Santarém,
Abril de 2015. Fórum da Associação Nacional de Treinadores de Futebol. De entre
os inúmeros Treinadores que deram o seu testemunho, houve um que me chamou particularmente
a atenção: Paulo Fonseca, a propósito do que seria o Alto Rendimento em Futebol
Profissional.
Sentado ao
lado de Pedro Martins (actual Treinador do Vitória Sport Clube) e questionado
acerca do tema “Alto Rendimento em Futebol Profissional”, Paulo Fonseca foi peremptório
na sua intervenção. Com um discurso claro e conciso, explicou que, no seu
entender, o Alto Rendimento não se mede apenas na obtenção de títulos nem se
esgota na conquista dos mesmos, pois existe um factor essencial para que
possamos aquilatar, de facto, o que é o Alto Rendimento: o Contexto em que uma
equipa está inserida.
Assim sendo,
facilmente se percebe que o Alto Rendimento não é um Olimpo apenas ao alcance
dos Treinadores que lutam por Campeonatos, por Subidas de Divisão ou Taças. O
Alto Rendimento está ao alcance de todos nós, Treinadores, desde que saibamos
interpretar e perceber o contexto em que estamos inseridos. Ou melhor, desde
que TODOS saibam interpretar e perceber o contexto em que a nossa equipa está
inserida.
Daí ser
importante olhar para aquilo que foi a I Liga Portuguesa 2016/2017 (Liga NOS) e
perceber quem, para além de Rui Vitória (Treinador Campeão), alcançou elevados
índices de Alto Rendimento, tendo em conta os ensinamentos por mim obtidos
através das palavras de Paulo Fonseca em Abril de 2015…
Luís Castro
levou o Rio Ave a protagonizar, sem sombra de dúvidas, alguns dos mais belos
momentos de Futebol deste último campeonato. Uma equipa personalizada, que
nunca abdicou das suas Ideias, dos seus Princípios e do seu Modelo de Jogo,
jogasse contra quem jogasse, jogasse onde jogasse. O Treinador que no ano
passado sagrou-se Campeão da II Liga ao serviço do FC Porto B teve, muito
provavelmente, o melhor comentário do ano, após a derrota em Alvalade por 0-1,
num jogo em que a sua equipa foi claramente superior à de Jorge Jesus. Quem não
se lembra da resposta: “Futebol mais pragmático? Mais directo? Pontapé para a
frente e três à pesca?”…
É verdade que
o Rio Ave era candidato a um lugar europeu e que essa meta não foi alcançada,
mas Luís Castro não idealizou, construiu nem iniciou a época ao serviço dos
vila-condenses. Perante este contexto, e tendo em conta a recuperação notável
levada a cabo pelo mentor do projecto Dragon Force e a qualidade do futebol
praticado por Krovinovic, Rúben Ribeiro, Gil Dias e Cª, alguém é capaz de dizer
que Luís Castro não teve um Alto Rendimento ao serviço do Rio Ave?
Nuno Manta é
outro caso digno de estudo. Foi chamado, de forma interina, a apagar o fogo que
deflagrara em Santa Maria da Feira aquando do reinado de José Mota, mas acabou
por se revelar muito mais do que um Bombeiro Voluntário, transformando-se num Chefe
de Corporação de altíssimo gabarito, salvando o Feirense de uma descida que
parecia certa até ao despedimento do Treinador que subira anteriormente depois
do excelente trabalho de Pepa.
Provavelmente
inspirado pela música de Pedro Abrunhosa, “Vamos fazer o que ainda não foi
feito”, o eterno adjunto assumiu o comando principal da equipa e levou-a a
estabelecer novos recordes internos, num sinal claro da mais-valia do seu
trabalho. Tendo em conta o contexto fogaceiro antes de Nuno Manta ser Treinador
Principal e tudo o que vimos depois da sua ascensão, será possível dizer que
este não é um exemplo de Alto Rendimento?
E que dizer de
Pepa? Como qualificar o feito alcançado por Pepa e pelo “seu” Tondela na última
jornada da Liga NOS 2016/2017? Milagre? Diga-me o leitor.
Mas, a meu
ver, este é um caso de Altíssimo Rendimento em Futebol Profissional. Pode não
ter alcançado a qualidade técnico-táctica do Rio Ave de Luís Castro (Pepa não
dispõe dos mesmos “artistas” vila-condenses). Pode não ter estabelecido novos
recordes a nível interno como Nuno Manta fez com o “seu” Feirense. Mas Pepa
alcançou aquilo que todos julgavam ser impossível. Todos, à excepção do próprio
Pepa e do seu grupo de trabalho. O Tondela assegurou a manutenção! E se
olharmos para o contexto da equipa beirã, estamos ou não estamos perante Alto
Rendimento?
No pólo oposto
temos, por exemplo, Sporting CP e SC Braga. Terceiro e quinto classificados da
última Liga NOS. Ambas as equipas terminaram a época à frente do Rio Ave, do
Feirense e do Tondela. Com mais pontos, mais vitórias, mais golos marcados,
enfim, com mais dados estatísticos positivos do que negativos, quando em
comparação com as equipas de Luís Castro, Nuno Manta e Pepa.
Mas se
olharmos para o contexto leonino e para o contexto bracarense, será possível
dizer que ambas as equipas foram capazes de obter um Alto Rendimento em 2016/2017?
Uma vez mais, diga-me o leitor…mas eu digo-lhe já que não…
Laurindo Filho
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