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Os Atletas Não Devem Ser Tratados Todos da Mesma Forma


Longe vão os tempos em que a informação era escassa e de difícil obtenção. Longe vão também os tempos em que errar era bastante mais provável e inevitável do que na actualidade. Longe e bem longe vão as ideias pré-concebidas e passadas através do senso comum. Vivemos numa realidade completamente diferente e tudo o que hoje é garantido e sabido, amanhã, de facto, deixou de o ser. Todos os dias temos novos génios dentro do meio, com várias áreas a serem constantemente estudadas e aprofundadas, construindo novos métodos e novas armas que estejam ao dispor dos Treinadores.
Como é cada vez mais discutido, todas as características devem ser conjugadas e colocadas ao dispor da equipa. Distantes vão os tempos em que se trabalhava o táctico separado do físico e o psicológico não entrava sequer nas contas. Pois bem, tudo mudou e para melhor, pois são cada vez mais os profissionais que concebem novas ideias e que fazem mudar o pensamento dos interessados.
Como tal, trago-vos hoje uma célebre frase que ouço desde mais novo e que tinha de ser seguida à risca: “Os atletas têm de ser todos tratados da mesma forma.”. Não é que a frase seja pouco esclarecedora ou que tenho algo de controverso, mas vai um pouco contra tudo aquilo que defendo e contra tudo aquilo que vejo a ser realizado na actualidade.
Sei que, neste momento, na cabeça do leitor haverá possivelmente alguma dúvida em relação ao que proferi anteriormente, mas na realidade tudo é bastante mais simples do que poderá parecer e tenho a certeza que no final estaremos de acordo.
Assim sendo, e apesar de entender a lógica e o sentido da citação, parece-me por demais lógico que todo e qualquer membro de um grupo saberá distinguir os elementos que trazem um valor acrescido com a sua presença. Saberão, num momento de indecisão, aceitar o facto de um jogador regressar de uma lesão menor e, pelo seu estatuto, nunca numa espécie de “lugar reservado e sagrado” (atenção), voltar directamente para o onze. Não me refiro a situações recorrentes com o mesmo atleta, mas sim de situações esporádicas. Saberá o grupo definir aquilo que será melhor para todos e caberá ao Treinador entender também essa situação.


Contudo e não querendo entrar por essa via, torna-se importante o conhecimento da mente do atleta e do treino em cima desse aspecto. Refiro-me com o título do artigo a um conhecimento bastante pormenorizado do atleta e da sua reacção perante a situação/acção do momento. Se saberá reagir, se paralisará ou se eventualmente nem quererá saber, são o tipo de reacções que o Treinador deverá ter em mente no contacto com os seus atletas. Dentro dos vários tipos de representações onde os perfis dos atletas se poderão encaixar, é vital para o sucesso e para o não desperdício do elemento mais importante para o Treinador, o tempo, que o Treinador rapidamente consiga inteirar-se que tipo de representação tem cada um dos seus atletas.
Com isto torna-se bastante perceptível que longínquos vão os tempos em que meia dúzia de “berros” com os atletas, bastante feedback negativo ou até a falta de feedback, pois o atleta estaria apenas a cumprir a sua obrigação ao estar a “fazer as coisas bem feitas”, tudo isso chegaria para o atleta render e “tens é de andar”. É cada vez mais perceptível o estudo de outras áreas que poderão ajudar a elevar o rendimento do atleta, algo nunca antes imaginado.
E porque toda a realidade mudou, hoje o atleta é bastante mais aconselhado e acompanhado. É de capital importância que se perceba que o atleta actualmente precisa de ser bastante mais acarinhado durante as etapas de Formação e de uma preparação gradual para o duro que irá ser a sua vida no futuro, num meio recheado de outros adultos, também eles preparados com um carinho especial.
Cada atleta terá de ser respeitado e teremos nós, Treinadores, o dever de saber “partir para cima” com certo tipo de atletas quando falham, com outros manter um tom sereno e amigável enquanto tentamos que entendam o seu erro e ajudamos a melhorar, ou outros em que simplesmente não vale a pena estar a insistir no erro que cometeu, pois o próprio atleta saberá dar a volta e percebe através de uma descoberta guiada, onde errou e onde poderá melhorar. Por muito que nos custe, não pode é o Treinador esquecer que, de facto, nenhum atleta gosta de errar e que não o faz de propósito. Faz sim, pois faz parte do seu processo de crescimento e será a partir daí que surgirá a evolução, consoante o espaço que lhe for concedido para isso.


Surgiu este artigo, numa de várias leituras de Verão enquanto se aguarda pelo iniciar de pré-época e também enquanto via o Real Madrid jogar na Supertaça Espanhola. Servem de perfeito exemplo e dará para reforçar a minha ideia. A principal vitória de Zidane dentro do Real Madrid tem sido claramente a gestão de egos dentro daquele terrível “cemitério de Treinadores”. Desde a sua chegada, o clube tem conquistado títulos como há já algum tempo não se via e o Real Madrid acalmou um pouco em termos de contratações megalómanas. Nisto, pensam vocês, que seria possível tanta conquista se o Treinador não compreendesse como actuar perante cada um daqueles elementos? Perante a sede de vitórias de alguns daqueles elementos mais antigos dentro do plantel, da vontade de triunfar de alguns dos novos jovens e craques que compõem o plantel ou de artistas como Casemiro que pretendem demonstrar que têm o necessário para estar no Campeão Europeu, pensam que seria possível tanto troféu se o Treinador não os tratasse a todos de forma diferenciada?
Terá sempre de existir um critério uniformizado e bastante perceptível para os elementos pertencentes ao grupo, mas cada um dos atletas deverá ter o seu espaço e o Treinador deverá então saber interagir de forma correcta com eles, sabendo onde tocar e a forma como chegará até eles para conseguir o melhor rendimento mental e, de seguida, desportivo. É então, Zidane um grande gestor de recursos humanos e até poderá nem ser o melhor Treinador do Mundo (seguramente), mas conseguiu deixar, para já, a sua marca com o seu conhecimento através da mentalidade imposta e do trabalho de grupo que consegue estabelecer. Seria interessante perceber como ele lida com cada um dos egos dos seus atletas, não? 

                                                                       Ricardo Carvalho



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