“Na 1ª parte o
F.C.Porto foi melhor porque o Palhinha não levou o guião certo para poder se
enquadrar com aquilo que estava a acontecer no jogo, perdeu-se durante a
primeira meia hora e isso foi fatal para nós em termos tácticos. “Foi desta
forma simples e directa que Jorge Jesus analisou um dos factores que, no seu
entender, ajudam a explicar a derrota da sua equipa no clássico do passado
sábado, no Estádio do Dragão.
Olhando
para esta sua reflexão, a primeira pergunta que me apraz fazer é: quem decidiu
escolher Palhinha para o onze inicial? O Treinador Principal. Cabe ao Treinador
Principal (através de um processo mais autocrático ou mais democrático) a
decisão de escolher e definir as estratégias e os jogadores capazes de levar a
cabo aquilo a que muitos chamam de “Plano de Jogo”.
Agora
que sabemos quem decide quais os jogadores que iniciam a partida, surge-me uma
nova questão: se o jogador levou um “guião” diferente, o problema reside na
informação presente no “guião” ou na forma como a informação presente nesse
mesmo “guião” foi transmitida ao jogador? Ou seja, o problema está na forma
como a informação foi organizada ou na maneira como a informação foi veiculada
para o jogador?
Estamos, portanto,
a falar de um problema de Comunicação. O emissor não conseguiu fazer chegar a
informação de forma simples, concisa e explícita de modo a que o receptor
pudesse agir em conformidade e pudesse desempenhar plena e satisfatoriamente as
suas funções. Chegamos então à minha terceira indagação: quem é o responsável
pela transmissão de informação aos jogadores? Parece-me claro…
Tudo isto,
partindo do princípio que o problema não está no receptor, pois também
poder-se-ia dar o caso de o receptor não ter percebido ou assimilado bem a
informação que lhe fora transmitida… Mas, e nesse caso, um Treinador Principal
experiente, capaz de ensinar coisas a um avançado maduro (Bas Dost) que ele
julgava não ser possível aprender, conseguiria “ler” essa falha no receptor da sua
informação (Palhinha) e não optaria nunca por ele…
Ao fim de
todas estas perguntas, e sendo certo que muitas mais poderiam ser feitas, eis
que chegamos ao ponto fundamental deste artigo. O Futebol hoje em dia é muito
mais do que um desporto colectivo. É muito mais do que um desporto científico,
como muitos ainda teimam em querer fazer crer. O Futebol hoje em dia é, e antes
de tudo, uma Ciência Humana, como diria, e bem, o Professor Manuel Sérgio.
Porque estamos a lidar com Homens…
Imaginem agora
como se sentirá Palhinha ao ler e ouvir as declarações do seu Treinador. Já não
bastava ter sido dispensado por ele no início da época, já não bastava ter
regressado por imposição do clube após os falhanços Petrovic, Bruno Paulista,
Elias e Meli (por exemplo), já não bastava ter perdido um jogo tão importante,
já não bastava a sua própria consciência a pesar-lhe por não ter sido tão bom
quanto certamente desejara… e o seu Treinador critica-o publicamente poucos
minutos após o jogo.
Que líder é
este que “racha” um jogador seu em directo e em exclusivo após um mau
resultado? Que líder é este que, em vez de assumir as suas responsabilidades,
prefere apontar o dedo a todos os que o rodeiam e com ele interagem? Que líder
é este que critica a actuação de um jogador seu, mas prefere elogiar uma defesa
do guardião adversário?
Não existe
adeus ao título que justifique o que aconteceu a Palhinha. Não existe mau
passe, mau corte ou autogolo nenhum no Mundo que justifiquem comentários como
aqueles que um Treinador Principal teceu hoje…
Um líder deve dar sempre o exemplo aos seus
liderados. E no meu entender, esse exemplo tem de se fazer sentir
essencialmente na forma como um líder defende o seu grupo. Porque é nos
momentos menos bons que um líder tem de saber chegar-se à frente e dizer: “Eu
estou aqui. Eu assumo. Eu sou o responsável”. É nos momentos menos bons que
vemos a força, o carácter e a coragem de quem lidera.
Laurindo Filho
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