Depois da “fruta”e depois do “colinho”, o Futebol Português descobriu
agora um novo culpado para tudo aquilo que não corre bem em campo. Dentro de
campo. Poderia ser da bola que não estava devidamente cheia, poderia ser da
relva que não estava devidamente bem cortada ou regada, poderia até ser do
vento que se faz sentir em algumas noites, mas não, em Portugal os culpados são
outros.
Não, não são os avançados que falham golos em cima da linha de golo (como
fez Bryan Ruiz em Alvalade num derby decisivo), não são os médios que decidem
mal no momento do último passe numa situação favorável de 3 vs 2 (ao estilo do
que Salvio fez no jogo frente ao Braga), nem sequer são os defesas que entregam
o “ouro ao bandido” em prejuízo da sua equipa (como fez Mano no último FC Porto
vs Estoril).
Os Treinadores também passam ao lado da inquietante sensação de poderem
vir a ser ligados aos resultados menos positivos. Pouco importa se colocam
Bruno Fernandes como apoio a Bas Dost, se apostam em Filipe Augusto em
detrimento de Chrien ou se ainda mantêm Herrera a jogar quando Rúben Neves já recebeu “guia de marcha” para
a segunda divisão inglesa.
A culpa tem finalmente um novo rosto. Já não era sem tempo. Afinal já estamos
no início da 2ª jornada da Liga NOS 2017/2018. Com tantos jogos já disputados
faz sentido que a conversa tida e mantida ao longo de todas estas jornadas,
seja na televisão, seja na rádio, seja nos jornais, seja ainda nos fóruns das
redes sociais, esteja relacionada com aquilo que mais interessa no futebol
moderno em Portugal: o Vídeo-Árbitro (VAR).
O que mais me entristece, para vos ser sincero, é que em Portugal as
pessoas não gostam de Futebol. Gostam de polémicas no Futebol. As pessoas não
querem nem sabem discutir Futebol. Querem discutir por causa do Futebol e
permanecer na confortável e enganadora sensação de que sabem alguma coisa de Futebol.
As pessoas não querem procurar entender conceitos como Modelo de Jogo,
Periodização Táctica, Esquemas Tácticos, Sistemas Tácticos e Descoberta Guiada,
mas debitam esses mesmos conceitos nas suas conversas de café ou nas suas
discussões “facebookianas” com tamanha certeza e convicção que até chegam a dar
a ideia de que sabem do que estão a falar. Estamos na era do é mais importante
parecer do que ser, não é verdade?
A acompanhar o sentimento de tristeza perante o facto de as pessoas não
quererem debater aquilo que realmente interessa (Futebol sem polémicas, falar
apenas do Jogo e de tudo o que está “dentro” dele e não à volta dele) surge a
indignação por perceber que as pessoas que mandam no Futebol também não estão
propriamente a trabalhar para a pacificação do desporto-rei português. Há
algumas pessoas que inclusivamente vivem apenas e só para atear fogos, para
lançar suspeitas, para criar polémicas e para alimentar fait-divers. São pessoas
que se dizem directores disto e directores daquilo, mas que mais não são do que
marionetas nas mãos de alguns doentes que são autênticos pirómanos do Futebol
Nacional.
No meio disto tudo, e tendo em conta que o Povo até costuma gostar de pão
e circo, quem perde é o Futebol. Perdem os Treinadores que realmente trabalham
bem e que nunca vêem o seu trabalho reconhecido. Perdem os Jogadores que
realmente têm potencial e que nunca chegam à ribalta por falta de atenção de uma
Comunicação Social cada vez mais “moça de recados” de alguns dirigentes do Futebol
Português. Perdem os Directores que realmente trabalham com qualidade, que
fazem muito com pouco e que vivem mesmo para ao seu clube, vivendo para servir
o clube e não para se servir do clube. Lá está, perde o Futebol!
Como se não bastasse toda a atenção que estes “contadores de histórias”
têm por parte dos Media, surge ainda o karma...O mesmo karma que pontualmente aparece para calar a boca
daqueles que uma semana antes choram pelos três pontos do adversário e uns dias
depois somam três pontos exactamente da mesma forma...
Sejamos sinceros: o VAR não veio diminuir em nada a polémica do Futebol em
Portugal. O VAR não toma decisões! O VAR não pensa por si mesmo, pois não tem
essa capacidade! O VAR não é objectivo porque depende da subjectividade de quem
está a controlá-lo e tomar decisões consoante aquilo que vê! O VAR veio, acima
de tudo, para assumir as culpas de um povo que não sabe nem gosta
verdadeiramente de Futebol. Basta olhar para as bancadas vazias semana após
semana para entendermos isso. Basta olhar para o número de associados dos
clubes que não lutam por objectivos europeus para percebermos isso. Basta
tirarmos as “palas” dos olhos para percebermos isso...
O VAR chegou e a culpa já não vai “morrer solteira”. Depois da “fruta” e
do “colinho” é altura do VAR assumir as culpas. E com isso as pessoas continuarão
a fingir que gostam de Futebol...
Laurindo Filho
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