Quando decidi
“arriscar” e aceitar este desafio do Clube Condeixa, os meus amigos com alguma
piada interpelavam-me entre risos: “Então pá? Balneário só de mulheres…”. Já os
meus colegas Treinadores, um pouco mais a sério diziam-me: “Caramba Zé, como
consegues falar e gerir mais de 20 mulheres? Como é isso de fazer uma palestra
e ter tanta mulher a olhar para ti”?
Gerir um
plantel e um balneário de mulheres é um dos grandes desafios do Futebol Feminino.
Há 15 dias afirmei que as jogadoras são exigentes ao nível do treino. Agora
imaginem no contexto grupo/balneário. Elas não acreditam em qualquer coisa que
lhe digas, estão sempre à procura que proves que és realmente bom e que elas
podem confiar.
Todos nós na
nossa vida convivemos com mulheres. A mãe, a irmã, a mulher, a filha ou a
amiga. Sabem onde quero chegar, não é? Imaginem um balneário, onde todas são
diferentes quer ao nível de maturidade, experiência ou feitio.
Lembro-me da
minha primeira conversa de balneário e de ver algumas das suas caras: “Olha-me
este…mas quem é este tipo a tentar dar-nos música”? Não ouvi isto é certo, mas
era o que diziam os seus olhos. Sabem aqueles olhares que te fazem quando
chegas tarde a casa e estás a justificar-te? Foi mais ou menos isso!
Eu entrei em Dezembro
de 2015 e o facto de substituíres um Treinador que dizia X e agora estares a
tentar dizer Y cria desconforto e desconfiança. Havia que mudar o chip naquelas
cabeças!
O plano até Junho
foi simples: “Dentro de campo dar a entender o jogo o máximo possível e, fora
dele, perceber quem eu queria que trabalhasse comigo na época seguinte, ou seja,
quem eu queria no meu balneário para 2016/2017”. Os reforços não teriam de ser
apenas “bons no campo”, mas acima de tudo “bons no que diz respeito ao grupo”.
O caminho até perceberem
a tua mensagem e acreditarem nela não é fácil e tal como a nível de treino é um
desafio. O maior que tive até hoje! Na brincadeira costumo dizer aos amigos: “
depois disto, estou preparado para qualquer coisa“. E é verdade!
Quando bates à
porta e perguntas: “Posso meninas”, tens de entrar com luvas e bisturi. Cada
palavra, cada gesto, tudo é avaliado. Elas melhor que ninguém sabem se
realmente estás a dizer a verdade quando dizes que estás confiante! Como podes
dizer uma coisa dessas e elas sentirem nos teus olhos, gestos e dicção que lhes
estás a dar tanga? Tal como em casa, se dás tanga elas não confiam, elas ficam
de pé atrás! E tu não queres 20 mulheres assim, pois não?
Por exemplo,
já esta época, em Salvaterra de Magos, perdíamos 2-0 ao intervalo! Vínhamos da
primeira derrota na prova e encontrei um balneário destruído com este
resultado! Sim, eu disse-lhes olhos nos olhos que iríamos ganhar! Que ninguém
saía dali sem os 3 pontos. Não queria o empate, queria a vitória! Marcar cedo,
relançar o jogo e dar a volta!
Elas
acreditaram! Não duvidaram! Ganhámos 2-4!
No final, uma
atleta aproximou-se e disse-me: “Mister, eu e as minhas colegas acreditámos
muito em si e fomos até ao fim…mas…e o Mister acreditava?
Aqui para vocês
digo, por acaso sim! Mas isso não interessa nada, interessa é que elas
acreditaram!
Não é nada fácil,
mas se fosse não metia piada!
José Sobral
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