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Reflexões de Sala de Aula


Cumprindo com a rotina das últimas quintas-feiras, desloco-me até à Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra para nova aula. Cumprindo com a tradição criada ao longo dos tempos, chego atrasado cerca de vinte minutos, o que, a quem me conhece, não causa surpresa. Saio passado cerca de uma hora após ter ouvido duas frases que me obrigaram a uma reflexão, decidindo depois passar essa reflexão para o papel. A saber:

“Um Treinador tem de, obrigatoriamente, querer ser o melhor Treinador do Mundo”

“Há Escolas de Formação e, em contrapartida, há clubes que brincam ao Futebol. Escolas de Formação necessitam de Treinadores formados e formadores“

Duas frases, duas temáticas, que apontam a várias reflexões que intersectam com vários campos daquilo a que chamamos Futebol de Formação do jovem atleta, inclusive do Futebol de competição, passando pela personalidade do Treinador e como este encara a sua carreira. Vamos por pontos...

Quanto à primeira frase não concordo, nem discordo, mantenho uma posição neutra em relação a esta temática por duas razões muito claras: primeiro, um Treinador de Formação, que está a começar a sua carreira, que queira, sustentadamente, dar os seus primeiros passos nos escalões jovens e que profira as palavras “Quero ser o melhor Treinador do Mundo“ ganha logo uma espécie de alvo nas suas costas. Este problema tem a ver com a fraca mentalidade lusitana, revelada sempre que alguém pretende algo difícil de alcançar, mas se lança à estrada para o cumprir. Essa pessoa é facilmente ridicularizada pelas mesmas mentes brilhantes que aos domingos à noite perdem o seu tempo a ver “A Casa dos Segredos”. E pensar que já fomos donos de meio mundo...
Aquilo em que eu acredito é que o Treinador deverá querer ser o melhor possível no posto em que se encontra e consoante as condições que existem ao seu dispor. Esta ideia vai ao encontro de declarações que esta semana foram proferidas por Julian Nagelsmann, actual treinador do Hoffenheim, o qual diz que um Treinador para chegar ao topo necessita de foco, dedicação e disciplina, mas também precisa de condições (recursos) e de sorte.
Estes últimos dois conceitos fazem parte do segundo ponto da minha análise. Um Treinador para subir degraus no mundo do Futebol precisa de trabalhar com qualidade. Pode ter ideias precisas, um Modelo de Jogo baseado num futebol positivo, mas sem qualidade nos seus pupilos não a conseguirá colocar em prática. Precisa também de condições ao nível da logística (macroestrutura associada ao Treinador) e até mesmo do factor sorte. Refere Nagelsmann que o contacto com intervenientes do Futebol, que compreendam o trabalho do Treinador, o apreciem e o consigam pôr nos sítios certos, ajuda e de que maneira. Portanto, um Treinador querer ser o melhor do mundo? Entendo que existem tantas variáveis…que esta é uma frase difícil de dizer. Baby Steps…


Quanto à segunda frase, esta também merece reflexões, mas de teor porventura mais preciso. Crucial será dizer que concordo perfeitamente com ela. Por várias razões. Não só pela simples razão de haver gente no Futebol que acha que um Treinador Formador que receba 100€ por mês é caro, quando a Formação e a necessidade de sujeitar os jovens atletas pagantes a treinos com alguém que está devidamente preparado para o fazer não existe. Treinadores formados e formadores sim. Porque na verdade, o que é uma Escola de Formação senão uma via para a Formação do jovem atleta, em primeiro lugar, mas também do próprio Treinador?
Falando por experiência própria, aprecio aulas, cursos, palestras, congressos, workshops, mas entendo que está na experiência prática a grande ferramenta para o crescimento da competência do Treinador, ainda que possa e deva sustentar essa experiência prática com horas de interesse, horas de dedicação e horas de procura do saber. E o saber está no que referi acima. É neste ponto que estas duas frases se encontram com as palavras de Julian Nagelsmann. Todavia, essa experiência só é ganha através de semanas e semanas de trabalho com os tais jovens atletas a que a tal Escola de Formação deve dar todas as condições.
Duas frases, duas temáticas, que suscitam muita discussão e debate. Empenhei-me em expor algumas das pequenas directrizes do meu pensamento, sabendo tratarem-se de assuntos complexos, mas altamente interessantes. 

                                                                                            Pedro Cardoso

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