Como em tudo na
vida, há evolução e o Treinador de Futsal foi evoluindo a sua forma de preparar
a equipa num sentido de responder a três problemas importantes:
- Pouco tempo de
preparação motivado pela não profissionalização da modalidade em 90% das
situações;
- Evolução da
modalidade aumentando as componentes de treino;
- Especialização
da modalidade, momento a momento do jogo e posição a posição;
Na verdade estes
problemas resultam quase na totalidade de factores positivos, no entanto a não
profissionalização da modalidade é algo que limitará o espaço de crescimento do
Futsal. Sorte a nossa que nos outros países fortes (excepção feita a Espanha) o
mesmo esteja a acontecer e os países mais fracos ainda tenham um caminho longo
a percorrer. No entanto, e abordando apenas superficialmente este problema (é
assunto para 20 dissertações e 40 encomendas de projectos de estudo), não sou
dos que acha que se tem que profissionalizar e ponto final.
Profissionalizar
o Futsal implica que o País tenha capacidade para apoiar essa
profissionalização, de modo a oferecer aos Treinadores e Jogadores a
possibilidade de apenas viverem do Futsal em todos os 14 clubes da Primeira
Divisão. Ora, no meio de uma crise financeira grande e num País em que o tecido
industrial não pode ou ainda não tem interesse em sustentar essa possibilidade,
e não podendo os clubes e a Modalidade estarem dependentes de apoios públicos (Munícipios
e outros apoios Públicos que possam existir eventualmente), não há
possibilidade de se exigir uma profissionalização do Futsal, ainda não estamos
preparados, ponto! No entanto também não podemos exigir que se consiga vencer
Brasil, Espanha, Itália ou, no futuro, que não se entenda o crescimento da
qualidade em Países emergentes. É assim que funciona, devemos ser exigentes e
querer sempre algo mais, mas devemos também saber “dar umas braçadas” antes de
saltarmos para uma piscina.
O treino entretanto
já abraçou uma quase profissionalização que demonstra bem a categoria do
Treinador Português, o qual, com menos tempo, menos recursos e maior pressão,
respondeu com categoria ao que se era pedido. Se o jogo pediu golos para vencer
e se o tempo restringe a capacidade de trabalho num sistema de jogo bem
mecanizado e oleado, apareceram as jogadas ensaiadas trabalhadas ao milímetro e
apareceu o Guarda-Redes capaz de gerir o jogo ofensivamente. Com isto
desapareceram os exercícios de mobilização articular individualizada grupo a
grupo, o trabalho de técnica individual exaustivo, a bola no saco durante os
primeiros momentos de treino e os momentos mortos no treino. Todos os segundos
contam para preparar o momento de jogo de uma forma prática.
Se a surpresa
passou a poder ser evitada, mas o tempo de treino passou a ser menor, ou o
mesmo, mas com mais componentes de treino, o Treinador passou a fazer o
trabalho de estudo da outra equipa, dando um briefing generalizado junto do
grupo e individualizando as acções defensivas e ofensivas que cada jogador deve
realizar, fim de semana após fim de semana. Ou seja, não havendo capacidade de
colocar os jogadores a pensarem e a trabalharem em exclusivo para o Futsal, o
Treinador encontrou maneira de acompanhar a evolução e crescimento da
modalidade de uma forma que permite preparar os jogadores quase de forma
profissional, poupando tempo de treino onde pode poupar, definindo as
prioridades, estudando as indivudalidades em prol do colectivo, quase
construindo uma casa em módulos, sendo que apenas os une aos fins de semana.
O treino evoluiu
porque assim foi preciso. Quem continua a fazer corrida, com bola durante 20
minutos, com intervalos de sprints ou com variações de movimentos para uns
remates à baliza acaba por perder o momento de treino exaustivo de uma bola
parada, o treino específico de marcação ao Pivot do adversário, a defesa do 5º
Homem ou o treino da jogada estudada “X” em detrimento de momentos que devem
ser trabalhados na Formação ou que simplesmente já não têm lugar no dia-a-dia
de um Treinador de Futsal Sénior.
Resumidamente, o
Futsal não é profissional, mas os Treinadores têm que o ser ao máximo, mesmo
que isso represente estarem no emprego a pensar no Treino. A exigência obrigou
a esse risco. O risco de se ser profissional na cabeça e coração, mas não na
carteira e no tempo de trabalho. O Futsal continuará a evoluir e o problema
aqui é a adaptação futura ao tempo de treino que se possa precisar para atingir
os objectivos ou para acompanhar a sua evolução, podendo ser a falta de
Profissionalização o maior bloqueador desse desenvolvimento. Está nas mãos dos
Treinadores o futuro do Futsal em Portugal e a manutenção ou desenvolvimento da
sua qualidade.
João Almeida
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