Assistindo a uma partida de
futebol quer como treinador quer como espectador, é fácil de perceber os
intervenientes de um jogo. São vinte e dois atletas, três elementos da equipa
de arbitragem e dois treinadores mais a restante equipa técnica. É fácil de
entender que possivelmente teremos duas equipas a disputar um jogo durante o
máximo de tempo possível dentro dos noventa minutos e que facilmente será
desmontado o sistema táctico usado por cada uma delas.
São várias as horas ganhas com o
modelo de jogo pretendido e com várias horas pensadas e experimentadas dentro
do processo de treino utilizado. O treinador pensa e tenta realizar da melhor
forma possível para aproximar a equipa do seu ideal, trabalhando-a
afincadamente dentro da sua capacidade e experiência.
Podem-se utilizar todos os
exercícios retirados da internet ou de ideias e ideais de outros treinadores,
sendo que a verdade universal é que se não for contextualizado e pensado dentro
do processo de treino pretendido, o resultado nunca poderá ser o desejado. O
jogador não irá entender o que é pretendido e o treinador não terá o feedback
necessário para a realização da tarefa, pois nem ele entenderá aquilo que
pretende com aquele exercício para um momento exacto de jogo.
Uma das maiores dificuldades na
tarefa do treinador passa por tudo aquilo que ele não pode controlar. São
inúmeras as variáveis que poderão acontecer dentro de um jogo, sendo por isso
importante o máximo de foco. É preciso ver além daquilo que o jogo e a nossa
equipa nos mostram, tem de se ser um verdadeiro estratega e para isso é preciso
muito trabalho de casa.
É fácil de verificar por esses
campos fora, treinadores sistematicamente preocupados com a arbitragem do seu
jogo (não retiro uma vírgula a quem o faz), ou em sistemáticas picardias que o
desviam do principal assunto que deveria reter toda a sua atenção.
A partir do apito inicial da
partida a alteração mais fácil de se fazer e de se observar, é a alteração à
distribuição dos jogadores em campo, o célebre sistema táctico. Mas será tão assim
tão fácil reduzir o jogo a sistemas? Na minha opinião parece-me bastante
redutor e injusto para a modalidade.
A grande dificuldade que vejo nos
treinadores actuais e que diferencia os bons dos muito bons é precisamente a
capacidade de actuar durante o jogo. A forma como irá mexer as peças, alterar
aquela que foi uma estratégia inicial planeada ao pormenor e observar a
estratégia do adversário, irá contribuir e muito para um resultado final mais
perto do previsto.
São inúmeras as vezes em que se
perde o foco no adversário e naquilo que estão a ser os pontos fortes e fracos
da equipa. É fácil de se dizer que no contexto amador é mais difícil de o
conseguir, pois são poucos os recursos para isso, mas a verdade é que todo o
esforço para conseguir controlar esta pequena batalha com o adversário, poderá
permitir um maior ou menor número de pontos.
É importante controlar quem o
jogador chave, por onde está a passar o maior ascendente adversário e
consequentemente corrigi-lo, condicionar o início da sua estratégia para não
chegar ao meio pretendido, assim como procurar o elemento ou o ponto mais fraco
na estratégia do adversário. Estas serão apenas algumas variáveis, dentro de um
jogo que nos oferece constantemente novidades a serem resolvidas. E essa é uma
dificuldade que qualquer treinador sentirá! O facto de não existir capacidade
de resolver na hora os detalhes que nos vão chegando, é algo que poderá ser
trabalhado, mas requer um esforço gigante de melhoria por parte do treinador.
Creio que qualquer minuto em que
o seu foco seja retirado sobre o debruçar da estratégia da sua equipa e da
equipa adversária, poderá ser um minuto em que a outra equipa estará mais perto
de marcar golo. Creio que quem quer melhorar, procura uma reflexão antes,
durante e pós jogo! E se antes e depois teremos mais tempo para reflectir quais
as melhores estratégias, durante o jogo é preciso uma capacidade de reacção e
reflexão muito rápida. E para isso, é preciso praticar muito e querer ver para
além do que o olhar normal nos concerne, é preciso perceber os sinais…
Ricardo Carvalho
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