Ao longo da
existência do desporto-rei têm sido várias as tentativas de encontrar uma
correta definição da profissão de Treinador. De tudo o que já foi escrito nas mais
variadas plataformas, a variável que pode parecer a mais lógica e fácil de
indicar é precisamente aquela que assume maior importância, ou seja, o Treinador
tem de saber ensinar.
Ontem eras Jogador
(amador ou profissional) e um apaixonado pelo mundo do Futebol, mas será que
isso fará de ti um Treinador de excelência? Foste um jogador internacional e
com um certo número de internacionalizações e como tal és capaz de liderar uma
equipa, mas…e o Processo de Treino…será que o dominas? Foste um avançado de
referência dentro do panorama nacional, mas será que dominas o terreno de jogo
para conseguires evoluir um jogador de outra posição e elevar o patamar tanto
do atleta como da equipa? Será que o ex-jogador está automaticamente programado
para comandar um plantel e conduzi-los às vitórias?
Será admissível
em campeonatos profissionais, como temos no nosso país, ter “Treinadores” a
dirigir equipas profissionais sem ter o conhecimento necessário adquirido? Para
mim não. Como em todas as profissões, uma empresa que não tenha um bom líder e
que esteja creditado para isso, sabendo no que está a trabalhar, com certeza
terá um fim trágico. Que sentido fará para um grupo de trabalho saber que está
a “beber” conhecimento de um trabalhador que não é devidamente qualificado?
Em 2013, Nicolau Vaqueiro rebentava uma bomba na formação
de Treinadores: alguns Treinadores passavam directamente para o nível IV sem
sequer concluírem o nível anterior. É certo e sabido que qualquer aspirante a Treinador
tem como sonho chegar a profissional e ter o maior sucesso possível, mas a via
facilitada nunca será a desse caminho. O mundo do Futebol é complexo e único,
contudo é aqui que se vê o caminho que se prefere trilhar, permitindo-se
algumas facilidades a alguns por serem ex-jogadores. Será o mais correcto?
Carlos Pinto (Ex-Treinador Paços de
Ferreira)
São vários os
casos de ex-atletas que prontamente assumem equipas seniores. Certamente que
uns se sentem mais formatados para Futebol Sénior e que não têm como objetivo
trabalhar na Formação com jovens atletas, mas então onde terão o espaço para
errar e aprender com os próprios erros? Onde estará o espaço necessário para a
evolução do Treinador?
Carlos Pinto é
apenas um exemplo de Treinadores que acabaram a carreira e prontamente seguiram
como Treinadores seniores. Mas será justo para quem anda a formar-se durante
anos, seguindo todas as etapas necessárias para sonhar em chegar a um nível
profissional, ver um ex-jogador acabar a carreira e passar a treinador sem ter
os “créditos” necessários para poder ocupar a função? Um ex-jogador além de poder
não estar preparado, não tem a necessária formação para o papel que vai
desempenhar. Carlos Pinto tinha apenas o nível II de Treinador quando assumiu
funções, esta época, no Paços de Ferreira Futebol Clube, não estando habilitado
a exercer o cargo de Treinador Principal, pois o curso não lhe confere tal
estatuto a nível nacional. Sendo que é fácil falar depois de acontecer, a
verdade é que o Treinador tem tido várias peripécias ao longo desta ainda curta
carreira, passando por vários clubes sem o sucesso que lhe era exigido. Terá
isto alguma ligação com o que reflicto neste texto? Como opinião pessoal, tenho
a certeza que sim.
Paulo Bento
(Ex-Seleccionador Nacional)
Remontando a um
tempo ainda mais longínquo, em 2006, Paulo Bento enquanto Treinador da equipa
principal do Sporting Clube de Portugal, frequentava o nível III e tinha algumas
limitações dentro do seu Planeamento de Treino graças a isso. O treinador não
podia faltar e tinha de comparecer às aulas do curso, sendo que às segundas-feiras
teria de dar folga aos atletas ou deixar o treino a cargo de um seu adjunto.
Será que tudo isto não influenciava também o rendimento desportivo?
Dizia Paulo
Bento que “depois de ter os níveis todos
necessários para poder treinar, continuarei a aprender com os jogadores que
irei lidar, como aprendo com quem lidero e continuarei lendo e aprendendo.”. Não
existe um caminho correcto a seguir, existem sim, e devem ser cumpridas, certas
etapas até se estar preparado e possibilitado a assumir uma equipa sénior. Existe
sim, um caminho facilitador e que acaba por proteger o “novo” Treinador,
dando-lhe o espaço necessário ao erro e a uma aprendizagem contínua e de
evolução.
Ricardo Carvalho
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