Como é realmente
treinar uma equipa de Futebol Feminino em Portugal? Como se seleccionam as jogadoras?
Como são os exercícios? Como é possível equipas equivalentes terem resultados
tão diferentes? Como é possível equipas que todos acham fracas andarem no topo
da classificação? Como é possível conseguir tantas vitorias? Como conseguem
marcar tantos golos?
A resposta é
simples, tudo é possível no universo feminino quando a jogadora quer. A Mulher
é bem mais lutadora, o seu espírito de sacrifício é fantástico, a força de
vontade pela conquista é interminável e a sua organização diária é metódica. A
Mulher está bem mais preparada para a adversidade, psicologicamente é mais
exigente e consegue alterar tudo em poucos minutos.
Treinar uma
equipa de Futebol Feminino em Portugal obriga-nos a ser muito mais que Treinadores.
Aliás, treinar a maioria das equipas que disputam os Campeonatos Nacionais torna-nos
“pais”, gestores, mentores, dirigentes e responsáveis pelo futuro das atletas. Independentemente
da forma de pensar, o respeito e consideração deve ser o máximo por quem assume
uma equipa de Futebol Feminino em Portugal.
Após a minha
experiência na Selecção Nacional Feminina AA em 2014, abracei o projecto Clube
Condeixa que consistia em formar uma equipa feminina para a época 2015/2016. Juntamente
com o Ricardo Freitas, o Ricardo Serrano, o Presidente Sérgio Fonseca e mais
tarde o Mauro Paula, demos forma e iniciámos o Clube Condeixa Feminino, sendo
que após a minha saída, o José Sobral iniciou o seu trajecto em Janeiro de 2016
e deu continuidade realizando um campeonato fantástico.
Em 2016 o
convite do Presidente Luís Gil, da União Recreativa de Cadima, era um desafio
enorme com várias condicionantes, mas com o mesmo objetivo da época anterior:
formar uma equipa para 2016/2017 que fizesse um campeonato tranquilo a nível nacional,
ainda que com objectivos a nível distrital.
Partindo do
princípio que treinar uma equipa de Futebol é levá-la o mais rapidamente
possível a realizar processos organizacionais, defensivos e ofensivos, colocando
em prática as ideias do Treinador, deparei-me logo com a primeira grande
dificuldade: que treino se faz com jogadoras que nunca treinaram, competiram e
que não possuem qualquer tipo de formação? Aqui foi o grande choque. Depois da experiência
na Seleção Nacional Feminina chego ao Clube Condeixa onde existiam muitas
jogadoras, cheias de vontade, mas sem noções básicas de Futebol, com dificuldade
imensa a nível técnico e táctico. Adaptação e readaptação são o papel
principal. A compreensão, calma e paciência foram determinantes para realizar o
trabalho.
Escolher
jogadoras, analisar e perceber qual a posição a que melhor se adaptam consoante
as suas qualidades e limitações é o primeiro trabalho de uma Equipa Técnica. No
Clube Condeixa foi fácil, conseguimos praticamente duas jogadoras por posição,
a pré-época durou dois meses até ao primeiro jogo oficial e tudo foi realizado
com tempo. O contrário aconteceu esta época, na URC, com apenas três semanas de
trabalho, uma média de 8 jogadoras por treino e três vezes por semana até ao
primeiro jogo oficial, que curiosamente foi em Condeixa para o Campeonato
Distrital.
No que diz
respeito ao trabalho realizado semanalmente, os exercícios visam sempre três
componentes: a Técnica, a Física e os Princípios de Jogo. Para mim é a segunda
maior dificuldade em treinar uma equipa feminina que tem tanto para trabalhar e
uma disparidade enorme de capacidade e qualidade entre atletas. Limitar e optar
por determinados exercícios onde a equipa possa crescer e realizar rapidamente
os Princípios de Jogo que queremos em detrimento, por vezes, de trabalho básico
e fundamental.
Julgo que uma
das grandes diferenças entre equipas está ligada ao parágrafo anterior. Esta
época jogámos já com inúmeras equipas que tem Princípios de Jogo muito bons,
são organizadas, tem qualidade técnica, são lutadoras, mas quebram em
determinadas alturas do jogo, principalmente nos últimos 15 minutos de cada
parte. Penso que a questão estará na disponibilidade e entrega das atletas no
treino e nos Princípios que optamos por trabalhar, intensidade versus qualidade
técnica e organizacional. Escolher o exercício para conseguir tocar todos os
pontos importantes para a vitoria é fundamental.
Um dos
comentários que mais ouço acerca de algumas equipas e com o qual fico
incomodado, vindo de jogadoras, público, dirigentes e até Treinadores, é “como
é possível aquela equipa tão fraca ir nos lugares de topo”. Para mim a resposta
é simples – o querer, a união, a vontade, o sacrífico e a determinação de uma
Mulher, ultrapassam obstáculos, indo para além da especificidade do treino. E
no Futebol Feminino isso é determinante.
As vitórias
alimentam um grupo e fortalecem a união, por isso os objectivos também devem
ser redefinidos ao longo do campeonato, porque se em Setembro de 2016 afirmasse
que o objectivo era ir à segunda fase, provavelmente estaria a criar expectativas
impossíveis de realizar, tendo em conta o contexto de rendimento inicial, tanto
em qualidade como disponibilidade de atletas. Obviamente que ao fim destes
meses todos os objectivos passam claramente por ir à Segunda Fase.
Os golos
trazem vitórias e isso só é possível quando conseguimos transmitir e realizar
as nossas ideias no relvado. O caminho para ter sucesso no Futebol Feminino
obriga a muitas mudanças, algumas pouco ortodoxas e inseridas sempre no contexto
da realidade de cada equipa. O trabalho que fiz na época passada foi adaptado
para o contexto deste ano, o trabalho programado e que está a ser realizado
durante o treino é muitas vezes alterado para conseguir o mínimo possível de perdas
e uma maior qualidade e intensidade.
Realizar 22
jogos e pintar o relvado com 19 vitórias, 2 empates, 128 golos marcados e 8
sofridos só está ao alcance de uma equipa que usa Batom Cor de Relva.
Para mim e para
a minha equipa técnica, Sara, Freitas e Miguel, a adaptação e readaptação são o
papel principal em cada treino e isso torna o nosso trabalho único e exigente.
Obrigado.
Filipe Silva
1 Comentários
Muito bom! Uma equipa só será uma equipa de excelência se crescer e aprender em colectivo, cada elemento será o elo de ligação e terá se sentir a importância deste facto.
ResponderEliminarAbraço
Valter Santos