“O
conhecimento é o processo de acumular dados. A sabedoria reside na sua
simplificação.”, diria Martin H. Fischer.
Segundo o autor, quem conseguir armazenar o maior conjunto de dados e utilizá-los
de forma prática e simples, estará mais perto da sabedoria, certo? Retenham
esta citação na vossa memória ao longo deste artigo.
Todos teremos,
certamente, opiniões diferenciadas sobre o estilo do Treinador que preferimos e
temos como ideal. É sabido que o ser humano não é todo igual e que é isso que
nos diferencia, como tal, cada um de nós terá a sua preferência no perfil que
lhe agrada e na qual deseja seguir, aprender ou idolatrar.
Por cá,
estamos habituados a Treinadores com um perfil mais vistoso, atractivo ao nível
da comunicação, vagamente arrogante e deveras confiante em relação ao seu
trabalho e com uma imagem de controlo sobre toda a realidade à sua volta, dando
a imagem que irá triunfar, isto é, quase de certeza.
Em sentido
contrário, temos uma nova vaga de treinadores a surgir no meio profissional.
Low profile e com uma comunicação menos atractiva, mas bastante certeira e direccionada,
não dando pontos sem nós. Não assumindo uma arrogância bastante definida aos
olhos do público, sente-se a confiança que têm no seu trabalho e dão a imagem
que é através do trabalho que o irão demonstrar. É o grupo, um dos factores
mais importantes para o caminho a trilhar em direcção ao sucesso. Por isto
tudo, são também profissionais que gostam de falar sobre o jogo e percebem o
exacto sítio onde erraram (na grande maioria dos casos), conseguindo, de
seguida, corrigir e melhorar.
Independentemente
do gosto e da preferência de cada um de nós, é para mim importante referir que
quem gosta realmente do jogo e da modalidade conseguirá entender o que de
melhor cada um desses Treinadores têm e saber apreciar e aprender com o que nos
podem transmitir e ensinar com esses valores. Quero com isto dizer que tanto é
possível gostar de Guardiola ou Bielsa, como de Conte ou Simeone! São várias as
filosofias e nenhuma delas é a mais correcta. Aposto (e é sabido em alguns
casos), em como os nomes citados anteriormente também teriam as suas
referências e retiraram um bocadinho de cada uma delas até chegarem à sua
perfeição e à sua visão sobre aquilo que deve ser a pintura das suas telas.
Se sábio é
aquele que simplifica os dados acumulados, como citado no início do artigo, é
dentro da opinião dada anteriormente que apreciei Rui Vitória na última
temporada e naquilo que se foi jogando nas Conferências de Imprensa do Mercado
de Verão da época actual.
“Se tu conheces o teu inimigo e te conheces
a ti próprio, não precisas de temer o resultado de cem batalhas. Se tu te
conheces, mas não conheces o teu inimigo, em cada vitória ganha sofrerás uma
derrota. Se tu não conheces o teu inimigo nem a ti próprio, perderás todas as
batalhas…”, segundo Sun Tzu.
Era certo e
sabido que iria ter várias perdas de peças-chave do elenco passado, depois de
uma aposta maior na temporada anterior e, apesar de tudo, Rui Vitória continua
com o mesmo discurso, que chega até a causar algum constrangimento aos adeptos
benfiquistas. Com serenidade, olha para dentro da sua casa e não dá nem nunca
deu sinais de estar com dúvidas em arrumá-la. É possível afirmar que Rui
Vitória conhece-se a si próprio e procura conhecer o seu adversário ao
pormenor.
É perceptível
que o Futebol praticado pela turma benfiquista não é o mais brilhante a que
assistimos nos últimos tempos, mas é um Futebol algo simples e bastante
experiente dentro da realidade nacional. É, na minha opinião, visível a
experiência que o timoneiro benfiquista já detém e a confiança que consegue
transmitir à equipa apesar da imagem que, por vezes, transparece na Comunicação
Social.
Que Rui
Vitória não é considerado o Melhor Treinador da Liga Portuguesa entre os vários
adeptos, é algo que nem merece grande discussão. O Futebol não é vistoso, não
deslumbra e até carece de um grupo que tem de ser o mais forte possível para
resistir aos momentos de fraqueza em alguns jogos. Tudo isto não seria possível
se não estivéssemos a falar de vários jogadores com experiência de campeão e um
grupo alargado de jogadores que já tiveram o prazer de experienciar essa
situação.
Apesar de não
trazer grandes novidades ou inovações no Modelo de Jogo que nos é apresentado,
é visível o rigor no trabalho e o valor que é dado a elementos como a
concentração, o querer, a fé e o acreditar até ao final de que tudo será
possível.
É neste
sentido que vejo o sábio Rui Vitória a simplificar o conjunto de dados que adquiriu
ao longo dos anos e a colocar em prática de uma forma simplista. Quero com isto
dizer que é possível retirar do jogo a olho vivo que não há fórmulas sistematizadas,
mas sim, que o Treinador procura ensinar várias situações e deixar que os seus
jogadores decidam qual a melhor solução para cada momento (do jogo). Apesar de
não ser tão mecanizado, é bastante visível a simplicidade de processos
ofensivos a que recorrem os jogadores benfiquistas. Um rasgo de magia deste ou
daquele jogador e não é recorrente ver o Treinador gritar ao longo da linha a
dizer para fazer isto ou aquilo. É uma aprendizagem para cada um de nós, cada
um com a sua ideia e linha de pensamento.
Com a
quantidade e qualidade de atletas na frente de ataque, o sábio retira o melhor
de cada um deles, depois de ter adquirido um conjunto de dados suficiente para
perceber que quanto mais simples lhes conseguir transmitir certos valores, mais
facilmente eles irão colocar o seu melhor jogo em prática.
E, com isto,
torna-se possível retirarmos alguma aprendizagem sobre aquilo que o Treinador
benfiquista coloca nos seus processos, não? Pode não ser o Melhor Treinador de
Portugal, nem tão deslumbrante no perfume que coloca no seu jogo como, por
exemplo, Jorge Jesus, mas também é possível gostar do estilo do benfiquista.
Mas afinal, o
que é ser o Melhor Treinador? Do seu jeito, será aquele que conseguir colocar a
sua visão do que é o melhor Futebol para a equipa, de uma forma simples e
prática. Aquele que conseguir ter os jogadores a perceber as ideias pretendidas
e que os faça caminhar atrás de si, sem qualquer medo. Nesse sentido, deixo-vos
esta pergunta:
Afinal, quem é
ou quem são o(s) Melhor(es) Treinador(es) para o Leitor?
Ricardo Carvalho
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