Há quem diga
que a Vida é feita de ciclos. De momentos mais ou menos vitoriosos. De períodos
de maior ou menor fulgor em termos de conquistas pessoais e/ou profissionais.
Todos nós já ouvimos essa expressão. Aliás, todos nós já vivenciámos isso…
No mundo do
Futebol esta expressão é mundialmente conhecida. Diria até que é universal. Tão
universal que de vez em quando essa mesma expressão acaba por ser aplicada, de
forma injusta, a alguns dos maiores génios que alguma vez fizeram parte da
História do desporto-rei. Como Josep Guardiola i Sala, mais conhecido como Pep
Guardiola.
Por estes dias
Guardiola é o alvo mais fácil de “abater” no mundo do Futebol. Por “abater”
entenda-se criticar essencialmente por duas razões: por tudo e por nada. Se a
sua equipa tem mais de 70% de Posse de Bola, critica-se a falta de
objectividade. Se a sua equipa tem menos de 50% de Posse de Bola, aponta-se uma
suposta mudança de Identidade. Se joga em 1x4x2x3x1, critica-se porque está a
ser mais defensivo do que o habitual e a desvirtuar o seu Modelo de Jogo. Se
adopta um 1x4x1x4x1, critica-se porque está a expor em demasia o seu sector
defensivo por ter apenas um médio com características mais defensivas. Se opta
pelo 1x3x4x3, critica-se porque é demasiado arriscado jogar apenas com 3
Defesas. Se sai a jogar desde trás, critica-se porque é um risco demasiado
elevado e porque pode perder a bola junto à sua baliza. Enfim, haja paciência…
Para quem já
se esqueceu, Pep Guardiola iniciou a sua carreira como Treinador em 2007, ao
serviço da Equipa B do Barcelona. Sagrou-se Campeão da III Divisão Espanhola
numa equipa que contava com Sérgio Busquets, Pedro Rodriguez e Thiago
Alcântara, por exemplo. Um ano depois, a 8 de Maio de 2008, foi nomeado
Treinador Principal da Equipa Principal do Barcelona. E logo choveram as
primeiras críticas: não tinha experiência, não iria saber lidar com as
“estrelas” do plantel, não iria saber lidar com a pesada herança de Rijkaard,
que havia ficado em 3º lugar na época anterior, a 18 pontos do campeão Real
Madrid.
E o que fez
Pep? Tornou-se apenas e só o “Treinador Estreante” mais titulado de sempre.
Como? “Limpou” o balneário, trouxe o pensamento “cruijffiano” novamente para
dentro do Barcelona, apostou em La Masia e aperfeiçoou os ensinamentos dos seus
mestres. Além disso provou que se a perfeição pudesse existir no Futebol, ela
seria aquilo que os nossos olhos testemunharam a cada jogo dos catalães entre
2008 e 2012. Quem não se lembra dos 5-0 ao Real Madrid de José Mourinho? Quem
não se lembra da Final da Liga dos Campeões frente ao Manchester United de Alex
Ferguson?
Venceu 17
títulos ao serviço do clube do seu coração. Proporcionou inúmeros e
maravilhosos espectáculos futebolísticos ao longo de quatro anos. Como diria
uma das pessoas que mais me tem ensinado sobre Futebol nos últimos tempos, “Guardiola
foi, durante este século e juntamente com um grupo de jogadores, responsável
pelas várias horas e meia de puro prazer da minha vida” (JB).
Depois de um período sabático que serviu para sarar as “feridas” de um ano de batalhas titânicas
com José Mourinho, Pep ingressa no Bayer Munich de Jupp Heynckes, uma máquina
trituradora de adversários que, em 2012/2013, alcançou o “triplete” que lhe
havia fugido um ano antes. Se a herança em Barcelona havia sido pesada,
imaginem então esta. Apesar da mudança de país e de campeonato, Guardiola foi
novamente alvo de desconfianças e críticas: Como iria ele fazer mais e melhor
do Heynckes? Iria tentar impor o seu Modelo de Jogo tão refinado e apoiado numa
equipa que adorava a vertigem do jogo, os contra-ataques, a objectividade? Como
iria ele comunicar num país cuja língua materna é tão diferente do catalão e do
castelhano?
A tudo isto
Pep respondeu como só ele sabe. Com genialidade. Começou por expressar-se em
alemão nas Conferências de Imprensa (tal como Mourinho havia feito quando se
mudou para Itália e para o Inter de Milão, apresentando-se em italiano). Não
impôs o seu Modelo de Jogo. Adoptou-o às características dos seus jogadores, da
sua nova realidade competitiva, do seu novo contexto. Mas adoptou-o de modo a
que continuasse a ser o seu Modelo de Jogo, com os traços e as características
indeléveis da sua maneira de ver e pensar o Futebol. Tornou-se o Treinador que
mais rapidamente venceu uma Bundesliga. Somou 7 títulos ao serviço dos bávaros,
mas pecou ao nunca vencer uma Liga dos Campeões. Pecou? Aos olhos de quem?
Seguiu-se
então o Manchester City. Guardiola em Inglaterra. Uau! O assunto mais falado e
badalado do Verão. Será que Don Pep irá conseguir impor a sua filosofia de jogo
no campeonato mais competitivo do Mundo?
A época 2016/2017
ainda não acabou, mas já todos percebemos que este primeiro ano em Terras de
Sua Majestade não tem sido fácil para o génio catalão. Por inúmeras razões.
Sendo que a primeira e principal razão é o próprio Pep. A sua constante
auto-avaliação e o seu constante questionamento acerca de si e do seu pensar
futebolístico tão depressa o ajudam a evoluir como o levam ao desespero e a uma
espécie de depressão. E a recente eliminação nos Oitavos-de-Final da Liga dos
Campeões veio agudizar ainda mais este estado depressivo.
Obviamente
que, desde então, o tom crítico sobre o trabalho de Guardiola ao serviço do
Manchester City aumentou. Uma vez mais existem apenas duas razões para o
criticarem: tudo e nada. Outra coisa não seria de esperar, claro está. Quanto
maior é o sucesso, maior é o número de críticos…
Mas os génios nunca
morrem. Por mais que a inveja das pessoas as incite a desejar a queda e o
perecimento dos génios, eles nunca morrem. Por mais prazer que os críticos
possam sentir a cada derrota e a cada queda de um génio, são essas mesmas
derrotas e quedas que o levam a ser mais e melhor já amanhã.
E Guardiola,
como reconhecido génio que é, provará a todos quantos o desejam ver cair que
ainda falta muito para o fim.
Laurindo Filho
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