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Todos queremos uma Formação sem "quintas"


Lembro-me como se fosse hoje do primeiro ensinamento que tive por parte do meu primeiro Coordenador da Formação. Dizia-me ele que um clube que quer trabalhar bem nos seus Escalões de Formação não pode ter “quintas”. Sejam elas promovidas pelos próprios Treinadores, por Directores, por Pais ou por outros Agentes Desportivos, um clube não se pode dar ao luxo de ter “quintas” na sua Formação.
Confesso que inicialmente não percebi logo o alcance das suas palavras, mas ao longo dessa minha primeira temporada como Treinador Principal de uma equipa Sub-19, bem como nos anos que se seguiram a trabalhar na Formação, comecei a entender a sua mensagem. E hoje, passados seis anos, devo admitir que o meu Coordenador de então não poderia estar mais correcto acerca deste seu pensamento e desta sua forma de estar.
Para quem não percebeu ainda o que são estas “quintas”, deixo-vos aquela que é a minha actual definição para este fenómeno sociológico do Futebol de Formação: as “quintas” mais não são do que a extensão da personalidade egoísta de quem as promove, sendo o retracto fiel e fidedigno da incapacidade de ser ver mais além e de trabalhar em conjunto para que determinados objectivos possam ser atingidos a médio/longo prazo.
Cada vez mais, e numa altura em que a aposta na Formação assume-se como a principal forma de sustentabilidade dos clubes (sejam eles Amadores ou Profissionais), torna-se imperial saber trabalhar em conjunto, de forma coordenada e organizada. Mas estaríamos a mentir se disséssemos que este trabalho conjunto, coordenado e organizado é uma realidade passível de ser encontrada em todos os clubes de Norte a Sul do País. Principalmente se estivermos a falar de clubes amadores.


Quantos de nós não conhecemos casos em que o Treinador dos Sub-17 tenta dificultar a vida ao Treinador dos Sub-19, procurando ao máximo evitar a cedência de jogadores, mesmo quando não há razões que justifiquem esse egoísmo? Quantos de nós não conhecemos casos de Directores e/ou de Pais que não gostam de ver o Jogador A a ser promovido ao escalão superior porque preferiam que essa promoção fosse para o seu filho, sobrinho, afilhado?
Quantos de nós não conhecemos casos de jogadores que foram impedidos de “subir de escalão” porque outros Pais poderiam pensar que o Jogador X, por estar a competir agora num patamar em que não se paga mensalidade, deixaria de pagar a mensalidade respectiva do seu escalão de Formação inicial? Quantos de nós não conhecemos casos de Directores que, tendo preferências em relação a determinado Treinador ou a determinado escalão de Formação, dificultam ao máximo a vida do Treinador que necessita do Jogador Y ou a vida do Coordenador para o Futebol, que idealizou um projecto em que se pretende precisamente potenciar e valorizar os atletas mais aptos e competentes através dessas “promoções”?


Olhando para o meu percurso como Treinador Principal, e agora como Coordenador para o Futebol, posso dizer-vos que já vi e vivi de tudo um pouco. Já trabalhei com Treinadores que estiveram sempre dispostos a ajudar-me, cedendo jogadores sem o mínimo de problemas e mostrando-se satisfeitos por perceberem que isso também valorizava o seu trabalho (para além de ser o correcto e o desejado quando se trabalha de forma conjunta, coordenada e organizada). Já trabalhei com Directores que preferiram gastar dinheiro na inscrição de novos atletas de qualidade duvidosa em vez de apostar na promoção de jogadores do escalão anterior àquele em que eu estava a trabalhar. Já trabalhei com Pais que só aprovavam este trabalho coordenado se os jogadores visados fossem os seus filhos…
Mas também, e mais recentemente, tenho tido a sorte de poder estar a coordenar e de poder estar a tentar levar a cabo aquilo que aprendi com o meu primeiro coordenador. Por isso mesmo temos tido um Guarda-Redes Sub-16 a jogar nos Sub-19. Por isso mesmo já temos um Sub-19 a trabalhar a tempo inteiro com os Seniores, sendo que a sua permanência nos Seniores é já um dado adquirido. Por isso mesmo há cerca de uma semana tivemos quatro (4) jogadores sub-19 na ficha de jogo dos Seniores, sendo que o autor do golo da vitória é ainda um Sub-18.
Apesar da actual conjuntura favorável em que pareço estar inserido, tenho a plena consciência de que, no Futebol, tudo é muito volátil e de que as coisas podem mudar muito facilmente de um momento para o outro. Basta que os egos individuais se sobreponham aos interesses colectivos. Basta que uma ou duas pessoas não percebam a importância de um trabalho conjunto, coordenado e organizado.
É por isso que estas “quintas” continuam a existir. Um pouco por todo o lado. Mas cabe-nos a nós, essencialmente a nós Treinadores, trabalhar para mudar este paradigma, trabalhar para criar um novo paradigma. Sabendo sempre que será uma tarefa hercúlea. Sabendo sempre que haverá quem se oponha, quem não tenha visão e quem não queira que as coisas evoluam.
Mas todos queremos uma Formação sem “quintas”, certo? É o sonho de todos os Treinadores. Especialmente dos Treinadores de Formação. Então está mais do que na hora de percebermos que só nós podemos acabar com estas “quintas”. Nós e mais ninguém…

                                                                          Laurindo Filho


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8 Comentários

  1. Fantástico Texto Amigo, infelizmente sempre muito actual,mas tem o poder de nos dar a possibilidade de podermos refletir sobre o que é melhor para o nosso Futebol. Obrigado pela partilha. Forte abraço

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    1. Obrigado pelo comentário, Sr. Américo Nogueira. Continue a acompanhar-nos. Cumprimentos e votos de um excelente fim-de-semana

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  2. sabes o que dizes aconteceu contigo mas quem manda pode mesmo mandando mal.

