Actualmente a
alimentação assume uma grande importância na nossa vida. Uma alimentação
saudável e equilibrada é fundamental para a nossa saúde e bem-estar e isso reflecte-se
em várias actividades do nosso dia-a-dia. Para quem pratica desporto, e mais
concretamente Futebol, sem dúvida que este é um tema a valorizar já que a prática
regular de uma actividade física deve estar ligada a hábitos alimentares
adequados que não comprometam o desempenho. Uma alimentação equilibrada, em porções
correctas e a horas certas são determinantes para o bom rendimento físico dos atletas.
Os clubes de referência mundial já se
aperceberam das vantagens alimentares no rendimento dos atletas e possuem os
seus próprios nutricionistas, os quais estão integrados nas Equipas Técnicas. Cada
vez mais os atletas tomam as suas refeições nos clubes, onde é possível ter um
maior controlo alimentar. Quando as refeições são feitas fora do clube, são
aconselhados pelos nutricionistas sobre qual será a melhor opção para cada
jogador. Um atleta bem nutrido tem à partida um melhor desempenho durante a
prova do que aquele que não se alimentou o suficiente ou que o fez de forma
desequilibrada.
Mas isso
acontece apenas em contexto profissional. Numa realidade mais amadora (ou não
tão profissional) são os atletas ou os pais, regra geral, quem se preocupam com
tudo o que tenha ver com a alimentação diária. Não sendo especialistas acabam
por ter muitas dúvidas e cometem alguns erros que vão afectar o rendimento do
atleta durante os treinos e jogos.
Quem nunca
teve dúvidas como:
“Quanto tempo devo deixar entre a
refeição e o treino/jogo?”
“O que devo evitar comer e beber
antes do treino/jogo?”
“Os doces auxiliam o meu
rendimento? “
“ De que forma a ingestão de
líquidos pode afectar o meu rendimento desportivo?”
Para responder
a estas questões convidei os nutricionistas Ana Silva e Nuno Matias para
participarem neste artigo e desenvolver um pouco esta temática.
“Quanto tempo devo deixar entre a refeição e o treino/jogo?”
A refeição
pré-treino/jogo é extremamente importante e, por isso, nunca deve ser
esquecida! Em primeiro lugar, caso não costumes comer antes de praticar
exercício físico, deves começar a criar esse hábito. Só depois de estarmos habituados
(as) a comer antes do treino/jogo é que vamos trabalhar para otimizar essa
refeição, como iremos ver de seguida.
O processo da
digestão dos alimentos é muito variável e difere de organismo para organismo,
devendo ter sempre uma abordagem individual. Contudo, há alguns pontos comuns.
A quantidade de alimentos ingeridos é dos pontos mais importantes a ter em
atenção.
Quando
ingerimos uma maior quantidade de alimentos, como o caso do almoço ou jantar, é
necessário esperar um pouco mais até se começar a treinar. Regra geral, neste
caso deve-se espaçar no mínimo 2 horas e meia a 3h entre a refeição e o treino.
Já no caso de
refeições mais pequenas, como o pequeno-almoço e os lanches, o intervalo deve
ser mais curto. Consoante a tolerância de cada um e o tipo de alimentos
ingeridos, pode-se comer entre 10 minutos a aproximadamente 1 hora antes do
treino.
Convém não
esquecer que cada organismo reage de maneira diferente aos alimentos ingeridos,
por isso cada caso deve ser abordado individualmente!
“O que devo evitar comer e beber
antes do treino/jogo?”
Mais uma vez,
a resposta a esta pergunta é: depende. Depende de muitos factores como as
preferências, a tolerância aos alimentos, o metabolismo de cada pessoa, entre
outros. Apesar disso, alguns alimentos devem ser evitados, como por exemplo:
- Alimentos
ricos em fibra;
- Alimentos
ricos em gordura;
- Alguns lacticínios;
- Bebidas com
gás.
A ingestão de
fibra alimentar é benéfica em várias alturas do dia, mas antes do treino vai
ter um efeito indesejável, pois atrasa a absorção de nutrientes e pode causar
desconforto intestinal (“dores de barriga”). Alguns alimentos ricos em fibra
são o pão/cereais/bolachas integral, a aveia, leguminosas (ex: feijão,
grão-de-bico, soja), entre outros.
Nota: alguns
alimentos integrais, além de serem ricos em fibra, são também ricos em gordura
e/ou açúcar!
À semelhança
da fibra, o consumo de alimentos ricos em gordura (mesmo gordura vinda de
fontes boas) atrasa o processo de digestão, retardando assim a absorção dos
nutrientes. Portanto, alimentos como por exemplo os frutos oleaginosos (ex:
amendoim, noz, avelã, amêndoa, pinhão), as carnes com mais gordura, os peixes
gordos (ex: dourada, salmão, arenque, cavalam atum) e os enchidos são de evitar
ingerir antes de treinares.
