Nos dias de
hoje cada vez mais cedo as crianças começam a praticar Futebol e daí advêm problemas
como a especialização precoce, caso o processo não seja bem conduzido e
acompanhado. Sou da opinião que as crianças, pelo menos até aos 10 anos, devem
experienciar várias modalidades (tanto individuais como colectivas) para a
construção de uma motricidade base. Esse vasto leque de experiências vai ser
muito benéfico e ter grande impacto no futuro da criança, seja qual for a modalidade
que a criança venha a escolher como principal (a criança, não os pais!). Ou
seja, dar oportunidade à criança de experimentar uma panóplia de actividades e,
quando chegar a altura certa, deixar a criança escolher em qual se sente
melhor.
No que toca
aos Guarda-Redes, no caso específico do Futebol, essa escolha também deve
existir! Essa não especialização precoce também deve existir! Num mundo
perfeito o processo deveria ter uma sequenciação lógica: experimentar/praticar
várias modalidades; dentro da mesma modalidade experimentar e jogar dentro das
várias posições (Guarda-Redes incluído!); escolher a modalidade principal e a especialização
dentro dessa modalidade (13-14 anos). Para que isso possa acontecer de forma
correcta o Treinador de Iniciação tem um papel activo, ao não querer que o atleta
conheça apenas uma posição e ao dar oportunidades ao atleta para experienciar
vários “papéis” dentro do jogo. Os Pais também são peça fundamental! Ser
Guarda-Redes é ser parte do jogo e, se o filho gostar da posição, não o deve
levar a modificar a sua motivação só porque “não faz golos” ou “não vai ser o
Messi ou o Cristiano Ronaldo!”.
O ídolo na
mente das crianças é extremamente importante! Em Portugal tem de haver mais
ídolos Guarda-Redes. Essa imagem pública tem de sofrer um “upgrade”. As
crianças que viram Rui Patrício na final do Euro 2016 como herói certamente sentir-se-ão
mais inspiradas a poder querer ser Guarda-Redes. E atenção, pois não é uma
posição nada fácil! Principalmente para uma criança, pelo erro associado ao
golo sofrido e pelo escrutínio que a criança poderá sofrer de fora e dos próprios
colegas de equipa. Volto aos Treinadores no que diz respeito ao importante
papel do acompanhamento das crianças e na motivação para a posição! Aviso à
navegação: sem o Guarda-Redes o jogo não se inicia! Portanto pensem bem na
importância desta posição.
Quero concluir
salientando algumas ideias principais:
- Não queiram formar Guarda-Redes
com 6 anos. Deixem a criança experimentar e ganhar-lhe o gosto! Tornem o treino
prazeroso para os Guarda-Redes (falo aqui principalmente no treino específico).
- Há que acreditar que a criança
com um repertório motor extenso facilmente se adaptará a qualquer posição e que
a aprendizagem, se for através do jogo (jogando várias posições), vai
proporcionar-lhe uma compreensão do jogo mais vasta (uma característica
essencial num futuro Guarda-Redes).
- Pais, antes de mais, incentivem
a prática desportiva, incentivem para que se crie um gosto pelo desporto e
pelos seus valores, dêem-lhes oportunidades de experienciar várias modalidades,
sempre incentivando.
Miguel Menezes
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