Alguém sabe dizer quais são as três regras de ouro para se ser um bom
Treinador? Alguém quer arriscar um palpite que pretenda ser unânime ou, na
melhor das hipóteses, maioritariamente aceite por todos, sejam eles Treinadores
ou Adeptos? Bem sei que é difícil, até porque hoje em dia parece haver uma
cisão entre as opiniões que determinam o que faz um bom Treinador. Uns defendem
que um bom Treinador é aquele cujo Processo de Treino é notório no futebol
praticado pela sua equipa, outros acreditam que um bom Treinador é aquele que
procura reagir rápido à perda da bola e que procura actuar em constante pressão
sobre o portador da bola, uns quantos defendem que um bom Treinador é aquele
que defende bem e explora o contra-ataque, enfim, há uma vasta corrente de
opiniões e poucas ou nenhumas são unânimes.
Sinceramente, essa falta de unanimidade não me espanta nem me
escandaliza. Primeiro porque sou contra todo e qualquer tipo de unanimidade (a
História da Humanidade dá-nos imensos exemplos do que a unanimidade pode levar
o ser humano a fazer). Segundo porque o Futebol é paixão e é sentimento! Por muito
que se possa desejar que certas e determinadas doutrinas entrem em voga ou
sejam socialmente aceites de forma global, o ser humano escolhe aquilo com que
mais se identifica, aquilo de que mais gosta ou simplesmente aquilo que o faz
mais feliz. Se para uns o estilo é quase tudo para o alcançar determinados
objectivos, para outros o objectivo é o único foco realmente importante, sendo
o estilo uma invenção dos “líricos e dos poetas”.
Serve esta introdução para deixar bem claro que tudo é possível e
passível de acontecer no Futebol: seja o estilo, seja o objectivo, seja a
identificação com um estilo ou a preferência apenas e só pelo objectivo.
Perante este cenário, será que vale a pena procurar definir o que realmente faz
de um Treinador um bom Treinador?
Sem possuir quaisquer tipos de certezas dogmáticas ou verdades absolutas,
posso dizer apenas que sei o que, para mim, é um bom Treinador. Tenho as minhas
referências e todas elas são distintas: gosto de Guardiola, de Bielsa, de
Simeone, de Mourinho, de Klopp, de Conte, de Allegri, de Paulo Fonseca, de
Sarri, de Paulo Sousa, de Muricy Ramalho, do saudoso Telê Santana, de Del
Bosque, de Ancelotti, de Nageslmann, de Tuchel, de Sampaoli, só para dar um
pequeno exemplo. Estou a tentar descobrir mais sobre Cruijff, Lillo, Cano...
Gosto de um pouco de cada um, sendo que, obviamente, tenho a minha
predilecção, mas cada vez mais me apercebo que, no meio de um Futebol cada vez
mais complexo, ser simples pode passar a ser um caminho a seguir. Quiçá o
caminho a seguir. E se pensarmos bem, se olharmos para Del Bosque, para
Ancelotti e agora para Zidane...o que têm eles em comum?
Aproveitando uma conversa tida com José Boto, devidamente autorizada a
ser transcrita neste artigo (obrigado, uma vez mais, José Boto), dei-me conta
de um conjunto de pressupostos que alguém lhe deu a conhecer há uns anos em
Espanha, os quais são referentes ao que pode realmente definir um Treinador
como sendo bom. Passo a explicar: de acordo com um Treinador que ministrava
Cursos para Treinadores em Espanha (o qual escrevia estas três frases no quadro e
deixava-as à vista de todos até ao final do curso), o melhor Treinador é aquele
que...
- Escolhe os melhores
- Coloca-os nos lugares deles
- Não os chateia muito
Segundo esse Treinador, estas são as três regras de ouro para que todos
possamos ser um bom Treinador. Só isto, pensarão os leitores? Só isto e um
Treinador consegue ser um bom Treinador? Eu sei que parece redutor, mas acreditem que não é nada fácil conseguir seguir estas três regras.
Então e onde entram os processos, as
basculações, os contra-golpes e afins? Pois bem, se eu tivesse a resposta a todos estes enigmas, certamente que
os leitores já teriam tido acesso às minhas respostas, pois acredito na partilha
de ideias e de informação e acredito que aqueles que possuem mais conhecimento
devem partilhá-lo com os demais, de modo a ajudar os outros a serem melhores. E
quem ajuda os outros a crescer, cresce indubitavelmente mais do que se guardar
toda a informação para si...
Mas dar-vos-ei a minha opinião. Sou apologista do Processo de Treino.
Tenho a minha própria definição de Processo de Treino. Do meu Processo de
Treino. Não sei se é melhor ou pior do que os restantes, sei apenas que é meu.
E que surgiu como resultado de todas as experiências até agora vividas e de
todos os grupos de trabalho até agora orientados. Se durante estes anos de
experiência eu agi sempre de acordo com estas três regras de ouro? Não. Claro
que não. Ora porque as conjunturas não o permitiram, ora porque as minhas
opções não foram nesse sentido. Se o facto de não as ter seguido à risca
(desconhecia a sua existência até ao passado domingo, sou sincero) fazem de mim
um mau Treinador ou um Treinador menos bom? Penso que não, mas, e uma vez mais, todas as leituras são possíveis e passíveis de serem feitas.
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