Não querendo parecer demasiado defensor da minha paixão, a relação do
Treinador de Guarda-Redes com os seus Guarda-Redes é diferente. É especial! Não
deixa de ser a minha opinião, mas vejo esta relação de trabalho diferente de
todas as outras que existem entre Treinadores e atletas. As justificações podem
ser várias e irei abordar algumas mais à frente. Este tipo de relação que vou
passar a descrever tem bastante sucesso e, apesar de acreditar que possam
existir outras formas de gerir esta relação, não conheço nenhuma que tenha
melhores resultados. Como referi antes, é a minha maneira de ver as coisas.
Antes de mais, é importante referir que é diferente ser um Treinador na
Formação e um Treinador nos últimos patamares da Formação e nível sénior. A
principal diferença está com quem lidamos: crianças, jovens ou “homens feitos”.
Quero crer que nos patamares inferiores da Formação a relação que vou descrever
possa acontecer, mas terá sempre de existir um carácter mais autoritário.
Treinar crianças não é igual a treinar jovens ou “homenzinhos”. Tudo tem de ter
o seu peso e a sua medida. Apesar disso é importante dizer que o perfil do
Treinador de Guarda-Redes ao longo das várias etapas de Formação deve ir
mudando assim como a sua relação com os Guarda-Redes.
Nas várias formações que frequentei, em mais do que uma tive a
oportunidade de ouvir falar o Guarda-Redes do Estoril, José Moreira. Uma das
perguntas mais típicas era sobre a sua
relação com o seu Treinador de Guarda-Redes e quais eram as características
fulcrais dessa relação. Moreira fala do Treinador de Guarda-Redes ser para si quase
“um pai”. E faz sentido em certa parte. É no Treinador de Guarda-Redes que ele
vê uma pessoa que é o seu apoio (no seu trabalho dia-a-dia) e deposita a
confiança para o ajudar a melhorar todos os dias. É um pouco o “trabalho” de um
pai, aconselha e está connosco nos bons e maus momentos. Vai ajudar-nos a
ultrapassar o erro e vive a nossa dor. É uma relação de amizade em que, como
numa relação familiar, existe o estatuto hierárquico (pré-definido) e onde
existem limites bem definidos da relação.
É importante dizer que cada relação é diferente. Logo à partida porque as
pessoas são diferentes e, portanto, têm personalidades e bagagens diferentes. O
essencial é haver uma linha de pensamento comum no relacionamento entre o
Treinador de Guarda-Redes e os seus atletas. E aqui volto ao Moreira.
Compromisso, Honestidade, Justiça e, se possível, serem amigos foram alguns dos
traços que ele definiu como essenciais numa relação positiva. E a meu ver faz
todo o sentido!
O Treinador de Guarda-Redes tem de estar comprometido com o seu trabalho
que é o trabalho dos seus Guarda-Redes. Cabe-lhe a ele potenciar e ajudar o
rendimento dos seus atletas. O seu trabalho vai transparecer através dos “seus
meninos” e por isso deve estar comprometido com o resultado final: o rendimento
do Guarda-Redes. A Honestidade e a Justiça são características, a meu ver,
essenciais em qualquer relacionamento positivo. Vivendo um pouco no meio nem
sempre é fácil ser 100% honesto e justo porque muitas vezes a nossa tarefa passa
por “proteger” os nossos Guarda-Redes. Quanto à amizade, penso que seja um
produto de tudo o resto que pode ou não acontecer. Quer queiramos quer não,
esta relação será próxima e extensa.
Para finalizar, volto a referir que não há uma única forma de atingir o
sucesso. Quer o sucesso seja rendimento e/ou uma relação positiva entre os
vários intervenientes há características que são essenciais. Nós, Treinadores
de Guarda-Redes, temos de ser os primeiros a criar o bom clima e a ganhar a
confiança dos nossos atletas através do nosso trabalho. Não estando este passo
feito com qualidade dificilmente a relação será positiva de futuro.
E vocês, como é a vossa relação com os vossos Guarda-Redes?
Juntos somos mais fortes!
Miguel Menezes
0 Comentários