Reflexões
sobre a vertente qualitativa, técnica e táctica do jovem atleta praticante de
Futebol. É disso que se trata este artigo. Nele abordarei vários conceitos que
considero inerentes ao Futebol de Formação e darei a minha opinião em relação a
alguns dos tópicos que considero de extrema relevância para uma progressão
natural do praticante.
Desde logo,
importa referir que ao longo dos anos passam pelas mãos do Treinador de Formação
jovens com as mais variadas características e com mais variadas metas dentro do
Futebol. Uns têm maior ou menor aptidão futebolística, outros têm objectivos mais
vincados, muitos possuem um interesse meramente lúdico, outros tantos procuram
no Futebol uma forma de desenvolvimento psico-social e há sempre quem olhe para
o Futebol apenas e só como mais um desporto que lhe permitirá alcançar uma boa
forma física. Ou seja, podem existir vários objectivos dentro de um só
contexto, numa só Escola de formação, ao alcance de um só Treinador.
Também do
ponto de vista do atleta, temos aqueles que chegam aos 4/5 anos a uma
Escola/Clube de Formação, aqueles que apenas chegam aos 10 anos ou até aqueles
que apenas iniciam a prática desportiva no Futebol 11. Isto significa que podemos
muito bem chegar a um escalão de Benjamins e ter atletas com cinco anos de
experiência e outros a dar os primeiros passos na modalidade, por exemplo.
Contextos diferentes levam a abordagens diferentes, necessidades muito
distintas de preferência que vão ao encontro do atleta altamente competente e
do “ iniciante”.
Como Treinador
de escalões de Formação tenho um “vício”: ao ter o primeiro contacto com um
atleta observo-o e tento instantaneamente identificar como o posso ajudar na aquisição
contínua de competências futebolísticas. É instantâneo, como se se tratasse de
um click. Naquele momento não me dá para mais nada. Nada me dá mais gozo do que
ver um jovem atleta exibir no campo capacidades que não possuía antes. Essa é a
melhor e maior vitória do Treinador de Formação. Ainda assim, como não sou
possuidor de todas as verdades, questiono-me várias vezes sobre a possibilidade
de agrupar um atleta novato, que não tenha uma relação natural com a bola, a um
atleta altamente competente, mesmo que tenham a mesma idade…Muito dificilmente conseguirão
convencer-me que sim.
De referir
que, do ponto de vista do quadro competitivo, este agrupamento é irrefutável.
Mas foquemo-nos no Treino, já que o tempo útil de trabalho semanal acaba por
ser substancialmente maior que o tempo de competição. Caso o Treino não seja de
índole técnica (trabalho dos skills inerentes ao Futebol) este atleta menos
dotado estará muitas vezes alienado do treino. E digo alienado porque não tem
capacidade para intervir qualitativamente no treino. Alienado porque os
próprios colegas têm dificuldade em encarar aquele membro como uma mais-valia
na busca do resultado positivo, logo como um membro do grupo, podendo vê-lo
mesmo como um obstáculo. Promover uma coesão grupal torna-se um problema.
Garantir qualidade de treino aos mais competentes torna-se um problema.
Garantir bases e iniciação ao principiante torna-se um problema.
Defendo e
defenderei sempre um ajuste de exigência ao nível de competência do atleta. Só
inserido num ambiente que proporcione uma evolução qualitativa o jovem atleta
poderá ter ganhos. Serei louco ao ponto de afirmar que um atleta de dez anos
que não tenha qualquer relação com a bola (atentar à problemática Futebol de
Rua) deve trabalhar com um de cinco anos. Não está o treino do menino de cinco
anos formatado para a aprendizagem e aperfeiçoamento da sua relação com a bola?
Não é isto que o outro atleta que dei como exemplo precisa, do ponto de vista
formativo, para a aquisição de competências?
Remato o artigo,
com a sensação de que muito ficou por dizer, pois apenas dei uma achega em
relação a algo que me deixa incrédulo. Pediríamos a uma criança para conhecer
os múltiplos de 5, sem lhe ensinar a contar? Pediríamos que escrevesse uma
carta ao Pai Natal sem lhe ensinar a escrever primeiro o seu próprio nome?
Então porque queimamos etapas constantemente em relação ao praticante de
Futebol?
Mark Spitz,
nadador olímpico norte-americano, proferiu as seguintes palavras: “se você
fracassa na preparação, estará preparado para falhar”.
Pedro Cardoso
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