Após ter sido determinado o vencedor da Liga Europa edição 2016/2017,
cabe tecer algumas considerações sobre o que foi o jogo, as implicações que
este título terá no futuro do clube e da equipa técnica liderada por José
Mourinho.
José Mourinho chega a Manchester com a difícil tarefa de fazer esquecer Alex
Ferguson, para muitos, o melhor Treinador da história dos red devils. Após três
anos para esquecer com David Moyes/Ryan Giggs (num primeiro ano) e Louis Van
Gaal (num segundo e terceiro anos), o Treinador português tinha a árdua tarefa
de trazer o United de volta às grandes conquistas. Trouxe consigo Bailly para o
centro da defesa, Paul Pogba, quebrando o recorde de transferências por um
jogador, Mkhitaryan para uma das faixas do meio-campo e Zlatan Ibrahimovic como
a contratação mais sonante, o homem golo escolhido pelo Special One. Muitos
milhões em quatro reforços.
Olhando para os resultados obtidos, o sexto lugar alcançado na Premier
League é demasiado escasso para tanto investimento. O United conseguiu até uma grande
série de jogos sem perder, mas usou e abusou dos empates, muitos deles obtidos
em casa perante adversários mais frágeis, onde a falta de eficácia ofensiva da
equipa levou muitos à loucura.
Contudo, e mantendo a análise nos resultados, Mourinho chega ao fim do seu
primeiro ano em Manchester com três títulos no bolso. Sabemos todos que a
Community Shield (Supertaça) e a EFL Cup (Taça da Liga) são os dois títulos
interinos menos valiosos e sabemos que a Liga Europa acaba por ser uma segunda
divisão europeia quando comparada com a Liga dos Campeões. Ainda assim, curioso
será descobrir quando voltará o United a vencer três titulos numa época
desportiva. Cá estaremos para ver…
Em relação ao jogo, estiveram frente a frente duas equipas com estilos de
jogos completamente distintos. Um Ajax que, fazendo jus à escola holandesa e à
sua própria filosofia e identidade, joga um Futebol atractivo, apoiado, em que
todos os atletas procuram ser solução para o portador da bola, desequilibrando
a equipa adversária através do controlo do jogo, controlando a posse. Em
contrapartida, um United com bastante dificuldade para criar jogo construtivo
desde trás (neste jogo nem houve intenção disso), revelando as debilidades demonstradas
ao longo da época, tornando-se numa equipa que procura bastante a velocidade de
Marcus Rashford e os desequilibrios de Mkhitaryan, através de mudanças de
velocidade, e de Juan Mata, através do passe.
Peter Bosz (Treinador do Ajax)
disse que “O jogo foi aborrecido”…Penso que foi precisamente essa a estratégia
adoptada por Mourinho. Senão como se explica que uma equipa como o Manchester
United, clara favorita à conquista desta final, acabe o jogo com 31% de Posse
de Bola, e vença sem o Ajax criar uma oportunidade clara de golo. Romero
apreciou o jogo, a verdade é esta. Então, o aborrecimento do jogo perante uma
equipa jovem e atractiva foi estratégia? Creio que sim. Mas como?
Primeiro ponto: estratégia
baseada em anular as mais-valias do adversário e não em potenciar as próprias mais-valias
da sua equipa. Dois médios mais recuados (Pogba e Herrera) e curioso, ou nem
por isso, a colocação de Fellaini como o médio mais adiantado no terreno. A
preocupação de fechar, mais à frente. A colocação de um canhoto como interior
direito (Mata), e não extremo, e a colocação de um destro como interior
esquerdo (Mkhitaryan)
e, novamente, não como extremo esquerdo, com o intuito de fechar o meio-campo e
atrair sempre o adversário para a faixa.
E, assim, anulando o adversário se ganha uma competição europeia. Através
de uma eficácia ofensiva a rondar a perfeição e com dois golos, diga-se,
insólitos, ganha-se uma competição europeia. E com 31% de posse de bola ganha-se
uma competição europeia.
Mas Mourinho não ganhou só uma competição europeia…
è Vaga na
próxima edição da Liga dos Campeões: vaga conquistada através do jogo de ontem, fazendo jus à gestão levada a
cabo na Premier League. Abdicar do 4º lugar para lutar pela conquista da Liga
Europa e consequente presença na próxima edição da Liga dos Campeões.
è Maior
capacidade para seduzir alvos no mercado de transferências: a presença na Liga dos Campeões era
vital para seduzir os melhores jogadores. E Mourinho precisa de mais 3/4
jogadores de inegável qualidade para construir o seu elenco de sonho.
è Maior
pressão sobre os resultados da próxima época: apesar dos três troféus, o clube de
Manchester tem de estar obrigatoriamente na corrida pelo título e creio que
muito do foco da próxima temporada estará precisamente na conquista da Premier
League. A Liga dos Campeões não será um factor de grande pressão para Mourinho,
já que defrontará elencos superiores (Barcelona, Bayern, Real Madrid, Juventus,
Chelsea) e conquistas como a EFL Cup ou a FA Cup não servirão para agradar os
adeptos.
Foi novamente possível ver
Mourinho festejar. Quarta conquista europeia. Nunca sonharia Mourinho vencer
três troféus na sua época de estreia, muito menos sonharia vencer três troféus
e estar tão em cheque para a próxima temporada. Mas o Futebol são resultados.
Da mesma maneira que uma equipa com 31% de posse de bola ganha uma final sem
conceder uma oportunidade de golo. É Futebol. Tem explicação? Tem… É Futebol…
Pedro Cardoso
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