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Heterogeneidade Competitiva na Formação


Na Formação, admitindo um contexto em que se depara com grande disparidade qualitativa ou em termos de idades no seu plantel, atendendo ao facto dos quadros competitivos ditarem competições através de um critério de idades (e não de níveis competitivos) e não tendo o Treinador margem de manobra para criar competições paralelas (não oficiais) que proporcionem experiências enriquecedoras aos atletas menos competentes, o Treinador depara-se com um problema recorrente nos diversos Escalões de Formação: Heterogeneidade Competitiva. E perante este cenário, o que fazer com ele? Abraçá-lo? Sim, forçosamente, mas até que ponto?
No artigo da passada Quinta-Feira, intitulado “Níveis Competitivos vs Idade do Praticante no Futebol de Formação“, escrevi que, caso uma sessão de treino não seja focada em aspectos técnicos, o atleta menos competente estará muitas vezes alienado do treino. Acrescentei ainda que garantir bases ao menos competentes, coesão grupal e qualidade de treino ao mais competente torna-se um grande problema. Um problema chamado Heterogeneidade Competitiva.
Não sendo possível contornar a Heterogeneidade, há estratégias que têm de ser criadas para trabalhar as diferentes necessidades dos diferentes níveis competitivos existentes na mesma equipa. A estratégia que vejo com melhores perspectivas, perante tal contexto, será separar o grupo de trabalho para aplicar trabalhos diferentes que provoquem estímulos diferentes e se traduzam em aprendizagens diferentes. A grande questão será a capacidade do Treinador em manter um grupo consigo após esta estratégia. A diferença entre um grupo coeso e um conjunto de jogadores que em termos sociais não terão nada a ganhar com o contexto. Desafiador para o treinador, sem dúvida.


Defendo, como Treinador de Formação, que o jovem atleta é mais inteligente e apercebe-se de muitas mais coisas do que por vezes pode parecer. Treinar tantas vezes à parte pode levar o atleta menos competente a entender que está a ser posto de parte, cabendo ao Treinador motivar esse atleta através de conversas constantes, consciencializando-o dos pequenos “degraus” que vai subindo. Proporcionar competição amigável ou oficial a este atleta representará nova vitória, ainda que esta seja outra situação a gerir com cuidado, pois há uma diferença entre o impacto de uma competição oficial no seio do grupo, juntamente com este atleta e a sua predisposição psicológica, e outro impacto (completamente diferente) quando se trata de uma competição não oficial. Aliada a esta questão está também a famosa relação Pais-Atleta-Treinador-Direcção/Coordenação. Garantir o interesse dos Pais, o do Treinador e o da Direcção neste contexto parece-me algo que carece de uma discussão prévia, de modo a que a opção por trabalhar o jovem atleta num contexto distinto do seu grupo de origem seja encarado por todos como natural.
Toda a Heterogeneidade Competitiva terá de ser evitada, à partida. Não sendo possível, terá de ser abraçada forçosamente. Ainda assim terá de ser abraçada perante uma análise prévia que determina que, apesar das exigências, há condições para potenciar qualidades, há condições para potenciar aprendizagens, pois, caso contrário, todo o processo de reestruturação dos plantéis na Formação deste clube terão de ser reformulados. A juntar a todo este contexto, entendo ainda que nem todos os Treinadores estão preparados para esta tarefa. Entendo também que, para um jovem Treinador de Formação, passar por uma situação como a supra-citada, pode não ser exactamente a mais interessante, mas poderá ser uma experiência bastante enriquecedora devido às diferentes necessidades de vários atletas e ter de moldar o seu trabalho de forma a dar uma resposta competente.

                                                                         Pedro Cardoso



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