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Diz-me como treinas e dir-te-ei o Treinador que és


Processo de Treino. Uma das expressões mais utilizadas actualmente no Futebol Moderno. Um meio para atingir um fim, no entender de muitos. Uma forma de ser e de estar no Futebol e muito mais do que um meio para atingir um fim, de acordo com alguns.
Todos os Treinadores, quando iniciam as suas carreiras, querem o mesmo. Todos ambicionam o mesmo. Ganhar. Alcançar a vitória. E muitos destes Treinadores sonham ainda com algo mais: o Profissionalismo. Treinar na I Liga Portuguesa, em La Liga, na Bundesliga, na Premier League ou no Calcio também passa a ser uma ambição. Vencer um desses campeonatos nacionais. Juntar ao campeonato uma competição europeia. E, se possível, um Mundial de Clubes.
São ambições legítimas. Eu próprio tenho as minhas ambições, os meus sonhos, o meu arranha-céus, como ouvi dizer a Nuno Delgado há poucos dias. Mas que tipo de Treinadores somos nós? Que caminhos queremos trilhar para chegar às vitórias que nos levarão ao patamar seguinte e ao patamar seguinte e ao patamar seguinte…até chegarmos ao topo?
Num Futebol cada vez mais competitivo, muitos Treinadores queixam-se da falta de oportunidades. Dizem constantemente que os círculos estão viciados, fechados e que só com uma grande “cunha” podem chegar ao topo. Aceite-se a argumentação. Sendo assim, têm de encontrar outros caminhos. Provavelmente mais longos, mais complexos e mais morosos. Mas são os caminhos que estão à sua disposição…
No entanto, e apesar das constantes queixas e dos constantes lamentos, facilmente podemos constatar a opção de muitos destes Treinadores. Aposta sistemática no futebol directo, “esticar na frente”, ganhar a segunda bola, defender bem cá atrás, procurar o contra-ataque, tentar aproveitar os esquemas tácticos (bolas paradas), evitar a sua posse de bola no corredor central, proibir o passe vertical (pelo chão) na passagem da Fase de Construção para a Fase de Criação e o guarda-redes a participar na construção do jogo ofensivo nem pensar…
Se o Processo de Treino que os leva a adoptar este género de Modelo de Jogo é válido? Claro que é. Todos os Processos de Treino são válidos. E todos procuram o mesmo – os três pontos. Mas se há Treinadores que se queixam da falta de qualidade do Futebol praticado, se há Treinadores que se queixam que as oportunidades estão cada vez mais escassas, se há Treinadores que se queixam de que todos fazem sempre o mesmo…Então porque também eles o fazem?


Há tantas respostas possíveis. Especialmente se olharmos para o panorama amador. Porque no Distrital não há organização e as equipas não deixam jogar. Porque os árbitros não protegem as equipas que querem jogar Futebol em vez de jogar à bola. Porque é menos arriscado jogar pelo ar do que jogar pelo chão. Porque os adeptos não gostam de ver a equipa chegar à linha de fundo e não cruzar, mesmo que só esteja um jogador nosso para seis jogadores adversários dentro da grande área. Porque o Presidente ou a Direcção quer é futebol directo. E podia continuar aqui a enunciar justificações que ouvimos todos os dias, um pouco por todo o País.
Imaginemos então o seguinte: Queremos chegar ao topo, certo? Em vez de mantermos as nossas ideias e trabalharmos de acordo com as nossas crenças (futebol apoiado, utilização dos três corredores, jogo inteligente, liberdade criativa), optamos por fazer mais do mesmo e ser igual aos outros (quanto mais robotizado, melhor…quanto menor liberdade criativa, menor o risco de perdemos a bola). Porque se os outros vencem assim e nós jogamos bem, mas não ganhamos, talvez seja melhor mudar para começar a ganhar. E eis que surgem as vitórias. Eis que vamos vencendo e vencendo e vencendo. E ao fim de algum tempo lá conseguimos subir de patamar. Uma e outra vez. E mais outra. Até ao dia em que chegamos ao Profissionalismo. E depois a um clube grande. Aqui ou no estrangeiro.
Em todo este percurso fomos fiéis ao Futebol que inicialmente não era do nosso agrado, mas que todos praticam. No entanto, aqui estamos nós, num clube grande. E agora? Vamos manter o que nos levou ao topo? Mas num clube grande as exigências são outras. Os jogadores estão habituados a pensar em grande, a ter bola, a querer dominar e controlar. Os adeptos querem qualidade de jogo e vitórias, pois nem sempre ganhar é o suficiente. Os patrocinadores querem estar associados a uma equipa que seja dominadora, pois a ideia deles passa por dominar o mercado em que actuam. Os Presidentes do Clube e da SAD querem o cenário ideal (e possível, ainda que difícil): adeptos, patrocinadores, jogadores, directores, todos satisfeitos…
Percebemos então que o que nos trouxe aqui não serve para o nosso contexto. Percebemos que esta realidade requer as Ideias e os Princípios que fizeram parte do nosso percurso inicial…mas que abandonamos porque quisemos ganhar mais rapidamente para chegar mais rapidamente ao topo. E agora que estamos no topo, após tantos anos de trabalho e dedicação…agora percebemos que perdemo-nos ao longo do caminho. Não por termos ganho menos jogos do que aqueles que queríamos, mas sim porque abdicámos da nossa essência para ganhar o maior número de jogos possível. Estamos no topo, mas o topo não nos assenta bem…

                                                                               Laurindo Filho

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