Com o aproximar do início dos campeonatos distritais e com as primeiras
jornadas já disputadas nos campeonatos nacionais, algumas velhas questões vêm à
tona e parece que passado todo este tempo nem todos conseguiram ter uma leitura
exacta e perfeita daquele que deveria ser o caminho a seguir.
Manuel Machado disse, em resposta a uma pergunta durante a conferência de
imprensa pós-jogo com o FC Porto que: “O
que se passou no sábado no D.Afonso Henriques e na Luz e o que se passou hoje
aqui, como o que já tinha acontecido aqui na primeira jornada, resultados de
5-0, 4-0 e 3-0 merecem uma reflexão. Ou há um nivelamento maior entre os clubes
ou o espectáculo vai acabar. Os clubes pequenos são carne para canhão. (…)”.
O pragmático treinador Manuel Machado refere-se a um ponto chave no seu
discurso, afirmando que é necessário fazer-se uma reflexão sobre os resultados
das primeiras jornadas do campeonato português. E, como tal, não querendo
entrar em debates sobre a distribuição financeira entre clubes, nem algo que
parecido, remeto-me para a reflexão que deveria ser tida como necessária por
parte desses clubes.
Serão os métodos utilizados por estes Treinadores os mais adequados para
o actual crescimento visível num Futebol cada vez mais moderno e levado ao
pormenor? Terão espaço Treinadores como Domingos Paciência e Manuel Machado num
futebol cada vez mais recheado de bons valores emergentes, com novas ideias e
novos métodos, que visam proporcionar um Futebol cada vez mais atraente do
ponto de vista do espectáculo? Eu vejo Miguel Cardoso e Luis Castro a trazerem
as suas ideias de um futebol apoiado e com bons ensinamentos aos seus atletas.
Vejo um Estoril com um plantel que me agrada imenso, onde certamente surgirão
novos valores que irão dar que falar e com um futebol que irá surpreender ao
longo da época. Outras equipas vão também apresentando ideias e um futebol
interessante, mas estes são apenas os casos que me vêm directos ao meu
pensamento.
Reforçando esta ideia, será engraçado para o leitor (de modo a que se
consigam perceber alguns aspectos) perceber que Miguel Cardoso (actual Treinador
do Rio Ave) foi num passado não muito longínquo, adjunto de Domingos Paciência.
Coincidência ou não, a sua presença marca também os melhores momentos do actual
treinador do Belenenses. No momento em que se separam, Domingos não volta a
encontrar-se com os resultados e exibições e entrou numa espiral negativa em
relação a experiências em clubes. Coincidências? Acredito muito pouco nisso.
Acredito muito mais é que o mais fácil é não arriscar. Comparar as ideias
que estão a ser promovidas por Miguel Cardoso e o futebol (ou tentativa confusa
disso) por parte da equipa de Domingos Paciência seria um exercício difícil de
colocar em prática.
Todos temos ideias sobre qual o melhor Futebol e como deve ser praticado
dentro daquilo que preferimos. Até aí, não discuto nem questiono nada nem
ninguém em relação a isso. No entanto, e com um futebol cada vez mais visto
como uma modalidade levada ao pormenor, numa era cada vez mais moderna, será
que o típico “chuta na frente e estaciona o autocarro” ainda resultam? Será
que, visto ser uma equipa pequena e ter a derrota, como o cenário mais
provável, perante os chamados “três grandes”, não seria preferível colocar em prática
uma ideia mais positiva de jogo e dotar a equipa para expor o seu jogo, seja em
que ocasião for?
Sei que muitos de vós irão colocar em questão o facto das equipas não
conseguirem criar argumentos para equilibrar esses jogos, dada a diferença de
qualidade. Sei também que irão citar os ditos orçamentos dos clubes da primeira
liga e as suas diferenças. Em relação a tudo isto, orçamentos vencem jogos? É
assim tão certo que uma equipa com um orçamento maior vença o jogo? Então o Futebol
é uma modalidade de cariz previsível e as casas de apostas fartam-se de perder
dinheiro, é isso?
Surpresas acontecem todos os anos e temos o recente caso do Leicester em
Inglaterra (embora o futebol praticado fosse tipicamente inglês), Nice em
França ou Leipzig na Alemanha. Estes dois últimos, apesar de não terem ganho os
respectivos campeonatos, viram os respectivos Treinadores apresentarem ideias e
sugestões novas de um futebol de grande categoria.
Agora, e com o iniciar dos campeonatos distritais e dos campeonatos mais
jovens (Formação), o mais fácil é realmente, como ouvi por aí num destes dias,
“não inventar cá atrás, chutar na frente para o avançado e ele que se
desenrasque”. E é muito desse futebol que ainda se observa pelos distritos
fora, pois, fácil é não arriscar e não ensinar. Fácil é não arriscar no
primeiro terço de construção, começando a construção através de um chutão na
frente, o chamado “estica na frente e três à pesca”.
Natural será dizer que, contra equipas competentes e com um valor
acrescido, os três “ciclistas” não criarão os calafrios que costumam conseguir
nas defesas adversárias, tornando-se então uma presa fácil. Chega então a ser
confrangedor ver uma equipa a limitar-se a defender durante 90 minutos e a
chutar umas bolas para a frente para conseguir respirar durante alguns
segundos.
Fácil é não arriscar e não ensinar durante o processo formativo de um
atleta, difícil será quando eles entenderem que não irão chegar onde esperavam
e que o seu caminho enquanto futebolista poderia ter sido diferente se lhe
fosse ensinado o futebol moderno.
Ricardo Carvalho
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