“Mãe, vou dar uns toques na bola com a malta”, “Mãe, vou para a rua
brincar”, “Mãe, vou para o prédio de A, B ou C mandar uns remates”...Quem não
se lembra disto? Pois bem, longe vão os tempos em que era gigante a vontade de
ver terminado o dia de escola. Tudo para poder chegar rapidamente a casa e
ainda ter tempo de ter contacto com a amiga de todos: a redondinha. Nunca
tínhamos uma desculpa formulada para faltar à “chamada” e conseguíamos conviver
e ter sempre todo o tempo ocupado até à hora em que a mãe nos vinha chamar à
rua, pois já estava demasiado escuro e amanhã seria dia de aulas. Quem não se
recorda?
Hoje em dia tudo mudou. Sabemos que todos os miúdos gostam das novas
tecnologias e que a realidade virtual irá mudar ainda mais, mas há certos
sentimentos que as tecnologias não transmitem. Hoje em dia a escola acaba e os
nossos jovens já não sabem o que é a alegria de desejarem ir para a casa ter
rapidamente com os amigos, pois durante todo o dia são iluminados por
telemóveis, redes sociais e afins. Hoje os nossos jovens preferem a solidão de
4 paredes e de um rosto num ecrã ao desafio do que pode vir a ser uma aventura
na rua.
Mas será tudo culpa deles? O papel do formador onde se
incluem os Pais, o Treinador da equipa, o Professor de Educação Física… Será
que fazem tudo o que podiam e deviam para retirar essa ideia da cabeça dos miúdos?
Tenho a certeza que não.
Começando pelos Pais. Alguns querem que o filho seja o
Ronaldo da equipa e exercem uma pressão tão exigente e excessiva que os miúdos
acabam por contrair egos que no futuro lhes dará uma tristeza maior do que a necessária.
Irão crescer como todos os outros e perceber na ilusão em que viveram, sem a
necessária diversão durante todo o seu tempo de infância e sem perceber o que é
o trabalho e o espírito de equipa, consumidos pelo “eu”. Outros querem que os
filhos sejam o protótipo daquilo que um dia poderiam ter sido e não foram,
encaminhando-os em excesso pelo caminho do estudo, “obrigando-os” a desistir do
sonho, algo que não deve ser retirado a ninguém. Hoje em dia os miúdos deixaram
de sonhar em ser profissionais de futebol, pois sabendo da extrema dificuldade
em chegar ao topo desistem demasiado cedo. Alguns já nem sabem o que é lutar
para conquistar objectivos, pois acomodaram-se à ideia de que é impossível
chegar ao profissionalismo e sem o papel dos pais, que lhes deveriam dar o
suporte necessário, torna-se impossível carregar com toda a pressão exercida
por um sonho (sendo que nestas idades, a pressão é a dobrar).
Os Treinadores da equipa e os Professores de Educação
Física: Será que fazem tudo? Será que os jovens de hoje em dia são estimulados
para nos tempos livres praticarem e divertirem-se ao máximo com os seus
colegas? Será que um atleta que passa o dia a "levar na cabeça" para
estar concentrado na escola, um atleta que chega a casa e tem de se fechar para
estudar um pouco (ou isolar-se nas no mundo das tecnologias) irá ter interesse
em praticar desporto? E se esse mesmo atleta, para além disso, chega a um
treino/aula e ainda leva na cabeça constantemente ou é abordado por conteúdos
demasiado chatos para existir qualquer tipo de estímulo...será que ele quererá
continuar a praticar desporto? Ou irá optar por isolar-se no mundo dele, onde
não existe esse tipo de pressão? Parece-me óbvia a resposta. Não deveriam os
Treinadores/Professores ter esquemas e propostas para os desviar desse caminho?
A propósito das respostas para estas questões, irei
iniciar um novo “esquema” e dar exemplos como proposta para aliciar os atletas
a descobrirem o Futebol de Rua.
Ricardo Carvalho
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