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    1. Obrigado pelo comentário, Sr. Carlos Rosa. É um facto e é uma realidade passível de ser encontrada em muitos clubes. Há que trabalhar para tentar que as coisas mudem. Cumprimentos e votos de um excelente fim-de-semana

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  3. A formação desportiva dos nossos jovens é um tema que me agrada especialmente, pelo que normalmente sigo com atenção este tipo de páginas...umas com as quais me identifico mais outras menos...Confesso que foi com entusiasmo que abri este texto na expectativa de recolher algum contributo positivo...mas infelizmente, pouco ou nada acrescenta ao "senso-comum" e à realidade já por todos os agentes vivida; Agora o que mais me desilude é quando o autor do texto afirma que "Já trabalhei com Directores que preferiram gastar dinheiro na inscrição de novos atletas de qualidade duvidosa"...Como adepto eu posso achar que A ou B tem qualidade duvidosa, um treinador/coordenador ao fazer este tipo de afirmações, não estará ele mesmo a fomentar as "quintas" dentro da sua cabeça? Não estará a segregar os seus atletas em função da suas qualidade "inicial"; Não cabe ao treinador melhorar e potenciar ao máximo as qualidade de qualquer atleta, seja um "CR7", seja um "atleta de qualidade duvidosa"; Será expectável que qualquer atleta que apareça p/a treinar nos escalões de formação seja um "talento", principalmente e nos muito visados "clubes amadores" nos quais os dirigentes servem essas associações dispondo do seu tempo e dinheiro sem qualquer benefício??? Honestamente não gostei...lamento.

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    1. Boa tarde, Sr. Armindo Portela. Antes de mais, agradeço o seu comentário e o facto de ter lido o texto.

      Este texto teve como principal intuito o alertar para uma situação que todos conhecem, mas sobre o qual poucos falam. Pelas mais variadíssimas razões, mas poucas pessoas querem falar destas "quintas". E esse intuito foi alcançado pelo número de feedbacks gerado e que nos foi chegando, quer através do próprio blog, quer através do Facebook, quer ainda através do contacto pessoal.

      Todo o Treinador sabe o contexto em que está inserido e as reais necessidades da equipa que orienta. Razão pela qual todo o Treinador sabe precisamente aquilo que precisa e que tipo de jogadores gostaria de ter à sua disposição para poder fazer um upgrade competitivo da sua equipa.

      A situação a que me refiro enquadra-se precisamente neste contexto. Havia a possibilidade de fazer "subir" um sub-17 aos sub-19, sendo que os sub-19 estavam a lutar por uma possível subida aos Nacionais e o referido jogador sub-17 tinha todo o potencial que necessitávamos para ser ainda melhores. E essa pretensão não era por ser um talento, mas sim por ter as características necessárias para que o nosso Modelo de Jogo fosse ainda mais bem executado. Características que mais ninguém tinha naquele plantel de sub-19. Não permitiram que o atleta sub-17 "subisse" e a contratação efectuada, apesar de ter qualidade, não conseguiu impor-se. Resultado: só melhorámos quando o atleta sub-17 "subiu" aos sub-19 e foi graças a isso que conquistámos um troféu no final dessa temporada (embora não tivéssemos subido).

      Uma vez mais importa referir que toda a situação tem o seu contexto e apenas quem o vive tem acesso a todos os dados e a todas as variáveis. Razão pela qual o facto de o seu comentário indicar uma possível criação de "quintas" na cabeça do Treinador é completamente inverosímil.

      Percebo a sua leitura tendo em conta que não esteve envolvido neste contexto que aqui trago, mas sobre isso nada posso fazer. E percebo que esse mesmo facto (desconhecimento do contexto aqui trazido) pode levar a que os leitores tenham exactamente o mesmo tipo de leitura que o Sr. Armindo Portela teve. Mas isso será sempre um risco a correr quando expomos as nossas opiniões e as nossas experiências num espaço tão público como a Internet.

      Por último, não há nada a lamentar e o facto de não ter gostado do texto é um direito que lhe assiste, que compreendo e respeito totalmente.

      Continue a acompanhar-nos.

      Cumprimentos e votos de um excelente fim-de-semana.

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  4. Boa tarde,

    Depois de ler o seu comentário que retrata um tema que por vezes não concensual nas organizações principalmente amadoras. Eu no clube que pertenço costumo dizer que não podemos olhar para as hortas mas sim para a quinta toda. Que adianta ter uma horta bonita e produtiva se deixar de haver água ou trabalhadores na quinta. Abraço

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    1. Boa noite.

      De facto, não podemos olhar apenas para um "pedaço de terreno" no que diz respeito à Formação. Há que olhar, perceber, entender, assimilar e trabalhar para que tudo possa estar em conformidade. Todos os "terrenos" são importantes, pois todos devem trabalhar em prol do mesmo.

      Obrigado pelo comentário.

      Continue a acompanhar-nos.

      Cumprimentos e votos de um excelente fim-de-semana.

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