Anos e anos de preparação, anos e anos de sonho, a percorrer uma
possibilidade de uma carreira de profissional de Futebol. Horas e horas de
esforço e de dedicação, porque, segundo quem lá anda, a viagem entre a Formação
e a Profissionalização é uma tarefa árdua e que certamente não será para todos.
Para falar sobre o caminho que qualquer
jovem em qualquer Escola de Formação terá de percorrer até pisar os relvados
dos melhores campeonatos, até repetir as pisadas dadas pelos seus ídolos, baseio-me
no programa da Sport TV, transmitido na passada quinta-feira, intitulado “ Report TV – Filhos do Futebol “.
O programa consistia nos depoimentos de vários intervenientes do Futebol,
todos eles ligados ao Sporting Clube de Portugal: Rui Patrício e Adrien Silva,
que em jeito de flashback olhavam para imagens da sua Formação, comentando-as e
recordando histórias dos seus 14/15 anos; Aurélio Pereira, também conhecido
como “Senhor Formação”; Luís Martins, actual Treinador da Equipa B do Sporting;
Rúben Semedo e Gelson Martins, que sem o suporte visual falavam só da sua
experiência enquanto atletas jovens da Academia de Alvalade; e dois jovens Juniores
actualmente residentes na Academia e atletas do Sporting.
Escusado será dizer que, com este painel, disseram-se muitas e excelentes
coisas em relação ao Futebol de Formação, ao percurso do sonho e que
condicionantes existem para lá chegar. Vamos por citações:
Aurélio Pereira sobre Fábio Paim:
“ Nunca fez mal a ninguém. A única coisa que fez foi mal a si próprio. Factores
externos que não se conseguem controlar. ”
Ficamos a saber através do documentário que Fábio Paim continua a ser o
exemplo apresentado a não seguir pelos jovens que são trabalhados na Academia.
Todos conhecemos esta história e o seu talento voltou a ser enaltecido no
programa por Rui Patrício e Adrien. Que nunca tinham visto nada assim. Factores
externos? A minha interpretação leva-me ao background do menino Fábio Paim,
onde cresceu, como cresceu, factores realmente muito difíceis de contornar. Os
conselhos do Treinador devem ser seguidos, mas como entrar na cabeça destes
miúdos? Nem o “Senhor Formação” considera esta tarefa fácil.
Aurélio Pereira: “ Jogadores que
começam a ter sucesso muito cedo, é mais natural que muita gente os queira
acompanhar e nesses períodos nem sempre as pessoas estão preparadas para lidar
com essa fama. Os mais influenciáveis acabam por ter esse fim.”
Declaração baseada no facto de Fábio Paim, Ricardo Fernandes e Adrien
Silva terem sido aliciados pelo Chelsea na sua fase de Sub-15 para prestarem
provas, sendo que Fábio Paim prefiro nem saber onde joga, Ricardo Fernandes em
equipas distritais de Coimbra e Adrien Silva titular da selecção campeã
europeia de 2016… Mas a Fama é difícil para o jovem atleta? Se é. Valerá a pena
um jovem atleta fazer a sua Formação, não nos melhores clubes, mas em clubes
onde tenham a certeza que estão a ser devidamente potenciados pelo seu Treinador
e, aquando da mudança para o Futebol de 11, procurarem encaixar nas melhores
equipas que jogam os melhores campeonatos? Concordando com estes três casos
temos a opinião de Luís Martins, quanto às condições de Formação entre os dois
países…
Luís Martins: “ O Futebol de Formação
em Inglaterra não tem as mesmas condições que cá em Portugal ”
Referia-se à falta de qualidade dos processos, falta de qualidade das
equipas e quadros competitivos menos exigentes. Interessante, não é? Mas quando é que a Inglaterra ganhou algum título nacional? Então qual é a pressa?
Quanto ao Processo de Formação, temos excelentes opiniões também dos
mesmos ilustres, senão vejamos…
Rui Patrício: “ Os miúdos têm é que
se divertir. Não pode haver a pressão que actualmente existe ”
Contextualiza-se esta opinião no comportamento dos pais durante os jogos,
mas sobretudo na pressão que os jovens atletas trazem de casa. Quem na minha
opinião pode e deve colocar pressão? O Treinador. Esse sim pode e deve exigir,
porque se a exigência não for a máxima do trabalho desenvolvido, andamos
simplesmente a “dar pão para malucos”. O comportamento dos pais durante o jogo,
e até nas abordagens com os filhos em casa, deverá ser sempre de incentivo.
Incentivo à prática, incentivo ao sonho, incentivo a arriscar e acima de tudo,
incentivo a cumprir com os pedidos do Treinador. Isto porque…
Adrien Silva: “ Tivemos as pessoas
certas ao nosso lado que nos souberam levantar “
Será que acreditamos que todos estes craques a dada altura das suas
carreiras não tiveram dúvidas em relação aos seus futuros? Se lá chegariam ou
não? Foi sempre tudo fácil? Relembrar que Adrien deixou os pais residentes em França
com apenas 14 anos para morar na Academia. Um grande sacrifício para uma
possibilidade de carreira. Porque aos 14 anos o máximo que um jovem pode ter no
Futebol é uma possibilidade, nunca uma certeza, isto porque segundo Aurélio Pereira...
“ É preciso que tudo corra muito
bem, há tantos obstáculos para se ter sucesso. É preciso encontrar as pessoas
certas ”
Lembrar que Rui Patrício foi aposta de Paulo Bento, erro após erro após
erro. Nas bancadas pedia-se Stojkovic, mas Paulo Bento formou o melhor
Guarda-Redes português desde Vítor Baía. E o único campeão europeu e titular
pela selecção.
Para rematar a mais importante das declarações e aquela que
verdadeiramente ficou na minha cabeça em relação àqueles que lá chegam…
Aurélio Pereira: “ Há aqueles que
podem ser e aquele que querem ser”
Esta sem dúvida que retive. Sem mentalidade não há quem resista. Neste
ramo e noutro qualquer. Quem não alimentar o sonho, quem não tiver quem lhe
alimente o sonho jamais terá possibilidades de lá chegar. Recordo declarações
de Rio Ferdinand quando diz que trabalho bate o talento por grande margem. E
concordo. Treinador potencia Talento através do Trabalho, atleta sonha com o
estrelato, trabalhando para lá chegar, e em casa alimenta-se este sonho. E a História
faz-se daqueles que querem ser.
Pedro Cardoso
Pedro Cardoso
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