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Há Quem Treine e Há Quem Vá ao Treino...


Ainda me lembro dos meus tempos de jogador. O empenho, a dedicação e o gosto que eu tinha a jogar eram exactamente os mesmos que eu tinha a treinar. Sim, como jogador, eu gostava de treinar. Pelo menos até ao dia em que percebi que já não concordava com muitas das decisões que estavam a ser tomadas em relação à equipa. Foi aí que decidi que já era altura de abandonar a “carreira” de jogador para começar a preparar a “carreira” de Treinador. Mas isto será tema de um outro artigo...
Hoje quero falar-vos do treino. De uma das inúmeras maneiras de olharmos para o treino. Quero falar-vos do treino na perspectiva de um Treinador que entende o treino como o momento em que se trabalha tudo o que tenha a ver com o jogo, de um Treinador que vê no treino o melhor caminho para que os jogadores possam perceber tudo o que é importante para o jogo em equipa e de equipa, de um Treinador que procura encontrar no treino as respostas para as dúvidas colocadas pela sua equipa e pelas equipas adversárias.
Recordam-se de ter iniciado este texto a afirmar que, enquanto jogador, eu gostava de treinar? Pois bem, eu gostava de treinar porque gostava de jogar, ou seja, eu gostava de treinar porque sabia que era ali (no treino) que eu ia aprender o que era necessário para jogar ao sábado ou ao domingo. Sabia, ainda que de forma subconsciente, que era através do treino que iria adquirir mais e melhores competências, as quais seriam uma mais-valia para mim e para a minha equipa. Para mim porque jogava e para a minha equipa porque quanto melhor fosse a minha preparação (subentenda-se, aquisição de competências e conhecimentos), melhor poderia ser o meu contributo para com a minha equipa.
E havia ainda outra razão pela qual eu gostava de treinar. Não sei se maior ou mais importante, mas era uma razão suficientemente grande para, durante anos a fio, eu ir treinar com vontade, com paixão e com alegria. Que razão era essa? Simples, eu detestava ficar no banco. Detestava!


Foi assim durante muitos e muitos anos, até ao momento em que percebi que o futuro passaria por outras funções, mas não como jogador. Deixei de jogar e comecei-me a preparar. Tirei o UEFA C, o UEFA B, comecei a treinar e, felizmente, continuo a fazer aquilo que mais me preenche do ponto de vista profissional (embora eu ainda não o seja): dou/oriento/ministro treinos.
Uma das coisas que a passagem de jogador para Treinador “trouxe-me” foi a capacidade para começar a distinguir a diferença entre treinar e ir ao treino. Era algo que me escapava quando eu jogava, mas que já não me escapa agora que sou Treinador. E cada vez mais, com as vivências e experiências acumuladas, com as diferentes personalidades com que tenho trabalhado, nas diferentes realidades em que tenho trabalhado, torna-se notório que existem jogadores que realmente treinam e outros que apenas e só vão ao treino. Percebem o que quero dizer?
Quantos de vós não conheceis ou treinais jogadores que treinam sempre nos limites ou até para lá dos seus próprios limites? Jogadores que nos surpreendem de dia para dia, que evoluem de forma tão notória quanto espectacular, que se superam e que procuram transcender-se a cada unidade de treino? São maravilhosos estes jogadores, não são? Enchem-nos de orgulho, motivam os colegas e motivam-nos até a nós Treinadores. E atenção que não estou a fazer qualquer tipo de distinção entre “carregadores de piano” e “artistas”, estou a falar apenas de jogadores que treinam e gostam verdadeiramente de treinar, que dão tudo o que têm e o que não têm, não por correrem mais ou saltarem mais, não por terem aprendido umas novas fintas ou simulações de corpo, mas sim porque encaram os treinos como um degrau da escada para o sucesso.
Mas infelizmente os plantéis não são apenas compostos de jogadores que gostam de treinar. Especialmente na nossa realidade amadora, certo? Quantos de nós não conhecemos ou já passamos pela situação desagradável de ter de lidar com um, dois ou três “Maradonas”, daqueles “pise bien” que deslocam-se ao campo de treinos apenas para passear a suposta classe que não têm, sem o mínimo de respeito pelos colegas que querem levar o clube para outros patamares, sem o mínimo de respeito pelo clube que lhes pagou a inscrição e lhes deu a honra de poder vestir o seu “manto sagrado”, sem o mínimo de respeito pelo trabalho do Treinador que ambiciona muito mais do que estar ali a aturar quem não quer nada com o Futebol?


Esses são os que vão ao treino...já sabem disso, não? Então também sabem que, normalmente, os que apenas vão ao treino até são mais talentosos do que a maioria dos seus colegas. E sabem que esses que apenas vão ao treino não gostam de ficar no banco de suplentes, pois, quando isso acontece, ou entram “aziados” e não ajudam em nada a equipa ou pedem para ir ao banho mais cedo quando esgotamos as três substituições. Já agora, vocês também sabem que, quando ficam de fora da convocatória num jogo a ser disputado em casa ou num campo próximo do nosso, esses que apenas vão ao treino nem sequer se dignam a ir ver os colegas a jogar. Não sabem?
Pois, é curiosa a proporcionalidade inversa presente naqueles que apenas vão ao treino. Quanto menos treinam, mais pensam que devem jogar. Alguns até argumentam que foram aos três treinos semanais e que o X foi titular quando foi a apenas dois treinos. E quando nós dizemos que a diferença entre ele e o X é que ele foi aos três treinos e o X treinou duas vezes...ah, o ar de espanto, de incompreensão, de raiva e de insatisfação (normalmente por esta ordem) que eles exibem.
Enfim, a consciência é um pouco como o espelho, já alguém dizia algures no tempo. E quem tem consciência de que realmente treina, sabe que vai jogar, especialmente se tiver um Treinador justo e coerente, que não liga a nomes, estatutos, graus de parentesco nem supostas esferas de influência. Quanto aos que não têm espelho (consciência) em casa, deixo-vos apenas uma pequena questão/provocação:

“Se acham que treinar é chato, imaginem agora como será ficar no banco de suplentes? “     


                                                                         Laurindo Filho



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