Já no que diz
respeito aos lacticínios, a sua ingestão é variável consoante a tolerância de
cada pessoa. É frequente encontrar pessoas que têm desconforto abdominal quando
ingerem lacticínios e a seguir vão praticar exercício físico. Contudo, os
derivados do leite, como o iogurte e o queijo, são mais facilmente tolerados do
que o leite em si.
Por fim, as
bebidas com gás também devem ser evitadas, uma vez que o gás expande no
estômago, levando à indisposição. Não te esqueças que não são só alguns
refrigerantes que têm gás. Algumas águas gaseificadas, como a Água das Pedras ou Frize também têm quantidades significativas de gás!
Além destes
exemplos, se notarem que não se sentem bem durante o treino após ingerirem
algum alimento diferente do habitual, não voltem a consumi-lo antes do treino.
Nota: sempre
que quiserem saber se toleram ou não determinado alimento, façam a experiência
num dia de treino e não de jogo!
“Os doces auxiliam o meu rendimento? “
Os doces
isolados, no geral, não são aconselhados. Seja associado ou não à prática de actividade
física, o açúcar refinado é prejudicial ao organismo. No caso de ser consumido
antes do treino poderá prejudicar o rendimento de duas formas: a primeira está
associada ao pico glicémico que a ingestão de uma grande quantidade de açúcar
poderá provocar, pois a seguir a um aumento brusco da quantidade de açúcar no
sangue vem uma diminuição brusca, que pode mesmo provocar tremores e tonturas,
baixando completamente o rendimento; a segunda está associada ao facto de os
doces, além de conterem muito açúcar, também contêm um elevado teor de gordura,
a qual não deve ser consumida antes do treino, pois além de poder causar mau
estar, diminui o rendimento do atleta.
Durante o
treino a ingestão de alguns doces, como os cubos de marmelada ou similares,
pode ser benéfica e neste caso já não se verifica um pico glicémico, visto que auxilia
o atleta a manter os níveis de energia durante todo o treino/jogo. Não nos
podemos esquecer que cada atleta é um atleta e reage de formas diferentes, há
que se conhecer e saber qual a melhor estratégia nutricional de cada um.
“ De que forma a ingestão de líquidos pode afetar o meu rendimento
desportivo?”
A hidratação é
dos factores que mais influência tem no rendimento do atleta. Um atleta
hidratado e bem nutrido consegue obter melhores resultados, manter os níveis de
concentração mais elevados durante mais tempo, estar mais protegido contra
lesões musculares e fadiga e a recuperação é feita em menos tempo e com menos
sequelas.
Quando falamos
em hidratação, não falamos apenas em ingestão de água. Temos que ter também em
consideração a ingestão de minerais. Estes servem para conseguirmos um
equilíbrio hídrico intra e extra celular, essencial para o bom desempenho
muscular, mesmo ao nível energético.
A hidratação
deve ser feita durante o treino, antes e depois. É essencial o atleta ir para o
treino completamente hidratado e continuar esta hidratação posteriormente, pois
durante o exercício irá existir uma perda de líquidos e de minerais que não
consegue ser compensada somente com a hidratação durante o treino.
Existem várias
opções ao seu dispor. Desde a simples água com açúcar e sal até às bebidas
isotónicas disponíveis no mercado, a escolha é abrangente e adaptável a
qualquer bolsa.
Dependendo
do tipo de treino, duração e objectivos a atingir, o atleta pode ingerir uma
bebida isotónica ou energética. Os resultados não são sempre os mesmos e depende
não só da modalidade como também da constituição e metabolismos próprios de
cada atleta.
Os
exercícios físicos que visam criar mais massa muscular ou manter a existente,
necessitam mais de bebida puramente isotónica, tendo a energética um papel
praticamente irrelevante. No entanto, se o exercício físico é mais do tipo
endurance, quer para melhorar o aspecto cardiovascular quer para perder algumas
gorduras localizadas, a bebida energética assume um papel muito importante, já
que desta forma o atleta consegue efectuar o exercício a um nível mais alto e
durante mais tempo, factores que contribuem para melhorar a capacidade
cardiovascular, cardiorrespiratória e perda de massa gorda. Deve no entanto
manter-se hidratado durante todo exercício, ingerindo bebidas isotónicas. No
caso de atletas com tendências hipoglicémicas, podem também adicionar alguns
hidratos de carbono a fim de poderem evitar um choque hipoglicémico.
A alimentação
do atleta deve ser individualizada, não existem refeições-padrão, o adequado
para um atleta pode não ser o adequado para outro. Há que avaliar cada caso,
conhecer muito bem o atleta, perceber quais as estratégias que podem elevar o
seu rendimento e melhorar a sua recuperação, a fim de atingir o sucesso de
forma saudável e duradoura.
Rui Gomes
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