“Nos seus momentos de
maior sofrimento, no campo de concentração, entregava-me à memória da minha
mulher – que estava grávida e, tal como eu, condenada a Auschwitz. Conversava
com ela, evocava a sua imagem, e assim me mantinha vivo. Quando finalmente fui
libertado, no fim da guerra, a minha mulher estava morta, tal como os meus pais
e irmão. No entanto, alimentava-me de outro sonho enquanto estava preso, e,
este sim, viria a realizar-se: projetava-me no futuro, via-me a falar perante
um público imaginário, e a explicar o meu método para enfrentar o maior dos
horrores e sobreviver.” - Viktor E. Frankl
“Só vou dia 11 para
Portugal e serei recebido em festa” – Todos nós sabemos o que aconteceu depois.
“Chegámos ao balneário, primeiro treino da
pré-época, e todos fomos surpreendidos com a quantidade de televisores que
mostravam imagens do Benfica a festejar o título...e o Mister Villas-Boas disse-nos:
Estes vamos ser nós! Encontramos nesse momento o nosso sentido enquanto equipa”
“O Mister Vítor Pereira,
estávamos nós a 5 pontos de um Benfica na altura muito forte, praticamente
imparável, já ninguém acreditava, mas ele todos os dias nos dizia: Vamos ser
campeões!! E todos nós sentíamos essas palavras, sentíamos a convicção dessas
mesmas palavras, e o que é certo é que todos acreditámos, e fomos campeões”.
“O Mister Villas-Boas
disse-nos no decorrer da época que íamos ganhar a Liga dos Campeões, e
ganhámos!” – recordo esta época, na qual o Chelsea se encontrava numa posição
desfavorável no campeonato e que mesmo o trajeto na Liga do Campeões não era tão
bom quanto isso, o treinador acabou mesmo por ser despedido, mas a equipa foi
Campeã Europeia, fez praticamente o impossível.
São estas frases fortes,
este passar de mensagem carismática, que tanta vez transformou equipas em
equipas campeãs...equipas de campeões...
A pergunta é: onde estes
treinadores foram buscar tamanho descaramento? Como conseguiram assumir realidades
futuras que no presente eram tidas por todos como ridículas? Como encontraram
estas convicções? O certo é que as assumiram como loucos! Os seus acreditaram e
por isso levaram tudo à frente...
A resposta passa por um
conceito: Treinador Reflexivo!
Esta capacidade de
idealizar realidades longínquas, é consumada através da experiência de reflexão
sobre os dilemas da vida, referido como conversação reflexiva.
Agora...será que foi uma
previsão? Ou foi essa mobilização de sentido, essa logoterapia, que tornou
possível que essa realidade acontecesse?
Schon deixa claro: “Os
indivíduos prestam mais atenção à informação que tem significado pessoal para
eles e quando a atenção operativa é grande, o que significa que a aprendizagem,
quando é situada (problema concreto, emergente de cenários reais de treino/
competição) com um envolvimento pessoal intensificado, promove a focalização
nos problemas e consequentemente, a sua resolução.”
“Vamos ser campeões” – José Mourinho
(2002/2003). É este “ver-se num futuro” e fazer com que todos os elementos da
equipa se vejam nesse mesmo futuro...é este encontrar de sentido para o futuro
que dá sentido ao presente, sentido à sua existência enquanto atletas, enquanto
grupos e enquanto homens.
Concluindo,
“o treinador é, em primeiro lugar, um poeta”. Como tal, deve possuir uma
sensibilidade artística no desenvolver da sua actividade. Deve revelar um
talento artístico profissional, um lidar com situações práticas únicas,
incertas e conflituosas, em consonância com índices empáticos e de inteligência
emocional especialmente elevados, no todo de uma liderança profícua. Encontra um sentido comum e ganha as
pessoas!
Referências
Schon, D. (1983). The reflexive practitioner. New York:
Basic Books.
Shon, D. (1987). Educating
the reflexive pratitioner. San Francisco: Jossey-Bass.
Filipe Silva
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