O Treinador
mais titulado da História do Futebol, o lendário Sir Alex Ferguson, tinha como
hábito convidar o Treinador da equipa adversária para apreciarem uma garrafa de
um bom vinho porque, segundo Ferguson, no final do jogo, Treinadores
adversários são colegas de profissão. Alex Ferguson era um gentleman.
O que abordo
neste artigo é a recorrente “Gentlemanização“ de Rui Vitória, quando está em
vantagem no marcador e mais concretamente nos jogos grandes. Apesar do bom
trabalho que está a desenvolver após pegar na herança de Jorge Jesus, e decorrendo
a segunda temporada no clube da Luz, estamos perante um Benfica de duas caras,
de duas Identidades: um Benfica demolidor, goleador e encantador nos jogos
teoricamente mais fáceis e um Benfica com um rácio negativo nos jogos
teoricamente difíceis. Entendo que o Benfica terá de corrigir esta postura
rapidamente se quiser manter a dimensão europeia que foi reconquistando ao
longo dos anos. Mas Vitória, tal como Ferguson, faz convites, embora
impróprios.
Transformando
o meu raciocínio em palavras, entendo que o Benfica altera a sua identidade, ao
preparar os jogos grandes preocupando-se em anular as mais-valias adversárias,
ao invés de procurar potenciar em jogo as qualidades do seu Modelo de Jogo.
Para ilustrar esta linha de pensamento, exponho três casos que me parecem cruciais
para uma análise sucinta:
Na visita à
Turquia, a 23 de Novembro, em jogo que acabou com um empate frente ao Besiktas,
o Benfica encontrava-se a ganhar 1x3 aos 75 minutos quando Rui Vitória lançou
Samaris em detrimento de Gonçalo Guedes. O jogo acabou 3x3, resultado
desfavorável perante a vantagem que tinha, ou seja, estratégia falhada e lá se
foi o pássaro. No Benfica x Sporting do passado dia 11 de Dezembro que acabou
com uma vitória por 2-1 para o Benfica, e aproveitando nova lesão de Salvio, Rui
Vitória lançou Danilo aos 55 minutos de jogo. Sporting em claro crescendo até
final do jogo, alcançando um golo e disputando o resultado até ao fim. Resultado
favorável, é certo, mas estratégia novamente falhada. Mais recentemente, no
encontro de Dortmund para a Liga dos Campeões, Rui Vitória lançou um meio-campo
com Samaris, André Almeida e Pizzi, deixando Mitroglou sem par na frente.
As ilações que
tiro perante estes dados são as seguintes: em primeiro lugar, a necessidade de
introduzir uma premissa que acho essencial ao clube português, que é a de que
todo e qualquer clube português que se qualifique para os Oitavos-de-Final da
Liga dos Campeões, no actual cenário, já tem o seu objectivo garantido. Como
segundo ponto, todo e qualquer clube português que se pretenda qualificar para
os Oitavos-de-Final da Liga dos Campeões não tem nada a perder, provavelmente
não partirá para a eliminatória como clube favorito…então porquê alterar o
Modelo de Jogo e a Identidade se o objectivo inicial é competir com esses
colossos do Futebol europeu?
Acrescento
ainda que compreendo que se altere devido ao poderio do adversário, mas
alterações calculadas e doseadas. Entendo que muitos Treinadores queiram
proteger o meio-campo defensivo, para anular o espaço de acção do adversário,
para controlar os equilíbrios defensivos, mas constantemente substituir um
criativo por um médio de contenção a tantos minutos dos finais dos jogos tem
duas consequências: passa uma imagem de conservação do jogo ofensivo da própria
equipa (tentativa de guardar o pássaro que se tem na mão) e permite um novo acreditar
ao adversário porque este sabe que pode arriscar perante o respeito do
adversário.
Assistimos àquilo
que chamo a “Gentlemanização” de Rui Vitória perante o Dortmund. Estando em
vantagem na eliminatória alterou a sua forma de jogar a 90 minutos do final do
jogo. Certamente que usou a sua semana de trabalho para preparar uma fuga à
Identidade da equipa e aí foi automaticamente eliminado. O jogo só serviu para
o confirmar.
Entendo haver
uma necessidade grande de procurar equiparar o clube português ao clube
favorito, senão seremos equipas fáceis de eliminar. Não entendo ser necessário
sequer discutir quem ficou de fora, ou se a utilização deveria ser de Zivkovic,
de Carrillo, de Rafa ou de Jonas em detrimento de André Almeida. Mas sei que o jogo
deveria ter sido preparado consoante as mais-valias do Benfica e não as mais-valias
do Dortmund.
Rui Vitória
convidou o Dortmund aos Quartos-de-Final. Lá se foi o pássaro na mão.
Passarinho!
Pedro Cardoso
0 Comentários