A maioria dos clubes de Formação começa em breve (ou já começou) as chamadas
Pré-Épocas, com vista à preparação dos atletas para os seus campeonatos.
Parece-me lógico associar estes momentos que antecedem a competição a momentos de
grande aprendizagem com a transmissão dos novos conceitos dos Treinadores aos
atletas. Tratando-se de um momento de adaptação por si só, haverá razões que
levam a que os atletas cometam muitos ERROS! Como é que cada Treinador lida com
os erros do atleta? Como comunicar os erros? E como reage o próprio atleta a
essa informação?
Simplificando, poderemos apresentar dois cenários antagónicos: o do Treinador
que depois do erro reprime de maneira viril o atleta (como diz a gíria, “racha”
o atleta) e depois corrige; e o do Treinador que face ao erro do atleta motiva
e depois corrige.
No primeiro cenário as sucessivas advertências /repreensões promovem a
diminuição da confiança do atleta, podendo levar a uma quebra da sua auto-estima
e ainda abalar a sua imagem perante os colegas.
No segundo cenário, o Treinador, ao motivar, provavelmente conseguirá com
que o atleta reaja melhor ao erro e que não se sinta diminuído perante os
colegas e assim procure constantemente melhorar.
Como “ninguém nasce ensinado”, durante um processo de aprendizagem
devemos saber conviver com o erro. Cabe ao Treinador a tarefa de ser paciente
perante o erro e de intervir no sentido de o suprimir de forma a que os atletas
o compreendam.
Muitos Treinadores perdem o controlo quando os atletas cometem erros que
são perfeitamente habituais e em vez de se concentrarem em aspectos do treino
que se deveriam corrigir, reagem com comentários inúteis. Esta atitude só leva
a que aumente a insegurança do atleta podendo até fazer com que o Futebol se
torne numa experiência negativa. Não se deve exigir dos atletas de Formação mais
do que eles podem dar, assumindo e tolerando múltiplos erros que serão normais
nestas idades.
Também não devemos corrigir todos os erros de forma contínua, pois isso
limita a disposição do jogador de arriscar e optar por novos caminhos. A
diversão e o prazer dos jovens atletas em treino são condições necessárias para
se expressarem com liberdade, originalidade e serem criativos em jogo. Dá para
imaginar a cabeça de um jovem atleta depois de uma sessão de “martirização”
pela parte do Treinador? Será que continuará a gostar de Futebol? Como reagirá
com os erros do futuro?
A atitude do Treinador nos escalões de Formação deve ser positiva e
construtiva, criando uma atmosfera de tolerância ao erro, onde os jogadores
devem ter a oportunidade de ousar, improvisar e arriscar, jogar sem medo diante
da possibilidade de cometer erros. O Futebol nestas camadas tem que ser uma
diversão, não uma obrigação ou um lugar para a frustração. Um jovem ou uma
criança que constantemente é “rachada” não terá esse espaço de aprendizagem,
nem essa liberdade. Para mim, deverá por passar algo do género Erro ->
correcção -> Motivação.
Nós, Treinadores, por vezes não temos bem a noção do tipo de feedback dado ao longo do jogo ou treino
e isso tem elevada importância para melhorar a equipa. Não pode haver espaço na
Formação para “Treinadores” onde, depois do erro, a correcção é substituída por
uma gritaria a dizer que fez mal, sem explicação do que fez mal e da forma como
deve ser feito. Será mais benéfico dizer após o erro: “passaste mal!” Ou
“levanta a cabeça antes do passe!” Ou ainda, “corrige a posição do pé de apoio!”.
O erro está sempre presente nas nossas decisões e os atletas
independentemente da idade têm que fazer escolhas e decidir nos vários momentos
de jogo! Essas tomadas de decisão, fazem com que o jogador erre mais, ou menos.
Normalmente erra menos, quem “mentalmente” for mais forte!
Claro que nem tudo é tão linear, pois existem diversos tipos de atletas,
lidando, portanto, de forma diferente à correcção do erro. Também na análise do
erro teremos de considerar e distinguir se este aconteceu por motivações interessantes
ou por facilitismos ou desinteresses!
Acima de tudo temos
que dar liberdade aos jovens para que possam tomar decisões e experimentar…
Errar é humano e o erro é muitas vezes pedagógico num processo de melhoria
dentro da equipa!
Rui Gomes
0 Comentários