Num jogo difícil, todo o Treinador anseia pelo momento em que o Artista da equipa saque um coelho da
cartola e faça magia, conseguindo por iniciativa própria ou apenas com o seu
perfume desbloquear o jogo.
Pois, hoje em dia o que se
verifica é cada vez menos o aparecimento desse Génio. Todo o Clube procura por
um malabarista, mas são de difícil procura, daí os seus valores exorbitantes.
Devido a um jogo cada vez mais
complexo e científico, tudo é levado ao mais ínfimo pormenor e, como tal, são
cada vez mais os golos em organização de equipa, quando comparados a um daqueles "relâmpagos" individuais que, num movimento mais ousado, decide o jogo.
Como se de um campo de guerra se
tratasse, qual “A Arte da Guerra”, o jogo tornou-se bastante Táctico e o Atleta
tem de elevar os seus índices de concentração e perspicácia de forma a
compreender os vários momentos da partida e decifrar por si próprio, quais os
erros da equipa adversária.
É capaz de soar algo
contraditório, quando tudo o que se pede ao Atleta dentro do seu período
formativo (em grande parte dos casos) é que tenha as noções tácticas
dos terrenos que ocupa, pois isso não irá comprometer a sua equipa. Poderá ser
contraditório, pois, na sua maioria, quando um Jogador tenta uma finta a mais, o Treinador prontamente lhe grita aos ouvidos e lhe retira a confiança para um
momento crucial da sua Formação. Criatividade não é algo que surja de um
momento para o outro e é preciso confiança, muita confiança…
“Zico: O problema é
que não estão priorizando a qualidade Técnica na Formação. Ninguém
está preocupado com o mais franzino, o mais Técnico e o que tem qualidade. Não
há preocupação em perder mais tempo para fazer um bom trabalho. Estão
priorizando a parte Táctica, o tamanho dos atletas. Tem o Jogador da bola e tem
o Atleta. E estão priorizando os Atletas.”
Onde fica a célebre frase “a Bola
é a tua melhor amiga”?!
Nos dias que correm é fácil perceber que o atleta não pratica o necessário e que no meio de tanta
preocupação com todos os ínfimos pormenores que os poderão melhorar, se tenham
esquecido de praticar e idolatrar os seus Jogadores preferidos. Hoje já não se
passam horas a ver fintas no Youtube e a aspirar fazer o mesmo ou melhor! É
surreal pensar sequer que o atleta chegue ao jogo e ponha em prática uma finta
nova, pois o mais provável dado a sua tenra idade é errar e isso poderá não ir
de encontro ao objectivo do jogo.
“Entrevista ao DN (Gelson Martins):
(…)
DN - Falando em fintar pedras e vasos. Tens um enorme reportório de fintas e dribles. Isso é treinado, nasceu contigo? Tentas evoluir nos treinos?
GM– Estamos sempre a evoluir nos treinos, mas as fintas são algo que nasce connosco... aprendemos muitas outras coisas com os Treinadores, questões tácticas e de gestão de esforço, mas o drible ou a finta nasce connosco, não se ensina nem se aprende.”
Como Formador sinto ser
necessário criar essa janela de oportunidades para o Atleta, pois ele terá de
descobrir esse caminho por si próprio. Com muita prática e muita tentativa
falhada, chegará ao destino final com a maior arma de todas: saber manobrar a
bola da melhor forma possível.
É por isso extremamente
importante criar desde cedo o estímulo Técnico nos Jovens, pois será sempre
mais difícil criar esse espírito a um Atleta que se tem preocupado em demasia
com outros pormenores, não tendo depois a competência necessária para executar
metade das tarefas com bola.
É importante que o atleta entenda os momentos que terá para isso, tendo o Treinador tarefa crucial em saber libertá-lo e deixá-lo ser feliz a errar, pois será no futuro que irá colher os frutos!
Ricardo Carvalho
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