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Ano Sabático na Carreira do Treinador


O Ano Sabático é um conceito cada vez mais comum nos dias de hoje. O conceito de ano sabático é baseado num tradicional costume judaico, conhecido por sabá (shabat, em hebraico), que diz respeito ao descanso.
Na Antiguidade, de sete em sete anos celebrava-se o ano sabático, um período de repouso para as pessoas e para a terra, durante o qual não se podia semear nem colher. Este período de interrupção das actividades pressupunha uma melhoria na produtividade. Posteriormente essa ideia alargou-se a outras áreas da sociedade, sendo as universidades americanas pioneiras (Séc. XIX), ao atribuírem o nome de licença sabática ao período de tempo concedido aos catedráticos para que estes estivessem algum tempo afastados das suas actividades profissionais, de modo a efectuarem uma “reciclagem académica” ou à investigação.
Actualmente em alguns países o conceito de “ano sabático” é comum também no meio empresarial. Algumas empresas têm vindo a aperceber-se das vantagens que um período de afastamento da rotina profissional pode trazer para a produtividade dos seus colaboradores. Também para os mais jovens, que terminam os seus estudos, mas que não sabem ainda o que fazer, o ano (ou período) sabático é uma prática muito incentivada e vista como uma oportunidade de crescimento e enriquecimento pessoal.
São vários os motivos que levam as pessoas a procurar estes períodos sabáticos: procura de motivação, satisfação de objectivos pessoais, procura de alternativas que possibilitem a execução de novas actividades, oportunidade para levar a cabo algum projecto particular ou vivenciar culturas, tudo isso contribuirá para desenvolver a sua personalidade e as suas capacidades de trabalho em diferentes áreas.
No que diz respeito ao Futebol, e apesar de alguns Treinadores também optarem por este caminho, o ano sabático nem sempre é unânime. Para alguns, o ano sabático nos Treinadores é visto como algo que surge na sequência da falta de trabalho ou então como uma simples vontade em não treinar qualquer equipa durante um ano. Porém, na grande generalidade dos casos (não sendo diferente da motivação de outras áreas) essa interrupção na actividade dos Treinadores pode acontecer tendo em vista uma melhoria da produtividade pessoal a vários níveis. Esse ano sabático poderá ser um ano sem treinar, mas no fundo, o objectivo passará por um ano de aquisição de conhecimentos, os quais serão certamente também importantes para o Futebol. Falamos da aprendizagem de novas línguas, a realização de novas Formações, Cursos, Projectos, etc., pois, parafraseando o Professor Manuel Sérgio, “Quem só sabe de futebol, não sabe nada de futebol”.
André Villas-Boas, antes de fazer o seu ano sabático, dizia: “Vou para Portugal, para junto da minha família e provavelmente não vou treinar nenhuma equipa durante um ano. Isso é uma decisão que tomei juntamente com a minha família e nada vai mudar isso", ou seja, dedicou um ano sabático à família. Assim, sendo a família um pilar importante para ele, isso poder-lhe-ia dar mais motivação e consequentemente mais rendimento pessoal no futuro.


No caso de Pep Guardiola, que também aderiu ao “ano sabático”, o foco nesse ano seria dedicar-se a aperfeiçoar o inglês e a estudar novas metodologias de treino. Enquanto isso, o seu principal objectivo era também descansar e recuperar forças depois das desgastantes épocas que passou ao serviço do Barcelona. A propósito desta opção do treinador catalão, José Mourinho chegou a afirmar que “para mim seria impensável um ano sabático. Só se não tiver clube e for obrigado. Fiquei surpreendido com a decisão, mas cada pessoa é uma pessoa, cada família uma família, só tenho de respeitar". 
Para o actual Seleccionador Brasileiro, o ano sabático fez dele um melhor Treinador. Em 2014 Tite fez um interregno na sua carreira, deixando de treinar o Corinthians nesse ano, de modo a poder melhorar a sua preparação, regressando aos alvinegros em 2015. Numa entrevista dada ao jornal Folha de S. Paulo, em Março de 2015, Tite dizia: “Estou mais seguro dos meus conhecimentos e muito mais preparado. Foi isso que quis buscar – evolução. Independentemente de onde viesse a trabalhar”. Os números falam por si e os resultados do Corinthians em 2015 foram impressionantes, acabando o campeonato brasileiro com 81 pontos (e apenas 5 derrotas) sagrando-se assim Campeão Brasileiro, algo que não acontecia desde 2011.
Também Ney Franco, um mediático Treinador brasileiro, com passagens por grandes clubes e pelos Escalões de Formação da Selecção Brasileira, resolveu afastar-se dos campos e tirar um ano sabático em 2016. “É preciso estudar, voltar ao meu habitat para crescer (…) Já fui aceite por uma universidade na Flórida. Lá vou ficar os seis primeiros meses do ano. No segundo semestre, penso em ir para a Europa fazer o curso da UEFA. Tenho convite de algumas federações. Não está nos meus planos treinar em 2016”, afirmou Ney Franco numa entrevista ao SuperEsportes.
O último caso, amplamente divulgado pela Comunicação Social, diz respeito a Louis Van Gaal, que depois de ter saído do Manchester United, admitiu não voltar a treinar: "Só disse que talvez me possa retirar, mas ainda não sei, ainda não é o momento para o assumir". No entanto, depois disso, assumiu que se tratava de um período sabático e admitiu ainda a possibilidade de voltar a treinar: “Não me vou retirar. Estou apenas a fazer um ano sabático. Depois disso decido.” Provavelmente, se não existir nenhum bom projeto, não voltará a treinar.
Por razões culturais e financeiras, por vezes, prefere-se aceitar algo menos bom e fora do caminho traçado por nós próprios, simplesmente para não ficar sem treinar. Porém, ficar sem treinar não significa estagnação, não significa não evoluir, depende de como cada um vai gerir esse seu ano sabático!
Não quero dizer com isto que todos os treinadores devam adoptar esse tipo de procedimento. Acho é que, tendo em vista que cada treinador quererá para si mesmo a melhor evolução, devem respeitar-se todas as opções. É necessário ter humildade, conhecer e aprender tudo aquilo que não se domina como Treinador. Ninguém sabe tudo, estamos sempre a aprender e a busca pelo conhecimento é algo que difere de Treinador para Treinador.


                                                                             Rui Gomes

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