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A Gestão da Confiança do Guarda-Redes


A palavra confiança pode ter vários significados. Neste texto a Confiança refere-se ao “sentimento de segurança relativamente a si próprio; convicção do próprio valor;”. Uma das palavras que mais se usa na terminologia do treino é a Confiança. É normalmente associada ao atleta e como esta afecta pela parte negativa (falta da mesma) a sua performance. A Confiança é uma das palavras-chaves na preparação psicológica do Guarda-Redes. Porquê? Porque as acções dos Guarda-Redes estão bastante associadas a grandes níveis de complexidade técnico-táctica. E porque existe a relação com o erro, uma vez que, no caso dos Guarda-Redes, qualquer falha tem grandes repercussões no resultado final.
A Confiança pode ser gerida e até mesmo trabalhada em treino. Relaciona-se fortemente com os termos sucesso/insucesso (na acção). O importante na gestão da Confiança é gerir sucessos e insucessos em treino. Para isso, a complexidade dos exercícios é fundamental, daí defender que a Confiança é como uma casa, a qual deve ter uma base sólida, (o trabalho técnico, físico e táctico) que vai sustentar tudo o resto. Falhando na base estamos logo a falhar no resto do processo. Não é de um dia para o outro que os resultados serão visíveis, mas “o gestor” da Confiança em treino tem de ser o Treinador de Guarda-Redes.


Um elemento crucial neste processo é o atleta (e a sua individualidade). É essencial o conhecimento dos nossos atletas e saber aquilo que eles pensam que lhes faz bem para aumento da sua Confiança. Após este conhecimento, temos de ser capazes de perceber os momentos do atleta, se vem de um erro, se está frustrado por não estar a conseguir executar determinada técnica, etc.
Em termos de treino o meu conselho é tentarmos gerir as taxas de sucesso e insucesso e a complexidade dos exercícios ao longo da semana. A complexidade é importante porque exercícios de grande complexidade podem não ter, à partida, as taxas de sucesso desejadas. Será importante manter exercícios com menores taxas de sucesso e maior complexidade o mais afastado possível da competição, o que significa que quanto mais perto da competição nos encontrarmos, mais exercícios que aumentem a Confiança dos nossos Guarda-Redes temos de treinar (menor complexidade e maior taxa de sucesso).
Nesta linha de pensamento há duas questões que eu levanto: o treino integrado e o trabalho de velocidade de reacção (contextualizado). Quanto ao primeiro, um exemplo simples: quem não tem os Guarda-Redes naqueles exercícios de finalização em que muitas vezes é só avançado contra Guarda-Redes. Como é óbvio, este tipo de exercício pode aumentar a Confiança dos avançados, mas leva a que os Guarda-Redes muitas vezes tenham taxas de sucesso baixíssimas. Como resolver? Impor um objectivo especifico dentro de cada exercício, no qual saibamos que existe uma maior probabilidade do Guarda-Redes ter sucesso. Por exemplo, defender todos os remates de fora de área (num exercício de finalização aberto). Quanto à velocidade de reacção, é uma crítica que deixo em aberto. Normalmente fazemos muitos exercícios que não permitem aos Guarda-Redes ganhar Confiança, pois estes não conseguem defender a maior parte das bolas. Como fazer?


Gerir a Confiança no jogo é, a meu ver, essencial. Só podemos controlar o aquecimento e é nele que devemos incidir este trabalho. Perceber o momento do Guarda-Redes é crucial (se logo de inicio começa a falhar passes ou blocagens fáceis, etc.). Neste caso a resposta seria parar, dar um incentivo ao Guarda-Redes e focá-lo na tarefa. Se for um destes dias, o meu conselho é complexidade ZERO. Como escrevi a semana passada, “keep it simple, stupid”. Entender os nossos atletas, como referi acima. Cada Guarda-Redes deve ter uma parte do aquecimento em que possa escolher um ou dois exercícios ao seu gosto. Não me querendo alongar, nem todos os Guarda-Redes gostam de, por exemplo, fazer a finalização com a equipa.
Concluindo, a Confiança é um processo que deve ser extremamente bem gerido e que muitas vezes impede performances de bom nível. Gerir a Confiança cabe-nos a nós, Treinadores de Guarda-Redes. Mas muitas vezes o problema até é o mais simples de resolver. Boa luva é meio passo dado...

Juntos somos mais fortes!


                                                                       Miguel Menezes



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