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Os Perigos para o Futebol Feminino em Portugal


Um dos problemas da sociedade é viver com as ideias dos outros em vez de reflectir e raciocinar. Um dos graves problemas da Comunicação Social é influenciar a sociedade, de forma positiva ou negativa, passando a informação consoante as necessidades noticiosas.
Centrando a linha de pensamento na introdução acima, é importante informar, e definir, que, em Portugal, apenas uma minoria conhece a realidade do Futebol Feminino e, pior que isso, não sabem a dificuldade que existe em mais de 90% das equipas nacionais, nem a forma como são geridas.
Depois da fantástica qualificação da Selecção Nacional Feminina para o Campeonato da Europa de 2017 e da entrada de Sporting Clube de Braga e Sporting Clube de Portugal no Campeonato Nacional de Futebol Feminino, criou-se a ideia que tudo corre bem e que os clubes têm todo o apoio para crescerem. E o perigo começa aqui. Apesar do grande trabalho que a FPF está a realizar, existe um hiato na forma como os clubes realizam e processam as suas equipas.
A primeira grande dificuldade existe logo na imagem negativa que mentes fechadas atribuem ao Futebol Feminino, e isso inclui, não só o público, como dirigentes e treinadores dos próprios clubes.
Um segundo obstáculo centra-se na questão dos apoios dados para a área de treino. É incrível a forma como a maioria dos clubes, com Futebol Masculino, encaixa a equipa Feminina no planeamento, como se fosse um fardo para a estrutura e não têm noção da responsabilidade que isso acarreta e dos problemas que isso causa.
No seguimento das dificuldades em conseguir balneários e campo para treinar, encontramos os Treinadores que tentam construir uma equipa sénior feminina à imagem do Futebol Masculino e, aqui, temos um impasse gritante para a evolução do Futebol Feminino. Integrar e treinar jogadoras numa equipa com idades compreendidas entre os 15 e 40 anos, maioritariamente sem formação futebolística, é uma tarefa que obriga a um conhecimento e compreensão que vai muito para além da técnica e da táctica. A Formação do Treinador ultrapassa as fronteiras do treino. Um Treinador de Futebol Feminino treina todos os escalões no mesmo treino, isto é, tem de ensinar jogadoras, que sendo juvenis, juniores e seniores, já treinam no escalão sénior, mas com comportamentos futebolísticos de Infantis, Iniciadas ou Juvenis. Esta conjugação obriga a entrar numa performance mais holística, de gestão pessoal, interpessoal, de recursos humanos e na vida pessoal.


O perigo reside em queimar etapas de Formação, obrigando jogadoras a partir dos 15 anos, que iniciam actividade num clube enquanto seniores, sem conhecimento futebolístico prévio, que não estão despertas nem treinadas para questões técnicas, tácticas e físicas. O treino passa a estar condicionado entre aprendizagem básica e semi-profissional, no sentido do bom desempenho e da performance desportiva.
A qualidade está a subir, a Formação que se iniciou dará frutos dentro de 6 a 9 anos, mas a maioria dos clubes não tem capacidade para formar, não tem tempo, espaço, vontade, recursos humanos e competência. O que pode levar ao afastamento de inúmeras equipas do Campeonato Nacional nas próximas épocas. Por exemplo, imaginemos que um clube de I Liga, em Coimbra, decide formar uma equipa Feminina sénior. É fácil perceber que as equipas da zona centro, como Cadima, Condeixa, Lordemão, Poiares e Ferreirense, perderiam jogadoras não só pela qualidade, mas também pela visibilidade, o que causaria enormes dificuldades em criar novas equipas competitivas por não se apostar na Formação específica de Futebol Feminino. O perigo de perder jogadoras existe para todas as equipas, mas para quem não faz Formação o problema de fechar portas é bem maior.
Daí defender que qualquer equipa que tenha um plano estratégico e queira crescer deve, obrigatoriamente e no mínimo, ter dois escalões com o máximo número de atletas possíveis, até sub-16 e mais de sub-16.
Julgo que ao não cumprir a maioria destas preocupações que partilho, a desmotivação e os resultados, num curto espaço de tempo, acabarão por definir uma linha de equipas nas cidades com maior população na zona litoral, levando ao afastamento de muitas equipas de locais em que a densidade populacional é menor.
De qualquer forma, da próxima vez que observar um jogo de Futebol Feminino, lembre-se que em campo poderá não estar uma jogadora de futebol mas sim, uma Adolescente ou Mulher, que tem paixão por jogar futebol e está a iniciar a primeira ou segunda época futebolística.

                                                                             Filipe Silva



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