atendendo ao que demonstrou em campo. Então, dado que o 0-0
é considerado empate, igualdade entre as equipas não materializada em golos,
poderemos assumir que premiar as equipas por um resultado final de 0-0 é
premiá-las por algo inerente ao jogo e passível de ser conquistado? Na minha
opinião sim, estando o Futebol perante um cenário anti espectáculo.
Todas as novas
ideias para o Futebol são bem-vindas. Umas farão mais sentido que outras, ainda
assim todo o ser pensador tem a liberdade de as apresentar e posteriormente de
as fundamentar. Esta ideia parece-me ser interessante. Partindo do plano
logístico para o plano futebolístico, que é o que mais me interessa, atentar no
seguinte: dir-me-ão os mais cépticos, embora correctos neste ponto, que o 0-0
vale um ponto, porque, apesar de ser inerente ao jogo, ambas as equipas não foram
capazes de desfazer o resultado inicial durante noventa minutos. O objectivo do
jogo é o golo, golo esse que imediatamente nega o nulo no marcador, não havendo
necessidade de discussão a posteriori.
Todavia, todos
conhecemos a estratégia do “jogar para o ponto”. Todos conhecemos o “autocarro”.
Todos conhecemos N outras expressões populares, da gíria futebolística, que têm
como objectivo anular o adversário anulando o jogo, anulando o Futebol,
tornando-o miserável e impossível de se apreciar. Todos nós conhecemos aqueles
jogos, e pior, já pagámos para ver alguns deles, que acabam 0-0 e em que não
chega a haver mais do que uma ou duas oportunidades claras de golo porque as
equipas em vez de criarem estão mais preocupadas em anular.
Todas as
ideias, na minha opinião, têm de contribuir para um embelezamento do Futebol.
Ora, se o 0-0 valesse como uma derrota para ambas as equipas, não teriam os Treinadores
de ter, no planeamento para o jogo, uma abordagem mais ambiciosa? A necessidade
de ter de fazer um golo para pontuar não tornaria o Futebol mais atractivo? A necessidade
de fazer um golo para pontuar não requisitaria por parte do Treinador uma
competência ainda maior? Porque montar um “autocarro” e deixar dois homens
rápidos na frente, tem de ser passado no Futebol, diria eu.
Respondendo às
questões, não só o nulo no marcador não deveria atribuir pontos devido ao facto
de ser um resultado inerente ao jogo, como não deveria atribuir pontos na
tentativa de tornar o jogo mais atractivo. Os Treinadores teriam de arranjar
estratégias mais ambiciosas e direccionadas para a criação de jogo atractivo e
não de jogo destrutivo. Os planteis teriam de ser apetrechados com maior
qualidade para procurar o golo todos os jogos. Como podemos nós Treinadores
afirmar que o objectivo do jogo é o golo se o nulo é premiado? Faz algum
sentido? Só apetece mesmo dizer “JOGUEM À BOLA, PORRA!“, porque há lá melhor
sensação que festejar um golo? Há lá melhor sensação que olhar para uma bancada
repleta de gente aos saltos festejando o golo do clube do coração?
Importante
referir que, esta ideia só se materializaria no nulo no marcador. Toda e
qualquer igualdade com golos deveria, na minha opinião, ser premiada com um
ponto. Referir também o seguinte: não está em discussão neste artigo o facto de
o empate ser um resultado positivo ou negativo para A, B, ou C. Apenas a ideia
apresentada e aquilo que essa ideia poderia causar no planeamento do jogo.
Pedro Cardoso
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