Gostava de me dirigir a vocês treinadores e despertar a vossa
atenção para o alcance dos jogos reduzidos (JRs). Esse alcance vai além do
técnico-tático, por isso quero deixar claro que apresentam um potente impacto físico/fisiológico
nos vossos atletas. Estou aqui a retirar a complexidade do jogo para fazer ver
aos mais desconfiados que não precisam mais de os pôr a “rolar” à volta do
campo, que o jogo no treino, como fenómeno holístico, vai desenvolver todas
essas componentes que tanto vos preocupam meus caros...Sim!! A componente
física está lá incluída!!
O Futebol requer saltos, remates, contactos, mudanças de direcção,
dribles, sprints, controlo de bola sob pressão, correr a diferentes
velocidades…É, portanto, e em jeito de vos clarificar, um desporto de base
aeróbia com componentes anaeróbias (Koklu et al., 2011). Caracteriza-se como um
desporto intermitente que provoca altas exigências dos sistemas aeróbio e
anaeróbio com uma média e pico da taxa de frequência cardíaca máxima (FCmáx)
por volta de 85 e 98% respetivamente (Brandes et al., 2012).
Para vos situar, os JRs alcançam intensidades de 90-95% da FCmáx, o
que é proposto para aumentar a capacidade de resistência específica do Futebol,
desenvolver músculos específicos do jogo, aumentar habilidades técnicas e
táticas nas condições específicas do jogo e assume uma transferência efectiva
para o jogo formal (Brandes et al., 2012).
A realidade é que a maioria dos treinadores têm usado percursos de
corrida sem bola para desenvolver a capacidade aeróbia associada ao contexto de
resistência. Para quê, “minha gente”? Deixem ser o Futebol a desenvolvê-los no
seu todo, é isso que os apaixona...é jogar Futebol!!!
É um facto que os JRs são geralmente usados no Futebol para melhorar
a interação entre os jogadores, com o foco nas habilidades técnicas e táticas,
porque permitem mais tempo com bola sob as condições aproximadas do jogo formal
(Brandes et al., 2012). Contudo, e quero destacar isto, solicitam simultaneamente as componentes tácticas, técnicas e físicas
do jogo.
Agora vamos pôr-nos para aqui a inventar jogos JRs à balda? É manifestamente
claro que existem constrangimentos que alteram o impacto provocado pelos JRs...
Que dimensões do campo do campo utilizamos? Número de jogadores? As regras do
jogo (1 toque...livre)? A duração (é a moda do “está cansado termina-se o jogo”)?
Espaço por jogador? É igual quando existe o incentivo do treinador e quando
não? Todos estes fatores têm impacto.
Vamos analisar apenas três tipos de JRs: 1X1, 2x2, 3x3, com índice
de espaço por jogador idêntico, nos quais apenas variamos o número de jogadores
em oposição e os efeitos dessa alteração são evidentes.
Desta análise retiramos algumas ilações. Os Treinadores de Futebol
devem preferir o jogo de 1x1 se pretendem melhorar a tolerância lática (Koklu
et al., 2011). O 2x2 quando pretendem altas cargas que levam a uma maior
exigência da fonte energética anaeróbia, dado a acumulação mais pronunciada de
lactato sanguíneo (Brandes et al., 2012). E por fim o formato JR 3x3 para o
desenvolvimento da capacidade aeróbia, uma fez que permanece no domínio de
atividade predominantemente aeróbio e os jogadores passam aproximadamente 70%
da duração do jogo a > 90% da FCmáx (Brandes et al, 2012).
Finalmente, todos estes elementos podem ajudar a planificação da
época e os aspetos multifuncionais de sessões de treino específicas.
Qualquer Treinador de Futebol tem de estar alerta para todos estes
factores, e aí sim, podem preferir uns formatos de jogo em relação a outros,
dependendo dos objetivos físicos/fisiológicos a atingir – se a prioridade é a
melhoria da capacidade aeróbia/ ou a melhoria da capacidade anaeróbia, toda
esta tomada de decisão deve estar inerente ao principal objetivo da sessão de treino
(Brandes et al., 2012; Dellal et al., 2011; Koklu et al., 2011; Koklu et al.,
2013).
Referências
1 Brandes,
M., Heitmann, A., & Müller, L. (2012). Physical
responses of different small-sided game formats in elite youth soccer players. The
Journal of Strength & Conditioning Research, 26(5), 1353-1360.
2 Dellal, A., Jannault, R.,
Lopez-Segovia, M., & Pialoux, V. (2011). Influence of the numbers of
players in the heart rate responses of youth soccer players within 2 vs. 2, 3
vs. 3 and 4 vs. 4 small-sided games. Journal of human kinetics, 28,
107-114.
3 Köklü, Y., Albayrak, M.,
Keysan, H., Alemdaroğlu, U., & Dellal, A. (2013). Improvement of the
physical conditioning of young soccer players by playing small-sided games on
different pitch size-special reference to physiological responses. Kinesiology,
45(1), 41-47
4 Köklü, Y., Asçi, A., Koçak, F.
Ü., Alemdaroglu, U., & Dündar, U. (2011). Comparison of the physiological
responses to different small-sided games in elite young soccer players. The Journal of Strength &
Conditioning Research, 25(6), 1522-1528.
Filipe Silva
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