Academia de Robôs

Como se de uma equipa de robôs se tratasse, alguns Treinadores das camadas mais jovens da Formação (sub-13, sub-11, sub-8), passam a semana a estruturar de forma analítica, e por vezes sem oposição, como a sua equipa deve defender e sobretudo como atacar. “E fazes assim”, “e vais ao primeiro poste e deixas a bola passar para o teu colega fazer golo”, “ não fintes, passa a bola!”… O miúdo que interioriza esta mensagem uma semana, um mês, um ano…o que saberá fazer além de cumprir ordens do Treinador? Estas “fábricas de robôs” terão sucesso a longo prazo?

Na minha opinião, nos escalões de base da Formação e depois de terem um nível básico de qualidades técnicas, os miúdos devem ser trabalhos desde cedo usando os Princípios do Jogo (fundamentais e específicos).

           No entanto, como se está a lidar com crianças, deveria ser utilizada uma linguagem mais facilitadora, em vez de os termos “penetração”, “contenção”, “cobertura”, etc… pois o atleta terá mais dificuldade em entender o que o Treinador pretende, quer seja em contexto de treino, quer seja no feedback em dia de jogo.

Um planeamento baseado nos Princípios de Jogo será idealmente melhor do que elaborar sessões de treino em que, por exemplo, a bola chega aos pés da criança e mesmo tendo uma excelente possibilidade de progressão, fixar o defesa e (aí sim) fazer o passe é dito constantemente “PASSA!”, ficando o atleta entre 2 a 3 segundos com a bola nos pés antes de fazer um passe para qualquer lado… só para satisfazer a ordem do Mister!

 Por vezes a ansiedade de ganhar para satisfazer o Mister, os miúdos e os próprios Pais sobrepõe-se a um trabalho que deve ser feito de forma planeada e ajustada a cada escalão etário. Este tipo de “robotização” até poderá trazer resultados a curto prazo, pois os miúdos ao cumprirem algo que um Treinador está a ver fora do campo e sendo mais velho irá possivelmente ver de forma mais rápida do que miúdos de 12, 10, 8 anos… Mas e quando tiverem 15, 18, 20 anos? Vão estar à espera das indicações do Treinador a todo o instante? Aí basta levarem um guião semanal para dentro de campo?

Provavelmente os atletas quando chegarem a idades mais avançadas não irão pensar e executar com rapidez, pois estavam formatados (como um chip num robô), ou seja, habituados a que lhes indicassem o caminho. Os atletas já não irão arriscar no 1X1 (fintar), pois nunca o fizeram em idades mais baixas. Provavelmente não saberão progredir com a bola nem ter uma boa tomada de decisão, tal como também não saberão movimentar-se consoante o “centro de jogo”… isto tudo pois simplesmente não tiveram a Formação adequada.

Formatar é pensar no momento! Formatar é limitar! Formatar é fazer robôs a pensar no próximo jogo!

Formar é dar as bases e deixar o atleta descobrir! Formar é aprender com os erros! Formar é deixar que os miúdos usem o seu cérebro!

                                                                             Rui Gomes