A
dada altura da adolescência do ser humano, e motivados pela inocência do ser-se
criança, não compreendendo que certas acções têm consequências que em nada nos
beneficiarão, todos temos uma avó que nos repreende dizendo: “Estás a
pedi-las”. Todas as crianças deviam ter uma avó destas.
São
precisamente estas palavras que me vêm ao pensamento quando procuro decifrar a
gestão do plantel do Sporting Clube de Portugal na actual temporada, levada a
cabo pelo seu timoneiro Jorge Jesus. Como
de um jogo de xadrez se tratasse, Jesus já sacrificou peças como Markovic,
André Filipe, Castaignos e Alan Ruiz, dando-lhes a titularidade e remetendo-os
para a bancada no jogo seguinte, caso a prestação individual destes fosse
insatisfatória. Importa lembrar que os dois primeiros já nem se encontram em
Alvalade.
Esta gestão em nada tem contribuído para o bom
desempenho do clube. A falta de rotinas criada no que diz respeito ao “segundo
avançado“ tem condicionado sobremaneira a qualidade do jogo ofensivo do
Sporting. E todos sabemos o quão importante é o “segundo avançado” na estratégia
de Jorge Jesus: é ele o responsável por, entrelinhas, definir o último passe ou
o passe de ruptura criador do desequilíbrio defensivo; é sobre ele que recai a
responsabilidade de temporizar o jogo ofensivo leonino no último terço do
terreno (atentem ao trabalho de Alan Ruiz no primeiro golo de Bas Dost frente
ao Paços de Ferreira, em Alvalade); cabe-lhe a ele ser um dos homens com
presença obrigatória em zonas de finalização. Para além de não criar as rotinas
desejadas (note-se que esta gestão foi também feita na posição de
lateral-esquerdo com Marvin Zeegelar, Bruno César e Jefferson), esta
“rotatividade” criou uma pressão anímica extra sobre quem assumia a
titularidade para a obrigatoriedade de rendimento a pronto. Ficarão para sempre
as seguintes questões: Os jogadores não tinham realmente qualidade? Ou não
levavam o guião certo? Como diria qualquer avó minimamente atenta, Jesus estava
a pedi-las.
Outra questão
que considero pertinente analisar é a utilização de Matheus Pereira no Dragão.
Contexto: Sporting a sete pontos do primeiro classificado e a seis pontos do
segundo posto, o adversário do passado sábado, o Futebol Clube do Porto. Os
leões tinham de ganhar para se manterem na luta pelo título. Bem sabemos que as
análises pós-jogo são, de certa forma, injustas, mas igualmente obrigatórias. A
utilização de um atleta jovem, com apenas um minuto na presente edição da Liga,
num dos palcos mais exigentes do Futebol Português deixou todos os adeptos do
futebol surpresos. Pela necessidade de ter de vencer e por relegar Alan Ruiz
para o banco, ele que parece estar agora a ganhar as tais rotinas para assumir
o papel de “segundo avançado“.
Ainda assim,
levo a minha linha de raciocínio, não para a plausibilidade da utilização de
Matheus Pereira, mas para a questão da protecção do treinador. O Treinador é um
homem só, que vive dos resultados e tem para cada decisão que toma, um julgamento
imediato dos adeptos. Para o bem e para o mal, bem entendido. Dado o difícil
contexto de época considerei a opção Matheus Pereira como sendo uma aposta de
altíssimo risco, tendo em conta que Jorge Jesus segue o “manual da auto-proteção”
perante os adeptos do seu clube. Jorge Jesus pode ter utilizado Matheus Pereira
porque as suas ideias para aquele jogo o cativaram a tal. Mas, no futebol,
“invenções” em jogos capitais trazem críticas extra em caso de insucesso. E
dado o constante discurso de culpabilização de terceiros pelos maus resultados
(árbitros, juventude da equipa, o não estar no banco, falta de estofo da equipa
para certas andanças) admira-me a opção por Matheus Pereira. Contudo, sobre
este assunto, escreverei mais elaboradamente num futuro próximo.
Numa época já
penosa para o Sporting e os sportinguistas, volto a lembrar-me das sábias
palavras da minha avó… Jesus estava a pedi-las.
Pedro Cardoso
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