Quantas são as
vezes em que se fala em Etapas de Formação num atleta e depois nos esquecemos
de as cumprir na íntegra, deixando o resultado de lado, pois a maior vitória de
um Treinador de Formação tem que ser conquistada no futuro com uma correcta
formação desportiva, pessoal e social.
A qualidade de
um Treinador de Formação nunca poderá passar exclusivamente por uma avaliação
de resultados no campeonato. A qualidade do Treinador terá de ser avaliada
através da qualidade e o cunho pessoal que consegue incutir nos seus jogadores,
as suas equipas e na sua forma de jogar. E tudo o que não seja pensado e
analisado dentro destes parâmetros estará a ser avaliado de forma errada.
Estará a ser avaliado dentro de uma gestão na qual não me baseio e da qual nem
sequer quero fazer parte. Os títulos são bons, mas o que valerá um título se no
futuro nenhum atleta conseguir chegar a profissional, ou sendo mais redutor,
não conseguir sequer se mostrar com um bom rendimento e manter-se a um nível
onde as diferenças já serão mínimas entre atletas?
Com este
último parágrafo remeto-me para o título deste texto: o B.I. Futebolístico.
Será que o ensinar e praticar um Futebol mais directo (pragmático, como dizem
os entendidos dos tempos modernos) ao longo da Formação é o mais correcto? E o
Futebol Apoiado? Para mim há que saber dosear o melhor interesse de todas as
partes, ou seja, há espaço para tudo. A lei do “desenrasca” é a que opera melhor
para mim! Essa lei provém do Futebol de Rua. Se tens de fazer uma tabela por
ser essa a melhor opção, então nem hesites. Se tens de ir no um para um, por
ser a solução encontrada no momento, então não hesites. Se o jogo está difícil
e tens de recorrer ao remate, uma e outra vez, como forma de resolver o jogo,
não penses duas vezes.
Com tudo isto,
penso que há que tentar jogar o melhor Futebol possível com a bola no chão
durante o maior tempo possível, mas ao mesmo tempo dar espaço ao atleta para
errar e aprender com isso. Há que dar espaço para o atleta perceber as Ideias
do Treinador e visualizar o terreno de jogo da melhor forma possível. Parece-me
então errado, como tantas vezes se vê na Formação, o típico chutão na frente ou
a célebre expressão “SOBE UNIÃOOO!” depois
de um “barrote” para a frente. Parece-me por demais errado procurar explorar um
atleta mais desenvolvido, passando o jogo a esticar na frente e procurar uma
falha para o “Obikwelu” da equipa resolver o jogo.
Em relação ao
B.I. Futebolístico, refiro-me directamente ao papel do Treinador na Formação do
atleta. É importante o Treinador ter o seu Modelo de Jogo bem definido e
fazê-lo passar ao atleta, obrigando-o a melhorar em função disso. A identidade
do atleta irá ficar formada, dentro desse Modelo de Jogo e dentro dessa visão,
com um estilo de jogo assente em Princípios de Jogo bem definidos e em que o
atleta melhorará com a excelência da aprendizagem dos princípios básicos para o
atleta. O que valerá saber uma penetração se depois a bola passa o tempo todo
no ar, ou se tem espaço para progredir com bola e o Treinador manda-lhe dois
gritos para chutar lá para a frente, de forma a não criar perigo para a sua equipa?
De que vale trabalhar para o chutão, se depois vamos olhar para a Formação do
atleta e não conseguimos retirar outro pensamento que não seja “este atleta vai
acabar a carreira dentro de pouco tempo”, pois claro? A função do Treinador é
trabalhar o atleta para gostar do desporto e da sua essência, para gostar da
bola de Futebol e torná-la sua amiga.
Tudo o que não
seja enquadrado dentro deste estilo, não é direccionado para mim. Prefiro
perder jogos na Formação e ver um atleta a desenvolver-se diariamente,
lembrando-o sempre dos erros que ainda comete, demonstrando-lhe o quão bom
poderá vir a ser no futuro, caso consiga corrigir esses pequenos detalhes.
Gosto de ver a identidade de um atleta com o meu cunho pessoal inserido, com
marcas daquele que é o meu trabalho. É bom saber que no futuro irei ver o miúdo
jogar e facilmente identificar as suas qualidades, pois de certeza que se irá
destacar. Jogar Futebol Apoiado é então o mais correto? Talvez não, mas é a
forma que gosto de ver o jogo e que destaco como estando mais perto de uma
aprendizagem mais completa dos miúdos. Os miúdos irão tratar a bola por “tu” e
saber cada momento dentro do jogo. A lei do “desenrasca” terá de operar, pois
claro.
Com isto tudo,
não digo que não gosto de ganhar jogos! Mas não é de todo o mais importante. Eu
gosto é de ver o B.I. Futebolístico de cada um a aumentar e de ser avaliado por
isso. Por fazer crescer pequenos jovens em grandes homens e grandes atletas ao
mesmo tempo!
Ricardo Carvalho
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