A forma como te entregas ao treino tem sempre impacto
na forma como jogas. Nada de novo. Mas como conseguir no Futebol Feminino
qualidade de treino? Intensidade? Uma equipa compacta? Motivação? Princípios?
Conhecimento? Parece fácil para quem entende o treino ou trabalha ao mais alto
nível, mas não o é, para quem forma uma equipa feminina, na maioria das vezes
imatura e inexperiente.
Defendo os exercícios com bola e a integração de todas
as jogadoras no treino, o que significa que para conseguir realizar treinos com
qualidade aceitável, que forneçam capacidade física, técnica e orientação
táctica, sou/estou obrigado a uma ginástica mental imensa, mas, principalmente,
muita comunicação assertiva.
Imaginem que para realizar um treino têm apenas 16
jogadoras e estas são juvenis, juniores e seniores!!! Parece impossível, mas é
exactamente esta a real situação que a maioria dos clubes em Portugal vive.
Criar, montar, explicar e aplicar exercícios é muito fácil, aliás, é o básico.
Difícil é conseguir manter um nível de treino com todo o plantel nesses
exercícios, sem que se notem as lacunas, desconcentrações e a desmotivação das
diferentes atletas em diferentes estágios de maturação.
Para ser Treinador de Futebol Feminino é obrigatório
saber responder de forma particular à jogadora e posteriormente conseguir
encaixar o assunto individual no grupo sem beliscar negativamente o sentimento
emocional. Por exemplo, como conseguir explicar ao grupo a importância de
ajudar uma colega que ataca bem, mas é muito imatura a defender e tacticamente
inexperiente? Julgo que o segredo está na participação do grupo, só conseguimos
sucesso se tivermos uma equipa unida, focada nos mesmos objectivos e, em grupo,
ultrapassar lacunas e fazer face às enormes carências.
Uma das questões que mantem um número elevado de
jogadoras a treinar, sendo que para mim esse número elevado são no mínimo 18
atletas, está na forma de explicar, ser honesto, frontal e demonstrar a
importância de ter entrega e compromisso para com o treino. Saber explicar a
importância da intensidade da atleta no exercício, mesmo que esta não jogue, é
crucial para o sucesso da equipa. Ouvir desabafos do tipo, “eu treino, mas não
jogo” ou “eu venho a todos os treinos, mas ela é que joga” deve ser bem
explicado pelo treinador de forma clara. Por vezes o “Estás a trabalhar bem”
não chega. É importante expor e demonstrar que apesar de a equipa estar a
funcionar com as jogadoras que têm jogado, existem questões que colocam em
risco o sucesso da equipa se essa atleta jogar, e, se existe algo que as
mulheres gostam, é opinião sincera e a demonstração plausível de uma opinião.
Como a maioria das atletas não entende que o
importante para a equipa pode não ser o que a atleta julga ser o melhor para
si, isso faz com que a força de vontade seja fundamental para evoluir, sendo
que o segredo está dentro de cada jogadora. A compreensão e superação constante
no treino e a percepção do “para que serve esse tipo de treino” é primordial.
Se juntarmos à força de vontade ao entendimento do jogo, se existir uma leitura
correcta da competição e dos treinos, se a atleta compreender o porquê de não
estar a jogar naquele momento, se apoiar quem falha, teremos, seguramente, uma
jogadora de equipa.
Quem tem força de vontade para ser melhor, para lutar,
para tentar fazer mais e entender que a equipa está primeiro do que a
individualidade, terá sucesso garantido.
Quem tem uma
equipa unida em treino tem uma equipa perto do sucesso em jogo.
Filipe Silva
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