Passado
sábado, Estádio da Luz, 20:30h, encontraram-se Benfica e Porto com o campeonato
português por decidir. O dia parecia o ideal, o estádio estava cheio, a
diferença pontual condizente com a grandeza do jogo e o horário obrigava o povo
a colar-se ao televisor para testemunhar a tal decisão e… nada se decidiu, tudo
se adiou.
Em primeiro
lugar, elogiar a postura das duas equipas que se preocuparam em jogar futebol e
que não deram azo a que a história dos noventa minutos se contasse através de
picardias e fait divers. Houve casos,
mas daqueles que fazem parte tendo em conta a rivalidade existente entre estas
duas entidades desportivas.
Em segundo
lugar, atentar na estratégia de ambas as equipas, olhando para as duas surpresas
nos onzes: preterir André Silva e destruir a dupla de avançados para passar a
um meio-campo mais povoado, perante a vontade de garantir superioridade
numérica no meio, algo que raramente beneficiou a equipa de Nuno Espírito Santo
durante o jogo. De resto, o onze esperado…e podemos até dizer que esta
surpresa…também nunca a foi! Quanto ao Benfica de Rui Vitória, privado de
Grimaldo e Fejsa, habituais titulares e jogadores que elevam a qualidade do
elenco para outro patamar, teve em Rafa a surpresa lançada a jogo, para a faixa
esquerda.
À partida, esta
opção parecia fazer sentido, sendo Rafa o extremo mais rápido do plantel
perante um Maxi Pereira cujos dias de velocista já o ultrapassam. Além disso, Rafa
é um campeão europeu, apesar do seu curto contributo neste feito do Futebol
Português, e um jogador de grande qualidade. Nunca duvidando do valor deste
atleta, a sua época tem sido, no cômputo geral, decepcionante. E este jogo é a
imagem da época de Rafa. Excelentes arrancadas com um nível de aproveitamento
quase nulo. Com isto dizer que, a tomada de decisão do extremo natural de Vila Franca de Xira foi sempre
condizente com o nível do
jogo, ou seja, uma grande capacidade de desequilíbrio até ao último terço para
depois decidir mal.
Em terceiro lugar, elogiar, com todos os
adjectivos de conotação altamente positiva no dicionário da Língua de Camões, a
entrada no jogo do Benfica na primeira parte e a entrada do F.C.Porto na
segunda parte ainda que, esta, motivada pela necessidade de correr atrás do
prejuízo. O Benfica entrou com vontade de controlar a bola e de encostar o
adversário ao seu meio-campo e, com vários jogadores a participar na manobra
ofensiva (atentar à capacidade de Nélson Semedo se integrar no ataque, com
bola, desequilibrando desde trás, a facilidade com que o faz, tornando-o num
lateral moderno de equipa grande = grande capacidade ofensiva como elemento
número um de escolha), uma jogada entre Salvio e Jonas resulta no 1-0, tendo
Jonas convertido grande penalidade, castigando falta sobre si mesmo.
A partir deste momento, foi um gradual
“tirar o pé do acelerador” que motivou o adversário a pegar no jogo,
contribuindo para isso, como apontei há pouco, a necessidade de correr atrás do
prejuízo. Muito discutível, a opção por esta estratégia. Quanto ao F.C.Porto, criticar
a entrada apática em campo, dado que era a equipa que estava mais obrigada a
ganhar, basta olhar para a classificação, mas elogiar a procura nos primeiros
minutos da segunda parte, onde empata e pode passar para a frente do marcador
no lance isolado de Tiquinho Soares. Após este lance, um gradual relaxamento e,
pior, uma gradual aceitação e posterior satisfação com o empate, algo a abordar
mais à frente.
Ora, perante esta constatação (duas
equipas com entradas de grande nível, conseguindo o golo nos primeiros cinco
minutos das diferentes partes), continuo a questionar-me em relação ao porquê
deste abrandar, um tanto estratégico, um tanto motivado pelas circunstâncias do
jogo. Certamente que o Barcelona de Guardiola, no 5-0 ao Real de Mourinho não
abrandou após o primeiro golo. Indubitavelmente, a Alemanha de Joachim Löw não amoleceu perante o Brasil de Scolari
no histórico resultado de 7-1 no Mundial do Brasil.
Estamos a falar de grandes equipas, mas
Benfica e Porto também o são no contexto nacional. Parece haver cada vez mais
uma necessidade das equipas grandes, entre si, jogarem o Q.B, defendendo o Q.B
até ao fim. Depois, confesso que desesperei ao ver as duas últimas
substituições de NES. Desesperei ao me aperceber que Casillas segurou o empate
para a equipa que mais precisava de ganhar. Desesperei ao perceber que os
adeptos do F.C.Porto festejaram um empate na Luz, perante o grande rival que
conta com três campeonatos seguidos, sabendo esses adeptos que o empate
mantinha o Porto na expectativa. Desesperei ao perceber que Nuno Espírito Santo
escolheu perder o depender de si próprio pela fé num resultado favorável no
Sporting x Benfica.
Porque acho que um treinador de um clube
grande, e entendo não cometer um erro ao dizer, especialmente do F.C.Porto,
terá de querer muito mais do que isto. Terá de ter uma ambição muito maior,
condizente com a sua massa adepta. Ou não será já condizente pelos festejos
vistos no final do jogo? “ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades ”
Destaques do Clássico: Nélson Semedo
(fase ofensiva) ; Brahimi (classe); Nuno Espírito Santo (a escolha pela perda
da dependência de si próprio)
Pedro Cardoso
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